sábado, 31 de agosto de 2013

Percy jackson e os olimpianos




A saga de nosso herói já esta completa em nosso blog:

O ladrão de raios - parte 1

O ladrão de raios - parte 2

Mar de monstros - parte 1

Mar de monstros - parte 2

A maldição do titã

A batalha do labirinto.

O ultimo olimpiano

Obrigado por terem lido, e pelas 977 visualizações em 8 dias!
                                                                       
                                                                   

                                                   

O ultimo olimpiano - completo





                    O ultimo livro da saga de nosso herói Percy já esta em nosso blog.
Aqui estão os capítulos:

1.
Embarco em um cruzeiro explosivo
2.
Encontro alguns parentes peixes
3.
Dou uma espiada em minha morte
4.
Queimamos uma mortalha de metal
5.
Enfio minha cadela em uma arvore
6.
Meus biscoitos queiman
7.
minha professora de matematíca me da uma carona
8.
Tomo o pior banho da minha vida
9.
Duas cobras salvam minha vida
10.
Compro alguns amigos novos
11.
Derrubamos uma ponte
12.
Rachel faz um péssimo acordo
13.
Um titã me traz um presente
14.
Porcos voam
15.
Quiron da uma festa
16.
Recebemos ajuda de um dragão
17.
Sento me na cadeira quente
18.
Minha familia entra na luta
19.
Destruimos a cidade eterna
20.
Recebemos recompensas fabulosas
21.
Blacjac é sequestrado
22.
Sou despejado
23.
Dizemos adeus ou quase isto

 E aqui esta, espero que tenham gostado do novo jeito com qual organizamos os livros.

                                                   


O ultimo olimpiano - capitulo 23





                                  Dizemos adeus, ou quase isso

O período no acampamento se estendeu naquele verão. Durou mais duas semanas, exatamente no começo do novo ano letivo, e eu tenho que admitir que foram as melhores duas semanas da minha vida.
É claro, Annabeth me mataria se eu dissesse algo diferente, mas também tinha um bocado de outras coisas legais acontecendo. Grover tinha assumido o controle dos sátiros buscadores e estava mandando eles pelo mundo para encontrar meio-sangues não reivindicados.
Até agora, os deuses tinham mantido a promessa. Novos semideuses estavam pipocando em todos os lugares – não só nos Estados Unidos, mas em vários outros países também.
– Nós mal conseguimos acompanhar – Grover admitiu numa tarde enquanto estávamos no intervalo perto do lago. – Vamos precisar de um maior orçamento de viagens, e eu poderia usar mais uma centena de sátiros.
– É, mas os sátiros que você tem estão trabalhando duro – eu disse. – Acho que eles estão com medo de você.
Grover enrubesceu.
– Isso é bobagem. Eu não sou assustador.
– Você é um Senhor da Natureza, cara. O escolhido de Pã. Um membro do Conselho do...
– Para com isso! – Protestou Grover. – Você é tão mau quanto Juníper. Eu acho que ela quer que eu concorra à presidência depois disso.
Ele mastigou uma lata de alumínio enquanto nós olhávamos por cima do lago para a fileira de novos chalés em construção. O formato de U brevemente seria um círculo completo, e os semideuses tinham realmente pegado a nova tarefa com prazer.
Nico tinha alguns construtores mortos-vivos trabalhando no chalé de Hades. Ainda que ele fosse a única criança lá, estava ficando bem legal: paredes sólidas de obsidiana com uma caveira acima da porta e tochas que ardiam com fogo verde vinte e quatro horas por dia. Ao lado dele estavam os chalés de Íris, Nêmesis, Hécate e diversos outros que eu não reconhecia. A cada dia acrescentavam um novo ao projeto. Estavam indo tão bem que Annabeth e Quíron estavam falando sobre incluir uma ala inteiramente nova de chalés para que houvesse espaço suficiente.
O chalé de Hermes estava bem menos lotado agora, porque muitas das crianças não reivindicadas tinham recebido sinais de seus pais divinos. Acontecia quase toda noite, e toda noite mais semideuses cruzavam as fronteiras da propriedade com guias sátiros, geralmente perseguidos por alguns monstros nojentos, mas quase todos eles conseguiram entrar.
– Vai ser muito diferente no próximo verão – eu disse. – Quíron espera que nós tenhamos o dobro de campistas.
– É – concordou Grover – mas ainda vai ser o mesmo velho lugar.
Ele suspirou contente.
Eu observei Tyson liderar um grupo de ciclopes construtores. Eles estavam içando enormes rochas para o chalé de Hécate, e eu sabia que era um trabalho delicado. Cada pedra estava gravada com uma escrita mágica, e se eles deixassem uma delas cair, ou iria explodir ou transformar todos no raio de meio quilômetro em árvores. Achei que ninguém além de Grover iria gostar disso.
– Eu viajarei bastante – avisou Grover – protegendo a natureza e encontrando meio-sangues. Eu não devo ver você tanto assim.
– Não vai mudar nada – eu disse. – Você ainda é meu melhor amigo.
Ele sorriu.
– Tirando Annabeth.
– Isso é diferente.
– É – ele concordou. – Com certeza.


No fim da tarde, eu estava dando uma última caminhada ao longo da praia quando uma voz familiar disse:
– Bom dia para pescar.
Meu pai, Poseidon, estava parado na rebentação com a água batendo em seus joelhos, vestindo sua típica bermuda, boné surrado, e uma camisa havaiana rosa e verde. Ele tinha uma vara para pescar no alto mar em suas mãos e lançou a linha muito longe – tipo lá no meio do Estreito de Long Island.
– Ei, pai – eu disse. – O que traz você aqui?
Ele piscou.
– Nunca consigo falar em particular com você no Olimpo. Queria lhe agradecer.
– Agradecer a mim? Você veio para o resgate.
– Sim, e tive meu palácio destruído no processo, mas você sabe, palácios podem ser reconstruídos. Eu recebi tantos cartões de agradecimento dos outros deuses. Até Ares escreveu um, ainda que eu ache que Hera o forçou. É meio gratificante. Então, obrigado. Suponho que até os deuses podem aprender uns novos truques.
O mar começou a ferver ao final da frase do meu pai, e uma enorme serpente marinha verde emergiu da água. Ela se debatia e lutava, mas Poseidon apenas suspirou. Segurando sua vara de pescar com uma mão, ele sacou sua faca e cortou a linha. O monstro afundou abaixo da superfície.
– Não é um tamanho bom para comer – ele reclamou. – Eu tenho que soltar esses pequenos ou os guarda-caças vão ficar atrás de mim.
– Pequenos?
Ele sorriu.
– Você está se saindo bem com esses novos chalés, a propósito. Suponho que isso signifique que tenho que reivindicar todos os meus outros filhos e filhas e mandar alguns irmãos para você no próximo verão.
– Há-há.
Poseidon enrolou de volta sua linha vazia.
Eu joguei o peso para o outro pé.
– Hum, você estava brincando, certo?
Poseidon me deu uma de suas piscadelas, e eu ainda não sabia se ele tinha falado sério ou não.
– Vejo você em breve, Percy. E lembre quais são os peixes grandes o bastante para fisgar, hein?
Com isso ele se dissolveu em brisa marinha, deixando uma vara de pescar deitada na areia.


Aquela noite seria a última no acampamento – a cerimônia das contas. O chalé de Hefesto tinha feito o desenho da conta desse ano. Mostrava o Empire State Building, e gravado em minúsculas letras gregas, espiralando em torno da imagem, estavam os nomes de todos os heróis que tinham morrido defendendo o Olimpo. Eram nomes demais, mas eu estava orgulhoso de usar a conta. Eu a botei no meu colar do acampamento – quatro contas agora. Me senti como um veterano. Pensei sobre a primeira fogueira do acampamento que eu tinha comparecido, de volta quando tinha doze anos, e o quanto eu me senti tão em casa. Isso pelo menos não tinha mudado.
– Nunca se esqueçam desse verão! – Quíron falou para nós. Ele tinha se recuperado notavelmente bem, mas ele ainda trotava na frente da fogueira mancando levemente. – Nós descobrimos bravura e amizade neste verão. Nós defendemos a honra do acampamento.
Ele sorriu para mim, e todos aplaudiram. Enquanto eu olhava para a fogueira, eu vi uma garotinha de vestido marrom cuidando das chamas. Ela piscou para mim com brilhantes olhos vermelhos. Ninguém parecia notá-la, mas percebi que talvez ela preferisse assim.
– E agora – Quíron disse – cedo para cama! Lembrem-se, vocês devem desocupar seus chalés até amanhã ao meio-dia a menos que tenham combinado de passar o ano conosco. As harpias da limpeza vão comer qualquer atrasadinho, e eu odiaria terminar o verão com um incidente desses!


Na manhã seguinte, Annabeth e eu estávamos no topo da Colina Meio-Sangue. Nós observamos os trens e vans se afastando, levando a maioria dos campistas de volta para o mundo real. Poucos veteranos estavam ficando para trás, e alguns dos novatos, mas eu estava indo de volta para o Colégio Goode para o segundo ano – a primeira vez na minha vida que eu estaria cursando dois anos na mesma escola.
– Tchau – Rachel disse para nós enquanto botava a sacola no ombro.
Ela parecia bem nervosa, mas estava mantendo a promessa com seu pai e indo para a Academia Clarion em New Hampshire. Somente no próximo verão teríamos o nosso Oráculo de volta.
– Você vai se sair bem – Annabeth abraçou ela.
Engraçado, agora elas pareciam se dar bem.
Rachel mordeu os lábios.
– Espero que você esteja certa. Estou um pouco preocupada. E se alguém me perguntar o que vai cair no próximo teste de matemática e eu começar a despejar uma profecia no meio da aula de geometria? O teorema de Pitágoras deve ser a segunda questão... Deuses, isso seria vergonhoso.
Annabeth riu, e para meu alívio, isso fez Rachel sorrir.
– Bem – ela disse – vocês dois se comportem.
Vai entender, mas ela olhou para mim como se eu como se eu fosse algum tipo de delinquente. Antes que eu pudesse protestar, Rachel se despediu e correu colina abaixo para pegar sua carona.
Annabeth, graças a Deus, iria permanecer em Nova York. Ele obteve permissão de seus pais para frequentar um internato na cidade de forma que ela pudesse ficar perto do Olimpo e supervisionar os trabalhos da reconstrução.
– E perto de mim? – eu perguntei.
– Bem, alguém está ficando muito convencido.
Mas ela entrelaçou seus dedos entre os meus. Lembrei do que ela tinha me dito em Nova York, sobre construir algo permanente, e eu pensei que... talvez... estivéssemos a caminho de um bom começo.
O dragão de guarda Peleu se enroscou contente em volta do pinheiro debaixo do Velocino de Ouro e começou a roncar, soprando vapor a cada respiração.
– Você esteve pensando sobre a profecia de Rachel? – perguntei para Annabeth.
Ela franziu a sobrancelha.
– Como você sabia?
– Porque eu conheço você.
Ele me bateu com o ombro.
– Ok, eu pensei. Sete meio-sangues responderão ao chamado. Imagino quem serão eles. Nós vamos ter tantas caras novas no próximo verão.
– Sim – eu concordei. – E toda aquela coisa sobre o mundo acabar em tempestade ou fogo.
Ela mordeu os lábios.
– E inimigos nas Portas da Morte. Eu não sei, Percy, mas não gosto disso. Pensei que... bem, talvez nós tivéssemos um pouco de paz em troca.
– Não seria o Acampamento Meio-Sangue se fosse pacífico – eu disse.
– Acho que você tem razão... Ou talvez a profecia não aconteça por anos.
– Poderia ser um problema para outra geração de semideuses – eu concordei. – Então podemos chutar tudo pro alto e aproveitar.
Ela assentiu, ainda que continuasse parecendo inquieta. Eu não a culpava, mas era difícil se sentir chateado num dia agradável, com ela ao meu lado, sabendo que eu não estava realmente dizendo adeus. Nós tínhamos um bocado de tempo.
– Uma corrida até a estrada? – eu disse.
– Você vai perder feio.
Ela Colina Meio-Sangue abaixo e eu corri atrás dela.
Pela primeira vez, eu não olhei para trás.

O ultimo olimpiano - capitulo 22





                                                    Sou despejado

Ninguém rouba o meu pégaso. Nem mesmo Rachel. Eu não sabia se estava mais zangado, surpreso ou preocupado.

– O que ela estava pensando? – Annabeth disse enquanto corríamos para o rio. Infelizmente, eu tinha uma boa ideia da resposta, e isso me apavorou.

O trânsito estava horrível. As pessoas foram para as ruas observar os danos de guerra. As sirenes da polícia soavam em todos os quarteirões. Não havia possibilidade de pegar um táxi, e os pégasos já tinham partido. Eu me conformaria com alguns Pôneis de Festa, mas eles desapareceram junto com a maior parte da root beer do centro da cidade. Então corremos, atravessando uma multidão de mortais confusos que se aglomeravam nas calçadas.

– Ela não vai conseguir atravessar as defesas – Annabeth disse. – Peleu vai comê-la.

Eu não tinha pensado nisso. A névoa não enganaria Rachel como a maioria das pessoas. Ela seria capaz de encontrar o acampamento sem problemas, mas eu tinha esperança que as fronteiras mágicas a manteria fora como um campo de força. Não me ocorreu que Peleu poderia atacá-la.

– Temos que nos apressar. – Olhei para Nico. – Não creio que você possa evocar alguns cavalos esqueletos...

Ele ofegava enquanto corria.

– Estou tão cansado... não conseguiria convocar nem um osso de cachorro.

Passamos pelo aterro com dificuldade e finalmente chegamos à costa, e dei um assovio bem alto. Eu odiava fazer isso. Mesmo com o dólar de areia que eu tinha dado para o Rio East para uma limpeza mágica, a água aqui ainda era poluída. Eu não queria deixar nenhum animal marinho doente, mesmo assim eles vieram ao meu chamado.

Três linhas apareceram na água cinzenta, e um bando de cavalos marinhos subiu à superfície. Eles relincharam infelizes, sacudindo a lama do rio de suas crinas. Eram lindas criaturas, com cauda de peixe multicolorido e a cabeça e patas de garanhão branco. O cavalo marinho na frente era muito maior do que os outros, uma carona apropriada para um passeio de ciclope.

– Arco-íris! – Eu falei. – Como vai amigo?

Ele relinchou uma queixa.

– Sim, eu sinto muito – eu disse. – Mas é uma emergência. Nós precisamos chegar ao acampamento.

Ele resfolegou.

– Tyson? – Eu disse. – Tyson está bem, eu sinto muito que ele não esteja aqui. Ele agora é um grande general do exército ciclope.

RIIINCH!

– Sim, eu tenho certeza que ele ainda vai lhe trazer maçãs. Agora, sobre a carona...

Em um momento, Annabeth, Nico e eu estávamos cruzando o Rio East mais rápido do que um Jet Ski. Muito velozes, passamos por debaixo da Ponte Throgs Neck e seguimos em direção à Long Island.



Pareceu uma eternidade até que vimos a praia do acampamento. Agradecemos os cavalos-marinhos, pulamos para terra firme só para descobrir que Argos esperava por nós. Ele estava na areia com os braços cruzados e cem olhos nos fitando seriamente.

– Ela está aqui? – Eu perguntei.

Ele acenou com a cara amarrada.

– Está tudo bem? – Annabeth disse.

Argos balançou a cabeça.

Nós o seguimos pela trilha. Foi surreal estar de volta ao acampamento, porque tudo parecia tão pacífico: sem edifícios queimando, sem campistas feridos. Os chalés brilhavam à luz do sol, e o orvalho cintilava nos campos. Mas o lugar estava praticamente vazio.

Na Casa Grande, havia algo definitivamente errado. Luzes verdes disparavam de todas as janelas, assim como eu havia visto no meu sonho sobre May Castellan. Névoa – do tipo mágico – girava em torno do jardim. Quíron estava deitado em uma enorme maca, cercado por um bando de sátiros na quadra de vôlei. Blackjack batia os cascos nervosamente na grama.

Não me culpe chefe! Ele suplicou quando me viu. A menina estranha me fez fazer isso!

Rachel Elizabeth Dare estava no topo dos degraus da varanda. Seus braços estavam levantados como se ela estivesse esperando alguém dentro da casa jogar bola com ela.

– O que ela está fazendo? – Annabeth perguntou. – Como é que ela passou pelas barreiras?

– Ela voou – um dos sátiros disse, olhando em tom acusatório para Blackjack. – Passou direto pelo dragão e pelos limites da barreira mágica.

– Rachel! – chamei, mas os sátiros me detiveram quando tentei chegar mais perto.

– Percy, não – Quíron advertiu. Ele estremeceu quando tentou se mover. Seu braço esquerdo estava em uma tipoia, as duas patas traseiras estavam em talas, e sua cabeça estava envolta em bandagens. – Você não pode interromper.

– Pensei que você tivesse explicado tudo a ela!

– Eu expliquei. E a convidei para vir aqui.

Olhei para ele, incrédulo.

– Você disse que nunca deixaria ninguém tentar novamente! Você disse...

– Eu sei o que eu disse Percy. Mas eu estava errado. Rachel teve uma visão sobre a maldição de Hades. Ela acredita que pode ser quebrada agora. Ela me convenceu de que merecia uma chance.

– E se a maldição não for quebrada? Se Hades não conseguiu o que queria, ela pode ficar louca!

A névoa mágica girava em torno de Rachel. Ela tremia como se estivesse entrando em choque.

– Hey! – Eu gritei. – Pare.

Eu corri na direção dela, ignorando os sátiros. Cheguei a três metros de Rachel e bati em algo, como se tivesse acertado uma bola de praia invisível. Eu caí na grama e me recuperei.

Rachel abriu os olhos e se virou. Parecia que estava sonâmbula, como se ela pudesse me ver, mas apenas em um sonho.

– Está tudo bem. – Sua voz parecia longe. – Foi por isso que eu vim.

– Você vai ser destruída!

Ela balançou a cabeça.

– Eu pertenço a este lugar, Percy. Eu finalmente entendi o porquê.

Aquilo soava muito semelhante ao que May Castellan dissera. Eu tinha que pará-la, mas eu não conseguia sequer ficar de pé.

A névoa ondulou em uma centena de serpentes de fumaça, se enrolando nas colunas da varando e ao redor da casa. Em seguida, o oráculo apareceu na porta. A múmia ressequida se arrastando para frente no seu vestido arco-íris. Ela parecia pior do que o habitual, se é que era possível. O cabelo dela estava caindo em tufos. Sua pele curtida rachando como assento desgastado de ônibus. Seus olhos vidrados olhavam fixamente para o espaço, me arrepiei quando vi que ela estava indo na direção de Rachel.

Rachel estendeu os braços. Ela não parecia assustada.

– Você esperou demais – Rachel disse. – Mas agora estou aqui.

O sol brilhou mais intensamente. Um homem apareceu acima flutuando no ar um cara loiro com uma toga branca, com óculos escuros e um sorriso arrogante.

– Apolo – eu disse.

Ele piscou para mim, mas levantou o dedo aos lábios.

– Rachel Elizabeth Dare – disse ele. – Você tem o dom da profecia. Mas também é uma maldição. Tem certeza de que quer isso?

Rachel assentiu.

– É meu destino.

– Você aceita os riscos?

– Aceito.

– Que assim seja – disse o deus.

Rachel fechou os olhos.

– Eu aceito este papel. Comprometo-me com Apolo, deus dos oráculos. Abro os meus olhos para o futuro e abraço o passado. Eu aceito o espírito de Delfos, voz dos Deuses, orador dos mistérios, vidente do destino.

Eu não sabia de onde ela tirava estas palavras, mas fluiu dela como névoa espessa. Uma coluna verde de fumaça, como uma serpente enorme, saiu da boca da múmia e deslizou para baixo da escada, envolvendo carinhosamente os pés de Rachel. A múmia do Oráculo desintegrou, caindo no chão, restou apenas um monte de pó e um velho vestido colorido. A névoa envolveu todo o corpo de Rachel e por um momento eu não podia vê-la.

Rachel caiu no chão e ficou em posição fetal.

Annabeth, Nico, e eu corremos em sua direção, mas Apolo disse:

– Parem! Esta é a parte mais delicada.

– O que vai acontecer? – Eu quis saber. – O que você quer dizer?

Apolo estudou Rachel com preocupação.

– Ou o espírito se estabelece, ou não.

– E se ele não se estabelecer? – Annabeth perguntou.

– Quatro palavras – Apolo disse, contando nos dedos. – Isso seria muito ruim.

Apesar da advertência de Apolo, e me ajoelhei em frente a Rachel, e o cheiro do sótão tinha desaparecido. A névoa afundou no solo e a luz verde esmaeceu. Mas Rachel estava ainda pálida. Quase sem respirar.

Então seus olhos se abriram. Ela focou em mim com dificuldade.

– Percy.

– Você está bem?

Ela tentou se sentar.

– Ai. – Ela pressionou suas têmporas.

– Rachel – Nico disse – a sua aura de vida quase desapareceu. Eu pude ver você morrendo.

– Eu... Eu estou bem – ela murmurou. – Por favor, me ajude. As visões... elas me deixam um pouco desorientadas.

– Você tem certeza de que está bem? – Eu perguntei.

Apolo desceu suavemente para a varanda.

– Senhoras e senhores, gostaria de apresentar o oráculo de Delfos.

– Você está brincando – Annabeth disse.

Rachel deu um sorriso fraco.

– É um pouco surpreendente para mim também, mas este é o meu destino. Eu vi isso quando eu estava em Nova York. Agora compreendo porque nasci com a verdadeira visão. Estava destinada a me tornar o Oráculo.

Pisquei.

– Quer dizer que agora você pode prever o futuro?

– Não o tempo todo – disse ela. – Mas há visões, imagens, palavras em minha mente. Quando alguém me faz uma pergunta, eu... Ah, não...

– Começou – Apolo falou.

Rachel se dobrou como se alguém tivesse dado um soco nela. Então ela se endireitou e seus olhos brilharam com um tom verde.

Quando falou, sua voz triplicou, como se três Rachels estivessem falando ao mesmo tempo.


Sete meios-sangues responderão ao chamado.

Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.

Um juramento a manter com um alento final,

E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.


Com a última palavra, Rachel entrou em colapso. Nico e eu a pegamos e levamos para a varanda. Seu corpo estava febril.

– Eu estou bem – ela disse, com a voz retornando ao normal.

– O que foi? – Eu perguntei.

Ela balançou a cabeça, confusa.

– O que foi aquilo?

– Eu acredito – Apolo disse – que acabamos de ouvir a próxima Grande Profecia.

– O que isso significa? – Eu quis saber.

Rachel franziu a testa.

– Eu nem lembro o que eu disse.

– Não – Apolo ponderou. – O espírito só falará através de você ocasionalmente. O resto do tempo, a nossa Rachel será mais igual como sempre. Não há nenhuma razão em interrogá-la, mesmo que ela tenha previsto o futuro do mundo.

– O que? – Eu disse. – Mas...

– Percy – Apolo disse – eu não me preocuparia muito. A última Grande Profecia sobre você levou quase setenta anos para se completar. Esta pode nem acontecer durante sua vida.

Eu pensei sobre as linhas de Rachel tinha falado com sua voz assustadora: Sobre tempestades e incêndios e as Portas da Morte.

– Talvez – disse eu – mas não soava muito bem.

– Não – disse Apolo alegremente. – É claro que não. Ela vai ser um ótimo oráculo!



Foi difícil deixar o assunto pra lá, mas Apolo insistiu que Rachel precisava descansar, e ela parecia bastante desorientada.

– Me desculpe, Percy – ela disse. – Lá no Olimpo, eu não expliquei tudo a você, mas o chamado me assustava. Eu não acho que você entenderia.

– Eu continuo sem entender – admiti. – Mas estou feliz por você.

Rachel sorriu.

– Provavelmente feliz não é a palavra certa. Ver o futuro e tudo, não vai ser fácil, mas é o meu destino. Só espero que a minha família...

Ela não concluiu seu pensamento.

– Você ainda vai para a academia Clarion? – Eu perguntei.

– Eu fiz uma promessa ao meu pai. Acho que vou tentar ser um pouco normal durante o ano letivo, mas...

– Mas agora, você precisa dormir – Apolo repreendeu. – Quíron, eu não acho que o sótão é o lugar adequado para o nosso novo oráculo, não acha?

– Certamente não é. – Quíron parecia muito melhor agora que Apolo aplicara um pouco de magia médica nele.

– Rachel, por enquanto podemos lhe arrumar um quarto de hóspedes na Casa Grande, e depois pensaremos melhor no assunto.

– Eu indicaria uma caverna nas colinas – Apolo ponderou. – Com tochas e uma grande cortina púrpura na entrada...Realmente misterioso. Mas dentro, muitas almofadas enfeitadas, com uma sala de jogos e um sistema de home theater.

Quíron pigarreou alto.

– O que? – Apolo gemeu.

Rachel me beijou na bochecha.

– Adeus, Percy – ela sussurrou. – E eu não preciso ver o futuro para lhe dizer o que vai fazer agora, né?

Seus olhos pareciam mais penetrante do que antes. Corei.

– Não.

– Ótimo – disse ela. Então se virou e seguiu Apolo para a Casa Grande.



O resto do dia foi tão estranho quanto no começo.

Caravanas de campistas vieram de Nova York de carro, pégasos e carruagem. Os feridos foram atendidos. Para os mortos foram dados os ritos fúnebres na fogueira. A Mortalha de Silena era cor de rosa, mas com um bordado de uma lança elétrica. Os Chalés de Ares e Afrodite a proclamaram com uma heroína, e acenderam a mortalha juntos. Ninguém mencionou a palavra espiã. Esse segredo queimou junto com sua mortalha à medida que a fumaça com perfume de grife subia aos céus.

Mesmo Ethan Nakamura recebeu uma mortalha de seda preta com um logotipo de espadas cruzadas sob um conjunto de setas em escala. Sua mortalha pegou fogo, e eu esperava que Ethan soubesse que havia feito diferença no final. Ele pagou com muito mais do que um olho, mas os deuses menores finalmente dariam a ele o respeito merecido.

O jantar foi silencioso. O único destaque foi Juníper, a ninfa da árvore, que gritou "Grover!" e deu a seu namorado um grande abraço voador, fazendo com que todos aplaudissem. Eles desceram para a praia para dar um passeio ao luar, e eu estava feliz por eles, embora a cena me fizesse lembrar Silena e Beckendorf, o que me deixou pra baixo.

Sra. O’leary brincava ao redor feliz da vida, comendo todos os restos de comida de cima das mesas. Nico sentou à mesa principal, com Quíron e Sr. D, e ninguém pareceu achar que algo estava fora de lugar. Todo mundo dava tapinhas nas costas de Nico, cumprimentando-o pela sua luta. Até as crianças de Ares estavam muito legais. Apareça com um exército de guerreiros mortos-vivos para salvar o dia e de repente você é o melhor amigo de todos.

Lentamente, a turma do jantar foi se dissipando. Alguns foram para a fogueira para cantar. Outros foram para a cama. Sentei-me sozinho na mesa de Poseidon e fiquei vendo o luar e ouvindo os barulhos de Long Island. Eu podia ver Grover e Juníper na praia, de mãos dadas e conversando. Tudo estava tranquilo.

– Hey. – Annabeth escorregou para meu lado no banco. – Feliz aniversário.

Ela trazia uma forminha com um cupcake disforme cheio de açúcar azul por cima.

Olhei para ela.

– O que?

– Hoje é 18 de agosto – disse ela. – Seu aniversário, não é?

Fiquei espantado. Nem tinha lembrado, mas ela estava certa. Eu fiz dezesseis anos nesta manhã, a mesma que eu havia feito a escolha de dar a faca a Luke. A profecia havia se realizado pontualmente, e eu não tinha sequer pensado no fato de ser meu aniversário.

– Faça um desejo – ela disse.

– Foi você mesma quem fez? – Eu perguntei.

– Tyson ajudou.

– Isso explica porque ele se parece com um tijolo de chocolate – eu disse – com cimento azul extra.

Annabeth riu.

Eu pensei por um segundo, depois apaguei a vela.

Dividimos no meio e comemos com as mãos. Annabeth sentou mais perto e ficamos olhando o mar. Grilos e monstros estavam a fazendo barulho na mata, mas fora isto, estava silencioso.

– Você salvou o mundo – ela disse.

– Nós salvamos o mundo.

– E Rachel é o novo Oráculo, o que significa que ela não vai poder namorar.

– Você não parece decepcionada – eu notei.

Annabeth encolheu.

– Oh, eu não me importo.

– Hã-hã.

Ela levantou suas sobrancelhas.

– Você tem algo para me dizer, Cabeça de Alga?

– Você provavelmente iria chutar a minha bunda.

– Você sabe que eu chutaria mesmo.

Limpei o resto de bolo das minhas mãos.

– Quando eu estava no rio Estige, me tornando invulnerável... Nico disse que eu tinha de se concentrar em uma coisa que me mantivesse preso a este mundo, que me fizesse querer permanecer mortal.

Annabeth mantinha seus olhos no horizonte.

– Sim?

– Então, lá no Olimpo, quando eles queriam me transformar em deus e tal, eu pensei um pouco...

– Ah, então você queria.

– Bem, talvez um pouco. Mas eu não quis, porque pensei... Eu não queria que as coisas continuassem as mesmas para toda a eternidade, porque sabe, sempre pode melhorar. E eu fiquei pensando... – Minha garganta estava ficando seca.

– Em alguém em particular? – Annabeth perguntou com uma voz macia.

Eu olhei e vi que ela estava tentando não sorrir.

– Você está rindo de mim! – eu reclamei.

– Não estou não!

– Você não está facilitando as coisas.

Então ela riu de verdade, e colocou as mãos no meu pescoço.

– Eu nunca, nunca vou fazer as coisas ficarem mais fáceis para você, Cabeça de Alga. Acostume-se com isso.

Quando ela me beijou, eu tinha a sensação de meu cérebro estava derretendo dentro de mim.

Eu poderia ter ficado ali para sempre, mas uma voz atrás de nós resmungou:

– Bem, já era tempo!

De repente, o pavilhão estava cheio de tochas e campistas. Clarisse liderando os bisbilhoteiros que nos cercaram e nos colocaram em seus ombros.

– Ah, vamos! – Eu reclamei. – Não se tem mais privacidade?

– Os passarinhos apaixonados precisam se refrescar! – Clarisse disse com alegria.

– O lago de canoagem! – Connor Stoll gritou.

Com uma alegria enorme, eles nos levaram morro abaixo, mas nos mantiveram perto o suficiente para darmos as mãos. Annabeth não parava de sorrir e eu não pude deixar de rir também, mesmo que o meu rosto estivesse completamente vermelho.

Demos as mãos até o momento em que eles nos jogaram na água.

Depois, quem riu por último fui eu. Fiz uma grande bolha de ar no fundo do lago. Nossos amigos ficaram esperando por nós, mas hey, quando você é o filho de Poseidon, não precisa ter pressa.

E foi o melhor beijo submarino de todos os tempos

O ultimo olimpiano - capitulo 21





                                       Blacjack é sequestrado

Annabeth e eu estávamos tomando nosso rumo quando eu esbarrei com Hermes num jardim fora do palácio. Ele olhava fixamente uma mensagem de Íris numa fonte.

Eu olhei para Annabeth.

– Te encontro no elevador.

– Tem certeza? – então ela estudou meu rosto. – Sim, você tem certeza.

Hermes não pareceu notar minha aproximação. As mensagens de Íris estavam passando tão rápidas que eu mal pude entendê-las. Notícias mortais se alteravam entre: cenas da destruição de Tifão, os rastros de nossa batalha por Manhattan, o presidente fazendo um discurso, o prefeito de Nova York, alguns veículos de guerra descendo a Avenida das Américas.

– Incrível – Hermes murmurou. Ele se virou para mim. – Três mil anos, e eu ainda me surpreendo com o poder da Névoa... e a ignorância mortal.

– Obrigado, eu acho.

– Ah, não me refiro a você. Mas suponho que devesse.... Recusar a imortalidade!

– Eu fiz a escolha certa.

Hermes me fitou curiosamente, então voltou sua atenção para a mensagem de Íris.

– Olhe para eles. Eles já decidiram que Tifão foi uma série de tempestades. Quem dera. Eles não descobriram como todas as estátuas de Manhattan foram removidas de seus suportes e feitas em pedaços. Eles continuam mostrando uma tomada de Susan B. Anthony estrangulando Frederick Douglass. Mas eu acho que eles encontrarão uma explicação lógica para isso.

– Quão ruim está a cidade?

Hermes deu de ombros.

– Surpreendentemente, não tão ruim. Os mortais estão aturdidos, é claro. Mas isso é Nova York. Eu nunca vi um grupo de humanos tão vivos. Eu imagino que tudo voltará ao normal em algumas semanas; e é claro, eu estarei ajudando.

– Você?

– Eu sou o mensageiro dos deuses. É meu dever monitorar o que os humanos falam e, se necessário, fazê-los entender o que está acontecendo. Vou tranquilizá-los. Acredite em mim, eles vão falar que foi um terremoto, ou uma oscilação do Sol. Qualquer coisa, menos a verdade.

Ele parecia implacável. George e Martha se enrolaram em seu caduceu, mas estavam silenciosas, o que me fez imaginar que Hermes estava realmente bravo. Eu provavelmente deveria ficar em silêncio, mas falei:

– Eu lhe devo desculpas.

Hermes me olhou suspeito.

– E por que seria?

– Eu pensei que você fosse um pai ruim – eu disse. – Eu pensei que você tivesse abandonado Luke por saber seu destino e feito nada para ajudá-lo.

– Eu sabia o destino dele – Hermes falou miseravelmente.

– Mas você sabia mais do que o lado ruim, que ele se passaria para o lado do mal. Você entendeu o que ele faria no fim. Você sabia que ele faria a escolha certa. Mas você não poderia contar a ele, poderia?

Hermes encarou a fonte.

– Ninguém pode lidar com o destino, Percy, nem mesmo um deus. Se eu tivesse contado a ele o que estava por vir, ou tentado influenciar suas escolhas, teria tornado as coisas ainda piores. Ficar quieto, ficar longe dele... foi a coisa mais difícil que eu já fiz.

– Você teve de deixar que ele escolhesse seu próprio caminho – eu disse – e que ele tivesse sua participação na salvação do Olimpo.

Hermes suspirou.

– Eu não deveria ter ficado bravo com Annabeth. Quando Luke a visitou em São Francisco... bem, eu sabia que ela teria um papel importante no destino dele. Isso eu previ. Eu pensei que talvez ela pudesse fazer o que eu não podia e salvar Luke. Quando ela recusou ir com ele, eu mal pude conter minha raiva. Eu devia saber melhor. Eu estava furioso comigo mesmo.

– Annabeth o salvou – eu disse. – Luke morreu um herói. Ele deu a vida para acabar com Cronos.

– Eu aprecio suas palavras, Percy, mas Cronos não morreu. Não se pode matar um Titã.

– Então...

– Eu não sei – ele grunhiu. – Nenhum de nós sabe. Viram areia. Dispersam ao vento. Com sorte, espalhou-se tanto que nunca mais poderá formar uma consciência de novo, muito menos um corpo. Mas não acredite que ele está morto, Percy.

Meu estômago deu um solavanco.

– Mas e quanto aos outros Titãs?

– Escondendo-se – Hermes disse. – Prometeu enviou a Zeus uma carta com um pedido de desculpas por aliar-se a Cronos. “Eu estava tentando minimizar os danos”, blá blá blá. Ele terá que ficar de cabeça baixa por alguns anos, se for esperto. Crio fugiu e o monte Ótris se desintegrou em ruínas. Oceano recuou quando ficou claro que Cronos perderia. Entretanto, meu filho Luke morreu. Ele acreditou que eu não me importava com ele. Eu nunca vou me perdoar.

Hermes golpeou a mensagem de Íris com o caduceu, e ela desapareceu.

– Há muito tempo atrás – eu disse – você me disse que a coisa mais difícil em ser um deus era não poder ajudar os filhos. Você também me disse que não se pode abandonar a família, por mais tentador que seja.

– E agora você sabe que eu sou um hipócrita?

– Não, você estava certo. Luke te amava. No fim, ele percebeu seu destino. Eu acho que ele percebeu porque você não podia ajudá-lo. Ele se lembrou do que era importante.

– Tarde demais para ele e para mim.

– Você tem outros filhos. Honre Luke reconhecendo-os. Todos os deuses podem fazer isto.

Hermes deu de ombros.

– Eles tentarão, Percy. Oh, tentaremos manter nossas promessas. E talvez por um tempo as coisas melhorem. Mas nós deuses não somos bons em manter juramentos. Você nasceu de uma promessa quebrada, não foi? Eventualmente nós esqueceremos. É sempre assim.

– Vocês podem mudar.

Hermes riu.

– Depois de três milênios, você acha que os deuses podem mudar sua natureza?

– Sim – eu disse. – Eu acho.

Ele pareceu surpreso.

– Você acha... que Luke realmente me amava? Depois de tudo que aconteceu?

– Tenho certeza.

Hermes encarou a fonte.

– Te darei uma lista de meus filhos. Há um garoto em Wisconsin. Duas garotas em Los Angeles. Alguns outros. Você cuidará para que eles cheguem ao acampamento?

– Prometo – eu disse. – E não me esquecerei.

George e Martha se entrelaçavam no caduceu. Eu sabia que cobras não podiam rir, mas elas pareciam estar tentando.

– Percy Jackson – disse Hermes – talvez você possa mesmo nos ensinar uma ou duas coisinhas.



Outra deusa me esperava no caminho para sair do Olimpo. Atena me esperava de braços cruzados e uma expressão que me fez pensar Uh-oh. Ela havia trocado a armadura por jeans e uma blusa branca, mas ela não parecia menos preparada para uma guerra. Seus olhos cinzentos brilharam.

– Bem, Percy – ela disse. – Você continuará mortal.

– Hã, sim senhora.

– Gostaria de saber suas razões.

– Eu queria ser um cara comum. Queria crescer. Ter, você sabe, uma experiência escolar normal.

– E minha filha?

– Eu não podia deixá-la – admiti, a garganta seca. – Ou Grover – eu adicionei rapidamente. – Ou...

– Poupe-me.

Atena ficou mais perto de mim, e eu podia sentir sua aura fazendo minha pele formigar.

– Eu avisei você antes, Percy Jackson, que ao salvar um amigo você destruiria o mundo. Talvez eu estivesse errada. Você parece ter salvado tanto seus amigos quanto o mundo. Mas pense com muito cuidado em como vai agir a partir daqui. Eu te dei o benefício da dúvida. Não estrague tudo.

Só para deixar mais claro, ela irrompeu em chamas e desapareceu, chamuscando a parte da frente da minha camiseta.



Annabeth me esperava no elevador.

– Por quê você está cheirando fumaça?

– Longa história – eu disse.

Juntos descemos ao térreo. Nenhum de nós disse nada. A música era horrível – Neil Diamond ou algo do tipo. Eu deveria ter pedido isso aos deuses também: músicas mais legais no elevador.

Quando chegamos ao lobby, eu vi minha mãe e Paul discutindo com o cara da portaria, que tinha voltado ao trabalho.

– Estou te dizendo – minha mãe gritou. – Nós temos que subir! Meu filho... – Então ela me viu e seus olhos se arregalaram. – Percy!

Ela me abraçou até me deixar sem ar.

– Nós vimos o prédio se iluminar todo de azul – ela disse. – Mas você não descia. Você subiu horas atrás!

– Ela estava ficando meio ansiosa – Paul disse.

– Tá tudo bem – prometi enquanto minha mãe abraçava Annabeth. – Tá tudo bem agora.

– Senhor Blofis – Annabeth disse. – Aquela foi uma manobra magistral com a espada.

Paul deu de ombros.

– Parecia a coisa a ser feita. Mas Percy, é mesmo... quero dizer, essa história de sexcentésimo andar?

– O Olimpo – eu disse. – Sim.

Paul olhou o prédio sonhadoramente.

– Eu gostaria de ver isso.

– Paul – minha mãe falou. – Não é para mortais. De qualquer maneira, o importante é que estamos salvos. Todos nós.

Eu estava quase relaxando. Tudo parecia perfeito. Annabeth e eu estávamos bem. Minha mãe e Paul sobreviveram. O Olimpo estava salvo. Mas a vida de um semideus nunca é fácil. Então Nico correu pela rua, e sua expressão me disse que havia algo de errado.

– É Rachel – ele disse. – Acabei de esbarrar com ela na Rua 32.

Annabeth franziu a sobrancelha.

– O que é que ela fez dessa vez?

– É pra onde ela foi – Nico disse. – Eu disse a ela que ela morreria se tentasse, mas ela insistiu. Ela apenas pegou Blackjack e...

– Ela pegou meu pégaso?

Nico assentiu.

– Ela está indo para o Acampamento Meio-Sangue. Ela disse que tinha que chegar ao Acampamento.


O ultimo olimpiano - capitulo 20





                               Recebemos recompensas fabulosas

As Três Parcas levaram o corpo de Luke.

Eu não via as velhas senhoras há anos, desde que eu testemunhara elas cortarem um fio da vida na barraca de frutas do outro lado da rua, quando eu tinha doze anos. Elas me assustaram naquela época, e elas me assustavam agora – três avós demoníacas levando com bolsas com agulhas de tricô e novelos de lã.

Uma delas olhou para mim, e embora ela não tenha dito nada, minha vida passou literalmente por meus olhos. De repente, eu estava com vinte anos. Depois, virei um homem de meia-idade. Em seguida, estava velho e enrugado. Toda a força deixou meu corpo, e eu vi minha própria lapide e uma cova aberta, um caixão sendo baixado na terra. Tudo isso aconteceu em menos de um segundo.

Está feito, ela disse.

A Parca levantou um pedaço de fio azul – e eu sabia que era o mesmo que eu tinha visto há quatro anos, o fio da vida que eu as vi cortar. Eu pensei que era minha vida. Agora eu sabia que era a de Luke. Elas tinham me mostrado a vida que teria que ser sacrificada para que tudo fosse consertado.

Elas recolheram o corpo de Luke, agora enrolado em uma mortalha branca e verde, e começaram a levá-lo para fora do salão dos tronos.

– Espere – Hermes disse.

O deus mensageiro estava vestido em um conjunto de roupas gregas brancas clássicas, sandálias, e um capacete. As asas de seu capacete batiam enquanto ele andava. As cobras George e Martha enroscaram-se pelo caduceu, murmurando: Luke, pobre Luke.

Eu pensei em May Castellan, sozinha em sua cozinha, assando biscoitos e fazendo sanduíches para o filho que nunca mais voltaria para casa.

Hermes desenrolou o rosto de Luke e beijou sua testa. Ele murmurou algumas palavras em grego antigo – uma benção final.

– Adeus – ele sussurrou. Então ele acenou a cabeça, permitindo que as Parcas levassem o corpo de seu filho.

Enquanto elas saiam, eu pensei na Grande Profecia. As linhas agora faziam sentido para mim. E a alma de um herói, a lâmina maldita ceifará. O herói era Luke. A lâmina maldita era a faca que ele havia dado a Annabeth anos antes – maldita porque Luke tinha quebrado sua promessa e traído seus amigos. Uma escolha seus dias vai encerrar. Minha escolha de dar a faca a ele e acreditar, assim como Annabeth, que ele ainda era capaz de concertar as coisas. O Olimpo preservar ou arrasar. Por ter se sacrificado, ele tinha salvado o Olimpo. Rachel estava certa. No fim, eu não fui mesmo o herói. E sim Luke.

E eu entendi outra coisa: Quando Luke tinha decidido ir ao Rio Estige, ele tinha que focar em algo importante que o mantivesse preso a sua vida mortal. Ao contrário, ele teria se dissolvido. Eu vira Annabeth, e tinha a sensação de que ele também. Ele tinha imaginado a cena que Héstia me mostrou – dele em seus dias bons com Thalia e Annabeth, quando ele prometeu que eles seriam uma família. Machucar Annabeth na batalha o chocou, e fez com que ele se lembrasse da promessa. Isso permitiu sua consciência mortal assumir o controle novamente e vencer Cronos. Seu ponto fraco – seu calcanhar de Aquiles – tinha nos salvado.

Ao meu lado, os joelhos de Annabeth tremiam. Eu a peguei, mas ela chorou de dor, e eu percebi que eu tinha pegado em seu braço machucado.

– Ah deuses – eu disse. – Annabeth, desculpe-me.

– Tudo bem – ela disse assim que desmaiava em meus braços.

– Ela precisa de ajuda! – eu gritei.

– Deixe comigo. – Apolo aproximou-se. Sua armadura brilhava tanto que era difícil de olhar para ele, e seus óculos Ray Ban combinando e seu sorriso perfeito faziam-no parecer um modelo masculino para armaduras de guerra. – Deus da cura, a seu serviço.

Ele passou sua mão pelo rosto de Annabeth e murmurou um encanto. Imediatamente suas contusões sumiram. Seus cortes e cicatrizes desapareceram. Seu braço endireitou-se e ela suspirou adormecida.

Apolo sorriu.

– Ela ficará bem em alguns minutos. Tempo suficiente para compor um poema sobre nossa vitória: “Apolo e seus amigos salvaram o Olimpo.” Bom, não?

– Obrigado Apolo. – Eu disse. – Eu, hã, vou deixar você cuidar da poesia.

As horas seguintes passaram indistintamente. Lembrei-me da promessa que fiz para minha mãe. Zeus nem sequer piscou quando lhe fiz meu estranho pedido. Ele estalou seus dedos e disse que o topo do Edifício Empire State estava agora iluminado de azul. A maioria dos mortais se perguntaria o que aquilo significava, mas minha mãe saberia: Eu tinha sobrevivido. O Olimpo estava salvo.

Os deuses foram consertar a sala dos tronos, que foi surpreendentemente rápido com doze seres superpoderosos trabalhando. Grover e eu cuidamos dos feridos, e assim que a ponte aérea foi refeita, recebemos nossos amigos que haviam sobrevivido. Os ciclopes tinham resgatado Thalia debaixo da estatua caída. Ela estava de muletas, mas estava bem. Connor e Travis Stoll haviam conseguido chegar ao fim da batalha com apenas arranhões. Eles me juraram que não tinham roubado muito a cidade. Me disseram que meus pais estavam bem, embora não tivessem permissão para ir ao Monte Olimpo. Senhora O’Leary tinha tirado Quíron dos escombros e o levado de volta ao acampamento. Os Stoll pareciam um pouco preocupados com o centauro, mas pelo menos ele estava vivo. Katie Gardner disse que ela tinha visto Rachel Elizabeth Dare correr pra fora do Edifício Empire State no fim da batalha. Rachel parecia ilesa, mas ninguém sabia para onde ele tinha ido, o que também me deixou preocupado.

Nico di Angelo chegou ao Olimpo e recebeu as boas-vindas de um herói, o pai logo atrás dele, apesar do fato de que Hades só deveria visitar o Olimpo no solstício de inverno. O deus dos mortos pareceu surpreso quando seus parentes vieram dar palmadinhas em suas costas. Duvido que ele jamais tenha recebido uma recepção tão entusiasmada antes.

Clarisse entrou marchando, ainda tremendo pelo tempo que ficou no cubo de gelo, e Ares berrou:

– Essa é minha garota!

O deus da guerra desarrumou-lhe os cabelos e deu tapinhas em suas costas, chamando-a de melhor guerreira que ele jamais vira.

– O extermínio daquele drakon? É DISSO que estou falando!

Ela pareceu desnorteada. Tudo o que ela conseguia fazer era concordar e piscar, como se ela tivesse medo de que ele começasse a bater nela, mas no final acabou sorrindo.

Hera e Hefesto passaram por mim, e apesar de Hefesto estar um tanto mal-humorado por eu ter pulado em seu trono, achava que eu tinha feito, “no geral, um trabalho extraordinário.”

Hera suspirou, desdenhosa.

– Acho que eu não destruirei você e aquela garotinha.

– Annabeth salvou o Olimpo – eu disse a ela. – Ela convenceu Luke a parar Cronos.

– Humpf.

Hera fez meia-volta e se afastou, zangada, mas calculei que nossas vidas estavam salvas, pelo menos por enquanto.

A cabeça de Dioniso ainda estava envolta em ataduras. Ele me olhou da cabeça aos pés e disse:

– Bem, Percy Jackson, vejo que Pólux sobreviveu. Então, eu acho que você não é totalmente incompetente. Tudo graças ao meu treinamento, suponho.

– Hum, sim, senhor. – Eu disse.

Senhor D. concordou.

– Como agradecimento por minha bravura, Zeus cortou minha pena naquele horrível acampamento pela metade. Agora só me faltam cinquenta anos ao invés de cem.

– Cinquenta anos, hein?

Eu tentei imaginar ter que aturar Dionísio até eu ser um homem velho, supondo-se que eu vivesse até lá.

– Não se anime, Percy – ele disse e eu percebi que ele estava dizendo meu nome corretamente. – Eu ainda planejo fazer de sua vida um inferno.

Eu não pude deixar de sorrir.

– Naturalmente.

– Então estamos entendidos. – Ele se virou e começou a concertar seu trono de videiras, que tinha sido queimado.

Grover ficou ao meu lado. De vez em quando ele caía no choro.

– Tantos espíritos da natureza mortos, Percy. Tantos.

Eu pus meus braços em volta de seu ombro e dei a ele um lenço para assoar o nariz.

– Você fez um ótimo trabalho, homem-bode. Nós vamos consertar tudo isso. Plantaremos novas árvores. Limparemos os parques. Seus amigos reencarnarão em um lugar melhor.

Ele fungou desajeitadamente.

– Eu... Eu espero que sim. Mas foi difícil o suficiente animá-los antes. Eu ainda sou um rejeitado. Eu mal consigo fazer alguém me ouvir sobre Pã. Agora eles vão me ouvir de novo alguma vez? Eu os guiei a uma carnificina.

– Eles ouvirão – eu prometi. – Porque você se importa com eles. Você se importa com o mundo selvagem como nenhum outro faz.

Ele tentou sorrir.

– Obrigado Percy. Espero... Espero que você saiba que eu tenho muito orgulho de ser seu amigo.

Dei-lhe um tapinha no braço.

– Luke estava certo sobre uma coisa, homem-bode. Você é o sátiro mais corajoso que eu já conheci.

Ele corou, mas antes que ele pudesse dizer alguma coisa, trombetas de concha soaram. O exército de Poseidon marchou até a sala dos tronos.

– Percy! – Tyson gritou. Ele veio até mim com seus braços abertos. Felizmente ele tinha diminuído a seu tamanho normal, e assim seu abraço foi como ser atropelado por um trator, e não pela fazenda toda.

– Você não está morto! – ele disse.

– É – eu concordei. – Incrível, não?

Ele bateu as palmas e riu feliz.

– Eu também não estou morto. Ei, nós acorrentamos Tifão. Foi muito divertido!

Atrás dele, uns cinquenta ciclopes armados riram, concordaram e bateram as mãos espalmadas nas dos outros.

– Tyson nos liderou – bradou um deles. – Ele é corajoso!

– O mais corajoso dos ciclopes! – outro gritou.

Tyson corou.

– Não foi nada.

– Eu vi você! – eu disse. – Você estava incrível!

Eu achei que o pobre do Grover fosse desmaiar. Ele morre de medo de ciclopes. Mas ele segurou os nervos e disse.

– É, hã... Três vivas para o Tyson!

– UHUUUU! – os ciclopes rugiram.

– Por favor, não me devorem. – Grover murmurou, mas eu acho que ninguém o ouviu.

As trombetas de concha soaram de novo. Os ciclopes separaram-se e meu pai entrou na sala dos tronos em sua armadura de guerra com seu tridente brilhando em suas mãos.

– Tyson! – ele gritou. – Muito bem, meu filho. E Percy – Seu rosto ficou rígido. Ele apontou seus dedos para mim, e por um segundo eu pensei que ele fosse me evaporar. – Eu te perdoo por sentar em meu trono. Você salvou o Olimpo!

Ele abriu os braços e me deu um abraço. Eu percebi, um pouco envergonhado, que eu nunca tinha abraçado meu pai antes. Ele era quente – como um humano normal – e cheirava a praia e brisa fresca marítima.

Quando ele se afastou, ele sorriu para mim. Senti-me tão bem, admito que eu chorei um pouco. Acho que até esse momento eu não me permitira perceber o quão aterrorizado eu me sentira nos últimos dias.

– Pai...

– Shh – ele disse. – Nenhum herói está acima do medo, Percy. E você superou qualquer herói. Nem mesmo Hércules...

– POSEIDON! – uma voz rugiu.

Zeus tinha sentado em seu trono. Do outro lado da sala, olhou ferozmente para meu pai, enquanto os outros deuses entravam e tomavam seus assentos. Até Hades estava presente, sentado em uma cadeira de pedra simples na frente da lareira. Nico sentava de pernas cruzadas aos pés de seu pai.

– Então, Poseidon? – Zeus grunhiu. – Está orgulhoso demais para se juntar a nós no Conselho, meu irmão?

Pensei que Poseidon fosse ficar furioso, mas ele só me olhou e piscou.

– Ficaria honrado, Senhor Zeus.

Acho que milagres acontecem. Poseidon sentou-se em sua cadeira de pesca, e o Conselho Olimpiano se reuniu.



Enquanto Zeus falava – um longo discurso sobre a bravura dos deuses etc. – Annabeth entrou e parou perto de mim. Ela parecia bem para alguém que tinha acabado de desmaiar.

– Perdi muita coisa? – ela sussurrou.

– Ninguém está planejando nos matar, até agora. – Eu sussurrei de volta.

– É a primeira vez hoje.

Dei uma risada, mas Grover me cutucou porque Hera estava nos lançando um olhar maléfico.

– Falando por meus irmãos – Zeus disse – estamos agradecidos – ele limpou sua garganta como se as palavras fossem difíceis de sair – er, agradecidos pela ajuda de Hades.

O deus dos mortos acenou. Ele tinha um olhar presunçoso em seu rosto, mas eu acho que tinha recebido o merecido. Ele deu tapinhas no ombro de Nico, e Nico parecia mais feliz do que ele jamais esteve.

– E, é claro – Zeus continuou, embora parecesse que suas calças estivessem queimando – devemos... humm... agradecer a Poseidon.

– Desculpe-me, irmão – Poseidon disse. – O que você disse?

– Devemos agradecer a Poseidon – rosnou Zeus. – Sem ele... Teria sido difícil de...

– Difícil? – Poseidon perguntou inocentemente.

– Impossível – Zeus disse. – Impossível de se derrotar Tifão.

Os deuses murmuraram concordando e levantando suas armas em aprovação.

– O que nos deixa agora – continuou Zeus – com apenas a questão de agradecer aos nossos jovens heróis semideuses, que defenderam o Olimpo muito bem – mesmo que haja alguns amassados em meu trono.

Ele chamou Thalia à frente, primeiro, sendo ela sua filha, e lhe prometeu ajuda no preenchimento das fileiras de Caçadoras.

Ártemis sorriu.

– Você se saiu muito bem, minha tenente. Você me deixou orgulhosa, e todas as Caçadoras que pereceram em meus serviços nunca serão esquecidas. Elas irão para o Elísio, tenho certeza.

Ela olhou direto para Hades, que deu ombros.

– Provavelmente.

Ártemis continuou olhando para ele.

– Tudo bem – ele grunhiu. – Vou acelerar seu processo de requerimento.

Thalia encheu-se de orgulho.

– Obrigada, minha senhora.

Ela curvou-se para todos os deuses, inclusive Hades, e depois seguiu mancando para postar-se ao lado de Ártemis.

– Tyson, filho de Poseidon! – Zeus chamou.

Tyson parecia nervoso, mas ele foi para o meio do Conselho, e Zeus falou.

– Parece que ele não perde muitas refeições, não é? – Zeus murmurou. – Tyson, por sua bravura na guerra, e por liderar os ciclopes, você está promovido a general dos exércitos do Olimpo. Daqui pra frente, você deverá liderar seu exército para uma batalha sempre que for requerido pelos deuses. E você terá um novo... Hum... Que tipo de arma você desejaria? Uma espada? Um machado?

– Um bastão! – Tyson disse, mostrando seu bastão quebrado.

– Muito bem – Zeus disse. – Nós lhe daremos um novo, hã, bastão. O melhor bastão que possa ser encontrado.

– Viva! – gritou Tyson, e todos os ciclopes aplaudiram e puseram ele em suas costas enquanto ele se juntava a eles.

– Grover Underwood, dos sátiros – Dionísio chamou.

Grover aproximou-se nervosamente.

– Ah, pare de mastigar sua camisa – Dionísio repreendeu. – Honestamente, eu não vou fulminá-lo. Por sua bravura e sacrifício e blá, blá, blá, e como infelizmente temos uma vaga, os deuses decidiram nomeá-lo membro do Conselho dos Anciãos de Casco Fendido.

Grover desmaiou na mesma hora.

– Ah, ótimo – Dionísio suspirou, enquanto muitas náiades vinham ajudar Grover. – Bem, quando ele acordar, alguém diga a ele que ele não será mais um rejeitado, e que todos os sátiros, náiades, e outros espíritos da natureza, daqui pra frente terão que tratá-lo como o Senhor da Natureza, com todos direitos, privilégios, e honras, blá, blá, blá. Agora, por favor, levem-no para fora antes que ele acorde e comece a se deleitar com torpezas.

– COMIIIIIIIIIIIIIDA – baliu Grover, enquanto os espíritos da natureza o levavam embora.

Percebi que ele ficaria bem. Ele acordaria como Senhor da Natureza rodeado por náiades. A vida podia ser pior.

Atena chamou:

– Annabeth Chase, minha filha.

Annabeth apertou meu braço, e depois se aproximou e ficou aos pés de sua mãe.

Atena sorriu.

– Você, minha filha, superou todas as expectativas. Usou toda sua inteligência, sua força, e sua coragem para defender essa cidade, e nosso lugar de poder. Chamou-nos a atenção, o fato do Olimpo estar, bem... arruinado. O Senhor Titã causou muito estrago que terá que ser reparado. Podemos reconstruir com mágica, é claro, e fazê-lo exatamente igual ao que era antes. Mas os deuses acham que a cidade pode ser melhorada. Então aproveitaremos essa oportunidade. E você, minha filha, fará essas melhorias.

Annabeth olhou para cima, surpresa.

– Minha... Minha senhora?

Atena sorriu, divertindo-se.

– Você é uma arquiteta, não é? Você tem estudado as próprias técnicas de Dédalo. Quem melhor pra redesenhar o Olimpo e fazer dele um monumento que durará por outra eternidade?

– Você quer dizer que... Eu posso projetar o que eu quiser?

– O que seu coração desejar. – A deusa disse. – Faça-nos uma cidade que dure eras.

– Contanto que você coloque muitas estátuas minhas – Apolo adicionou.

– E minhas – Afrodite concordou.

– E minhas! – Ares disse. – Grandes estátuas com grandes espadas e...

– Chega – Atena interrompeu. – Ela já entendeu. Levante-se, minha filha, arquiteta oficial do Olimpo.

Annabeth entrou em transe e veio até mim.

– Muito bem – eu disse a ela, sorrindo.

Pela primeira vez ela estava sem palavras.

– Eu... Eu tenho que começar a planejar... Pegarei papéis e, hã, lápis...

– PERCY JACKSON! – anunciou Poseidon.

Meu nome ecoou pela sala.

Todas as conversas cessaram. A sala estava em silêncio, exceto pelo som do fogo na braseira. Os olhos de todos estavam em mim – todos os deuses, semideuses, ciclopes, e espíritos. Eu andei para o meio da sala dos tronos. Héstia sorriu para mim, encorajadamente. Ela estava em forma de garota agora, e ela parecia feliz e contente por estar sentada perto do fogo de novo. Seu sorriso me deu coragem para continuar caminhando.

Primeiro eu me curvei para Zeus. Depois, fiquei aos pés do meu pai.

– Levante-se, meu filho – Poseidon disse.

Pus-me de pé, inquieto.

– Um grande herói deve ser recompensado – Poseidon disse. – Há alguém aqui que negaria que meu filho é merecedor?

Eu esperei por alguém se pronunciar. Os deuses nunca concordam em nada, e muitos deles ainda nem olhavam para mim, mas nenhum protestou.

– O Conselho concorda – Zeus disse. – Percy Jackson, você terá direito há um presente dos deuses.

Eu hesitei.

– Um presente?

Zeus concordou sorrindo.

– Eu sei o que você vai pedir. O melhor presente de todos. Sim, se você quiser, ele será dado a você. Os deuses nunca concederam esse presente a um herói em séculos, mas Perseu Jackson – se você desejar – você poderá se tornar um deus. Imortal. Você servirá como o líder de seu pai para sempre.

Eu olhei para ele, petrificado.

– Hã... Um deus?

Zeus rolou os olhos.

– Um deus menor, aparentemente. Mas sim. Com o consenso de todo o Conselho, eu posso torná-lo imortal. Então terei que aturá-lo para sempre.

– Humm – Ares meditou. – Quer dizer que eu posso esmagá-lo, transformando-o em polpa na hora que eu quiser, e ele sempre voltará para que eu faça mais. Gostei da ideia.

– Eu aprovo – Atena disse, embora ela estivesse olhando para Annabeth.

Eu olhei para trás. Annabeth estava tentando não me olhar nos olhos. Seu rosto estava pálido. Lembrei-me de dois anos atrás, quando eu pensei que ela fosse se juntar a Ártemis e tornar-se uma Caçadora. Eu estive na beira de um ataque de pânico, achando que eu a perderia. Agora ela parecia sentir o mesmo.

Pensei nas Três Parcas, e o modo como vi minha vida em um flash. Eu poderia evitar tudo isso. Sem envelhecer, sem morte, sem o corpo em um túmulo. Eu poderia ser um adolescente para sempre, em alta condição, poderoso, e imortal, servindo a meu pai. E poderia ter poder e vida eterna.

Quem poderia recusar isso?

Depois olhei para Annabeth de novo. Pensei nos meus amigos do acampamento: Charles Beckendorf, Michael Yew, Silena Beauregard, e tantos outros estavam mortos agora. Pensei em Ethan Nakamura e Luke.

E soube o que fazer.

– Não. – Eu disse.

O Conselho estava em silêncio. Os deuses olharam entre si, como se eles tivessem ouvido mal.

– Não? – Zeus disse. – Você está... Negando nosso generoso presente?

Havia um tom perigoso em sua voz, como se uma tempestade estivesse pronta para explodir.

– Estou honrado e tudo – eu disse. – Não me entendam mal. É só que... Eu ainda tenho muito que viver. Detestaria chegar ao auge em meu segundo ano da escola.

Os deuses estavam olhando para mim, mas Annabeth estava com suas mãos sobre a boca. Seus olhos estavam brilhando. E isso compensava tudo.

– Eu quero um presente, entretanto. – Eu disse. – Você promete conceder meu desejo?

Zeus pensou sobre isso.

– Se estiver ao alcance de nossos poderes...

– Está – eu disse. – E nem é difícil. Mas preciso que vocês jurem pelo Rio Estige.

– O quê? – gritou Dioniso. – Você não acredita em nós?

– Uma vez, alguém me disse – repliquei, olhando para Hades – que sempre se deve obter um juramento solene.

Hades deu de ombros.

– Culpado – admitiu.

– Muito bem! – Zeus berrou. – Em nome do Conselho, juramos pelo Rio Estige conceder-lhe seu pedido razoável contanto que esteja dentro de nossos poderes.

Os outros deuses murmuraram em aprovação. Um trovão rugiu, chacoalhando a sala do trono. O acordo estava feito.

– De agora em diante, eu quero que vocês reconheçam devidamente os filhos dos deuses – eu disse. – Todos os filhos... De todos os deuses.

Os Olimpianos mexeram-se, desconfortáveis.

– Percy – meu pai disse – o que exatamente você quer?

– Cronos não teria se erguido se não fosse por um bocado de semideuses que se sentiam abandonados por seus pais – eu disse. – Eles sentiam raiva, ressentimento, e sem amor, e eles tinham bons motivos.

As narinas reais de Zeus inflaram.

– Você ousa acusar...

– Sem crianças indeterminadas – eu disse. – Quero que vocês prometam reclamar todas suas crianças – todas suas crianças semideuses – quando elas fizerem treze anos. Elas não serão jogadas no mundo vivendo por conta própria e a mercê de monstros. Eu quero que elas reclamadas e levadas ao acampamento para que elas possam receber treinamento adequado, e poder sobreviver.

– Agora, espere um momento – Apolo disse, mas eu já estava no embalo.

– E os deuses menores – eu disse. – Nêmesis, Hécate, Morfeu, Janos, Hebe... todos eles merecem anistia e um ligar no Acampamento Meio Sangue. Suas crianças não devem ser ignoradas. Calipso e os outros filhos pacíficos de Titãs devem ser perdoados também. E Hades...

– Você está me chamando de um deus menor? – Hades berrou.

– Não, meu senhor – apressei-me em dizer. – Mas suas crianças não devem ser excluídas. Elas devem ter um chalé no acampamento. Nico provou isso. Semideuses sem ser reclamados não deverão ser jogados no chalé de Hermes, perguntando quais são os seus pais. Haverá chalés para todos os deuses. E nada mais de pacto entre os Três Grandes. Afinal, isso não funcionou. Vocês tem que parar de tentar se livrar dos semideuses poderosos. Nós os treinaremos e os aceitaremos. Todas as crianças de deuses serão bem vindas e tratadas com respeito. Esse é meu pedido.

Zeus bufou.

– Isso é tudo?

– Percy – Poseidon disse. – Você está pedindo muito. Está abusando.

– Vocês estão presos pelo juramento – eu disse. – Todos vocês.

Recebi muitos olhares duros. Estranhamente, foi Atena quem se pronunciou:

O garoto está certo. Nós tivemos sido imprudentes ignorando nossas crianças. Isso mostrou uma fraqueza estratégica nessa guerra e quase causou nossa destruição. Percy Jackson, eu tinha minhas dúvidas sobre você, mas talvez – ela olhou para Annabeth, e depois falou como se as palavras tivessem um gosto amargo – talvez eu esteja enganada. Eu voto para que aceitemos o plano do garoto.

– Humpf – Zeus disse. – Receber ordens de uma mera criança. Mas eu suponho que...

– Todos a favor – Hermes disse.

Todos os deuses levantaram as mãos.

– Hum, obrigado. – Eu disse.

Eu me virei, mas antes que eu pudesse sair, Poseidon chamou.

– Guarda de Honra!

Imediatamente os ciclopes vieram para frente e fizeram duas filas, que iam dos tronos até a porta – um corredor para eu passar. E ficaram em posição de sentido.

– Todos saúdem Perseu Jackson – Tyson disse. – Herói do Olimpo... E meu irmão mais velho!

O ultimo olimpiano - capitulo 19





                                     Destruímos a cidade eterna

A ponte para o Olimpo estava dissolvendo. Nós saímos do elevador para o caminho de mármore, e imediatamente rachaduras apareceram em nossos pés.

– Pulem! – Grover disse, e isso era fácil para ele, já que ele era parte bode montanhês.

Ele saltou para a próxima tábua de pedra enquanto as nossas se inclinavam perigosamente.

– Deuses, eu odeio altura! – Thalia gritou quando eu e ela pulamos. 

Annabeth, porém, não estava em condições de pular. Ela tropeçou e gritou:

– Percy!

Eu agarrei a sua mão e o pavimento caiu, ruiu até virar poeira. Por um segundo eu pensei que ela puxaria nós dois para baixo. Os pés dela balançaram no ar. Sua mão começou a escorregar até que eu a segurasse somente pelos dedos. Então Grover e Thalia agarraram minhas pernas, e eu encontrei força extra. Annabeth não iria cair.

Eu a puxei para cima e nós nos deitamos tremendo no pavimento. Eu não tinha percebido que nós estávamos abraçados até que ela retesou.

– Hã, obrigada – ela murmurou.

Eu tentei dizer Não há de que, mas saiu algo como, “Uh, dã.”

– Continuem se movendo! – Grover me arrastou pelo ombro.

Nós nos soltamos e corremos através da ponte no céu enquanto mais pedras se desintegravam e caíam na escuridão. Nós chegamos à beirada da montanha assim que o último trecho ruiu.

Annabeth olhou para trás até o elevador, que estava agora totalmente fora de alcance – um conjunto de portas de metal polido em suspensão no ar, atado ao nada, seiscentos andares acima de Manhattan.

– Nós estamos isolados – ela disse. – Por nossa própria conta.

– Bé-é-é – Grover disse. – A conexão entre Olimpo e América está dissolvendo. Se falhar...

– Os deuses não vão estar se mudando para outro país dessa vez – Thalia disse. – Esse será o fim do Olimpo. O fim mesmo.

Nós corremos por ruas. Mansões estavam queimando. Estátuas tinham sido derrubadas. Árvores nos parques tinham sido destruídas até só sobrarem farpas. Parecia que alguém tinha atacado a cidade com um cortador de grama gigante.

– A foice de Cronos – eu disse.

Nós seguimos o tortuoso caminho até o palácio dos deuses. Eu não me lembrava que a estrada fosse tão longa. Talvez Cronos estivesse fazendo tempo ir mais devagar, ou talvez fosse só o pavor que me retardava. Todo o topo da montanha estava em ruínas – tantos prédios e jardins bonitos tinham desaparecido.

Alguns deuses menores e espíritos da natureza tinham tentado parar Cronos. O que sobrou deles estava espalhado ao longo da estrada: armaduras amassadas, roupas rasgadas, lanças e espadas quebradas ao meio.

Algum lugar a nossa frente, a voz de Cronos rosnou:

– Tijolo por tijolo! Essa foi minha promessa. Derrubar TIJOLO POR TIJOLO!

Um templo com uma cúpula dourada de repente explodiu. A cúpula subiu como uma tampa de bule e destruiu-se em um bilhão de pedaços, fazendo chover entulho por toda a cidade.

– Aquilo era um santuário para Ártemis – Thalia resmungou. – Ele vai pagar por isso.

Nós estávamos correndo debaixo do arco de mármore com estátuas gigantes de Zeus e Hera quando toda a montanha gemeu, balançando de lado exatamente como um barco numa tempestade.

– Cuidado! – Grover ganiu.

O arco se desintegrou. Eu olhei para cima em tempo de ver uma carrancuda Hera de vinte toneladas vir para cima de nós. Annabeth e eu teríamos sido esmagados, mas Thalia nos empurrou por trás e nós caímos no chão, fora de perigo.

– Thalia! – Grover chorou.

Quando a poeira baixou e a montanha parou de balançar, nós a encontramos ainda viva, mas com as pernas presas debaixo da estátua.

Nós tentamos desesperadamente movê-la, mas isso teriam sido necessários vários ciclopes para isso.

Quando nós tentamos puxar Thalia, ela gritou de dor.

– Eu sobrevivi a todas essas batalhas – ela resmungou – e sou derrotada por um estúpido pedaço de pedra!

– É Hera – Annabeth disse em ultraje. – Ela tem feito isso durante todo o ano. A estátua dela teria me matado se você não nos tivesse tirado do caminho.

Thalia fez uma careta.

– Bem, não fiquem aí! Eu vou ficar bem. Vão!

Nós não queríamos deixá-la, mas eu podia ouvir Cronos rindo enquanto ele se aproximava do hall dos deuses. Mais prédios explodiram.

– Nós voltaremos – eu prometi.

– Eu não vou a lugar nenhum – Thalia gemeu.

Uma bola de fogo irrompeu no lado da montanha, bem perto de onde os portões para o palácio ficavam.

– Nós temos que correr – eu disse.

– Eu não acho que você quis dizer fugir – Grover murmurou esperançosamente.

Eu corri na direção do palácio, Annabeth logo atrás de mim.

– Eu estava com medo disso – Grover suspirou, e trotou atrás de nós.



As portas do palácio eram grandes o suficiente para deixarem um navio de cruzeiro cruzá-las, mas elas tinham sido tiradas de suas dobradiças e esmagadas como se não pesassem nada. Nós tivemos de escalar uma grande pilha de pedras quebradas e metais retorcidos para entrarmos.

Cronos estava no meio da sala do trono, seus braços abertos, olhando para o céu estrelado como se estivesse roubando-o. A risada dele ecoou ainda mais alto do que tinha sido no abismo do Tártaro.

– Finalmente! – ele berrou. – O Conselho Olimpiano - tão orgulhoso e poderoso. Qual assento de poder eu devo destruir primeiro?

Ethan Nakamura estava em um lado, tentando sair do caminho da foice de se mestre. A lareira estava quase apagada, só algumas brasas brilhando profundamente nas cinzas. Héstia não estava em lugar nenhum para ser vista. Nem Rachel. Eu esperava que ela estivesse bem, mas eu vira tanta destruição que eu estava com medo de pensar sobre isso. O Ofiotauro nadou na sua esfera de água na esquina mais distante da sala, sabiamente não fazendo barulho, mas não demoraria muito até que Cronos o notasse.

Annabeth, Grover e eu demos um passo à frente dentro da iluminação das tochas. Ethan nos viu primeiro.

– Meu Senhor – ele avisou.

Cronos se virou e sorriu através do rosto de Luke. Exceto por seus olhos dourados, ele parecia exatamente como ele era quatro anos atrás quando me dera as boas-vindas ao Chalé de Hermes. Annabeth fez um som de dor na parte traseira de sua garganta, como se algum otário a tivesse socado.

– Eu devo destruí-lo primeiro, Jackson? – Cronos perguntou. – É essa escolha que você fará - lutar comigo e morrer ao invés de se curvar? Profecias nunca terminam bem, você sabe.

– Luke lutaria com uma espada – eu disse. – Mas eu acho que você não tem a habilidade dele.

Cronos fungou. Sua foice começou a mudar, até que ele segurava a velha espada de Luke, Mordecostas, que é metade aço, metade bronze celestial. Próxima a mim, Annabeth engasgou como se ela tivesse acabado de ter uma ideia.

– Percy, a lâmina! – Ela desembainhou sua faca. – E alma do herói, a lâmina maldita ceifará.

Eu não entendi porque ela estava me relembrando dessa linha da profecia naquele momento. Não era exatamente um apoio moral, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Cronos levantou sua espada.

– Espere! – Annabeth gritou.

Cronos veio até mim como um tornado.

Meus instintos me dominaram. Eu me esquivei e cortei e ataquei, mas eu senti que era como lutar com uma centena de espadachins. Ethan se abaixou para um lado, tentando ficar atrás de mim até que Annabeth o interceptou. Eles começaram a lutar, mas eu não pude me concentrar em como ela estava se saindo. Eu estava vagamente ciente de Grover tocando suas flautas de bambu. O som me encheu de calor e coragem – pensamentos sobre luz do sol e um céu azul e uma calma clareira, algum lugar bem distante da guerra.

Cronos me encurralou no trono de Hefesto – uma imensa estrutura mecânica reclinável coberta por engrenagens de bronze e prata. Cronos investiu e eu saltei para o assento. O trono tremeu e começou a emitir sons, vindos dos mecanismos secretos. Modo de defesa, avisou ele. Modo de defesa.

Isso não podia ser bom. Pulei por sobre a cabeça de Cronos quando o trono disparou ondas elétricas em todas as direções. Uma acertou Cronos no rosto, fazendo-o arquear seu corpo e sua espada.

– ARGH! – Ele ficou sobre os joelhos e soltou Mordecostas.

Annabeth viu sua chance. Ela chutou Ethan para fora do caminho e avançou contra Cronos.

– Luke, escute!

Eu queria gritar com ela, dizer a ela que era louca por tentar chamar Cronos à razão, mas não havia tempo. Cronos a atingiu com força. Annabeth voou para trás, batendo no trono da mãe dela e deslizando até o chão.

– Annabeth! – eu gritei.

Ethan Nakamura se ergueu. Ele agora estava entre Annabeth e eu. Eu não poderia lutar com ele sem virar minhas costas para Cronos. A música de Grover assumiu um tom mais urgente. Ele se moveu na direção de Annabeth, mas ele não podia se mover com mais rapidez e continuar a música.

Pequenas raízes cresceram entre as rachaduras das pedras de mármore. Cronos apoiou-se em um joelho. O cabelo dele queimava lentamente. O rosto dele estava coberto com queimaduras de eletricidade. Ele estendeu a mão para sua espada, mas dessa vez ela não voou para suas mãos.

– Nakamura! – ele gritou. – Hora de se pôr a prova. Você conhece a fraqueza de Jackson. Mate-o, e você terá recompensas além do imaginado.

Os olhos de Ethan se dirigiram para a parte inferior do meu tronco, e eu tinha certeza de que ele sabia. Mesmo que ele não pudesse me matar, tudo o que ele tinha de fazer era contar a Cronos. Eu não poderia me defender para sempre.

– Olhe ao seu redor, Ethan – eu disse. – O fim do mundo. É essa recompensa que você quer? Você realmente quer tudo destruído - o bem com o mal? Tudo?

Grover estava quase com Annabeth agora. A grama crescia no chão. As folhas estavam com quase três centímetros de comprimento, como um monte de bigodes.

– Não há um trono para Nêmesis – Ethan murmurou. – Sem trono para minha mãe.

– Isso é verdade! – Cronos tentou se levantar, mas cambaleou. Acima da sua orelha esquerda, um pouco de cabelo loiro ainda queimava. – Derrube-os! Eles merecem sofrer.

– Você disse que sua mãe era a deusa do equilíbrio – lembrei-lhe. – Os deuses menores merecem algo melhor, Ethan, mas destruição total não é equilíbrio. Cronos não constrói. Ele só destrói.

Ethan olhou para o trono crepitante de Hefesto. A música de Grover ainda soava, e Ethan vacilou ao ouvi-la, como se a música estivesse enchendo-o com nostalgia – o desejo de ver um belo dia, de estar em qualquer lugar menos aqui. Seu olho bom piscou.

E então ele investiu... mas não contra mim.

Enquanto Cronos ainda estava de joelhos, Ethan baixou sua espada contra o pescoço do Senhor Titã. Deveria tê-lo matado instantaneamente, mas a lâmina se despedaçou. Ethan caiu para trás, segurando seu estômago. Um fragmento de sua própria lâmina ricocheteou e perfurou sua armadura.

Cronos levantou-se instável, olhando para seu servo.

– Traição – ele rosnou.

A música de Grover ainda era tocada, e a grama cresceu ao redor do corpo de Ethan. Ethan olhou para mim, seu rosto tenso de dor.

– Merecem algo melhor – ele engasgou. – Se eles somente... tivessem tronos...

Cronos pisou com força, e o chão se rompeu ao redor de Ethan Nakamura. O filho de Nêmesis caiu por uma fissura até o coração da montanha – direto à céu aberto.

– Foi demais para ele – Cronos pegou sua espada. – E agora o resto de vocês.



Meu único pensamento era mantê-lo longe de Annabeth. Grover estava ao lado dela agora. Ele tinha parado de tocar e estava alimentando-a com ambrosia.

Em todo lugar que Cronos pisava, as folhas enrolavam-se ao redor de seus pés, mas Grover parara sua mágica cedo de mais. As folhas não eram fortes ou grossas o suficiente para fazer algo além do que irritar o titã.

Atravessamos o braseiro lutando, chutando brasas e faíscas. Cronos arrancou um descanso de braço do trono de Ares, o que para mim não havia nenhum problema, mas então ele se virou para o trono do meu pai.

– Oh, sim – Cronos disse. – Esse aqui vai dar uma ótima lenha para a minha nova lareira!

Nossas lâminas fizeram uma chuva de faíscas. Ele era mais forte que eu, mas por um momento eu senti o poder do oceano em meus braços. Eu o empurrei para trás e ataquei de novo – cortando com Contracorrente com tanta força que cortei um pedaço da couraça da armadura dele.

Ele bateu os pés de novo e o tempo abrandou. Eu tentei atacar, mas eu estava me movendo na velocidade de uma geleira. Cronos recuou calmamente, recuperando seu fôlego. Ele examinou o talho em sua armadura enquanto eu me debatia, amaldiçoando-o em silêncio. Ele poderia tomar todas as pausas que desejasse. Ele poderia me congelar no lugar conforme quisesse. Minha única esperança era que o esforço o drenasse. Se eu pudesse derrotá-lo...

– É tarde demais, Percy Jackson – ele disse. – Comporte-se.

Ele apontou para a lareira, e as brasas brilharam. Uma folha de fumaça cinza surgiu do fogo, formando imagens como numa mensagem de Íris. Eu vi Nico e meus pais na Quinta Avenida, lutando uma batalha desesperada, cercado por inimigos. No fundo, Hades lutava na sua carruagem negra, convocando onda após onda de zumbis do subterrâneo, mas as forças do Titã pareciam ser igualmente sem fim. Enquanto isso, Manhattan estava sendo destruída. Mortais, agora completamente acordados, estavam correndo em terror. Carros derrapavam e batiam.

A cena mudou, e eu vi algo ainda mais assustador.

Uma coluna de tempestade estava se aproximando do Rio Hudson, movendo-se com velocidade através da costa de Jersey. Carruagens circundavam-na, envolvidas em combate com a criatura na nuvem.

Os deuses atacaram. Relâmpagos apareceram. Flechas de ouro e prata foram arremessadas na direção da nuvem como se fossem foguetes e explodiram. Devagar, a nuvem se dispersou e eu vi Tifão claramente pela primeira vez.

Eu sabia que por todo o tempo que vivesse (que poderia nem ser tão longo assim) eu nunca seria capaz de tirar a imagem da minha cabeça. A cabeça de Tifão mudava com frequência. A cada momento ele era um monstro diferente, cada um mais horrível que o outro. Olhar para seu rosto me deixaria louco, então eu me concentrei no corpo dele, o que não era muito melhor. Ele era humanoide, mas a sua pele me lembrou um sanduíche de carne que ficou no armário de alguém durante todo o ano. Ele era verde malhado com bolhas do tamanho de prédios, e com marcas enegrecidas por ter ficado eras preso em um vulcão. As mãos dele eram humanas, mas com garras, como as de uma águia. Suas pernas eram escamosas e reptilianas.

– Os Olimpianos estão dando seu último esforço – riu Cronos. – Que patético.

Zeus jogou um raio de sua carruagem. A explosão levantou o mundo. Eu podia sentir o choque do Olimpo, mas quando a poeira assentou, Tifão ainda estava de pé. Ele cambaleou um pouco, com uma cratera fumarenta no topo de sua cabeça sem forma, mas ele rosnou de raiva e continuou avançando.

Meus membros voltaram a se mexer. Cronos não pareceu notar. Sua atenção estava concentrada na luta e em sua vitória final. Se eu pudesse me manter por alguns segundos, e meu pai mantivesse sua palavra...

Tifão pisou no Rio Hudson e mal afundou seu tornozelo.

Agora, eu pensei, implorando para a imagem na fumaça. Por favor, tem que acontecer agora.

Como um milagre, uma trombeta de concha soou vindo da figura nevoenta. O chamado do oceano. O chamado de Poseidon.

Ao redor de Tifão, o Rio Hudson entrou em erupção, tremendo com ondas de doze metros. Fora da coluna de água, uma nova carruagem apareceu – essa era puxada por imensos cavalos-marinhos, que nadavam no ar com a mesma facilidade do que na água. Meu pai, brilhando com uma aura azulada de poder, fez um círculo ao redor das pernas do gigante. Poseidon não era mais um homem velho. Ele parecia consigo mesmo novamente – bronzeado e forte com uma barba escura. No que ele balançou seu tridente, o rio respondeu, formando um funil de nuvens ao redor do monstro.

– Não! – Cronos berrou depois de um momento de silêncio chocado. – NÃO!

– AGORA, MEUS IRMÃOS! – A voz de Poseidon estava tão alta que eu não tinha certeza que a ouvia pela imagem de fumaça ou se ela cruzara toda a cidade. – LUTEM PELO OLIMPO!

Guerreiros surgiram do rio, guiando, nas ondas, tubarões gigantes, dragões e cavalos marinhos. Era uma legião de ciclopes, e liderando-os batalha adentro estava...

– Tyson! – Eu gritei.

Eu sabia que ele não poderia me ouvir, mas eu olhei para ele com admiração. Ele tinha magicamente crescido. Ele tinha de ter 9 metros, tão grande quanto seus primos mais velhos, e pela primeira vez ele estava vestindo uma armadura de batalha completa. Galopando atrás dele estava Briareu, o centímano.

Todos os ciclopes seguravam imensas extensões de correntes de ferro negras – grandes o suficiente para ancorar um navio de batalha – com ganchos no final. Eles as giraram como cordas e começaram a aprisionar Tifão, arremessando cordas ao redor das pernas e braços da criatura, usando a maré para continuarem circundando-o, prendendo o monstro. Tifão chacoalhou, rosnou e atacou as correntes, empurrando alguns ciclopes para fora de suas montarias, mas havia correntes demais. O grande peso do batalhão de ciclopes começou a trazer Tifão para baixo. Poseidon jogou seu tridente e atingiu o monstro na garganta.O icor dourado imortal jorrou do ferimento, criando uma cachoeira maior do que um arranha-céu. O tridente voou de volta para a mão de Poseidon.

Os outros deuses investiram com força renovada. Ares se levantou e atingiu Tifão no nariz. Ártemis atirou no monstro uma dúzia de flechas prateadas direto no olho. Apolo atirou uma saraivada de flechas em chamas no monstro. E Zeus continuou acertando Tifão com raios, até que finalmente, devagar, a água se ergueu, envolvendo Tifão como se fosse um casulo, e ele começou a afundar com o peso das correntes. Tifão gritou em agonia, batendo com tanta força que as ondas varreram a costa de Jersey, alagando prédios de cinco andares e derrubando a Ponte George Washington – mas abaixaram conforme meu pai abriu um túnel especial para ele – um redemoinho de água sem fim que o levaria diretamente ao Tártaro. A cabeça do gigante afundou num espiral fervente, e ele fora embora.

– AH! – Cronos gritou. Ele passou sua espada através da fumaça, dissipando a imagem.

– Eles estão vindo para cá – eu disse. – Você perdeu.

– Eu ainda nem comecei.

Ele avançou numa velocidade ofuscante. Grover – o sátiro corajoso e estúpido – tentou me proteger, mas Cronos o empurrou ele de lado como se fosse uma boneca de pano.

Eu pisei de lado e investi debaixo da guarda de Cronos. Era um bom truque. Infelizmente, Luke o conhecia. Ele amorteceu o impacto e me desarmou usando um dos primeiros movimentos que me ensinara. Minha espada deslizou pelo chão e caiu diretamente na fissura aberta.

– PARE! – Annabeth surgiu do nada.

Cronos se virou para encará-la e atacou com Mordecostas, mas de algum jeito Annabeth aparou o impacto com o punho de sua faca. Era um movimento que somente o mais rápido e habilidoso lutador de faca poderia realizar. Não me pergunte onde ela achou força, mas ela pisou mais próximo dele, as lâminas se cruzando, e por um momento ela ficou cara-a-cara com o Senhor Titã, segurando-o quieto.

– Luke – ela disse cerrando os dentes. – Eu entendo agora. Você tem que confiar em mim.

Cronos rosnou em ultraje.

– Luke Castellan está morto! O corpo dele vai se queimar assim que eu assumir minha forma verdadeira!

Eu tentei me mexer, mas meu corpo congelou de novo. Como podia Annabeth, machucada e quase morta de exaustão, ter a força para lutar com um titã como Cronos?

Cronos investiu contra ela, tentando mover sua lâmina, mas ela o segurou, os braços dela tremendo no que ele forçava a espada na direção do pescoço dela.

– Sua mãe – Annabeth rosnou. – Ela viu o seu destino.

– Servir a Cronos! – O titã gritou. – Esse é o meu destino.

– Não! – Annabeth insistiu. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, mas eu não sabia se eram lágrimas de dor ou tristeza. – Esse não é o fim, Luke. A profecia: ela viu o que você faria. É sobre você!

– Eu vou te esmagar, criança! – Cronos berrou.

– Você não vai – Annabeth disse. – Você prometeu. Você está segurando Cronos até agora.

– MENTIRAS! – Cronos empurrou de novo, e dessa vez Annabeth perdeu o equilíbrio. Com sua mão livre, Cronos esbofeteou seu rosto, e ela deslizou para trás. Eu convoquei toda a minha força. Eu tentei me levantar, mas era como segurar o peso do céu de novo.

Cronos passou por Annabeth, sua espada levantada.

Sangue escorria pelo canto da boca dela.

– Família, Luke. Você prometeu.

Eu dei um doloroso passo à frente. Grover estava novamente de pé, perto do trono de Hera, mas ele parecia vacilar ao andar também. Antes de que qualquer um de nós conseguíssemos chegar perto de Annabeth, Cronos parou.

Ele olhou para a faca nas mãos de Annabeth, o sangue em seu rosto.

– Promessa.

Então ele engasgou como se não pudesse respirar.

– Annabeth... – Mas não era a voz do titã. Era a voz de Luke. Ele cambaleou para frente, como se não pudesse controlar o próprio corpo. – Você está sangrando...

– Minha faca. – Annabeth tentou erguer a adaga, mas escapou de sua mão. Seu braço estava estendido num ângulo engraçado. Ela olhou para mim, implorando. – Percy, por favor...

Eu podia me mover de novo.

Eu andei adiante e peguei a faca dela. Eu bati Mordecostas para fora das mãos de Luke, e a joguei na lareira. Luke quase não prestou atenção em mim. Ele avançou na direção de Annabeth, mas eu me pus entre ele e ela.

– Não toque nela – eu disse.

Raiva passou pelo rosto dele. A voz de Cronos murmurou:

– Jackson... – Era a minha imaginação, ou todo o corpo dele estava brilhando, virando ouro?

Ele engasgou de novo. A voz de Luke:

– Ele está mudando. Ajudem. Ele... ele está quase pronto. Ele não precisará mais do meu corpo. Por favor...

– NÃO! – Cronos berrou.

Ele procurou por sua espada, mas estava na lareira, brilhando entre as brasas.

Ele cambaleou na direção dela. Tentei impedi-lo, mas ele me empurrou com tanta força que eu aterrissei perto de Annabeth e bati minha cabeça na base do trono de Atena.

– A faca, Percy – Annabeth sussurrou. Sua respiração estava fraca. – Herói... lâmina maldita...

Quando minha visão voltou a foco, eu vi Cronos pescando sua espada. Então ele berrou de dor e derrubou-a. Suas mãos fumegavam, queimadas. O fogo da lareira cresceu em vermelho-vivo, como se a foice não fosse compatível com ele. Eu vi a imagem de Héstia tremulante nas cinzas, olhando para Cronos com desaprovação.

Luke se virou e desmoronou, agarrando suas mãos arruinadas.

– Por favor, Percy...

Consegui ficar de pé. Eu andei na direção dele com a faca. Esse era o plano. Luke pareceu saber o que eu estava pensando. Ele torceu os lábios.

– Você não pode... não pode fazer por si mesmo. Ele vai quebrar o meu controle. Ele vai se defender. Só a minha mão. Eu sei onde. Eu posso... posso mantê-lo sob controle.

Ele estava definitivamente brilhando agora, sua pele começando a soltar fumaça. Eu levantei a faca para atacar. Então eu olhei para Annabeth, Grover segurando-a em seus braços, tentando protegê-la. E eu finalmente entendi o que ela estava tentando me dizer.

Você não é o herói, Rachel tinha dito. Isso vai influenciar o que você fizer.

– Por favor – Luke rosnou. – Sem tempo.

Se Cronos revelasse sua forma verdadeira, não haveria como pará-lo. Ele faria Tifão parecer um valentão de playground.

A linha da grande profecia ecoou em minha cabeça: E a alma do herói, a lâmina maldita ceifará. Todo o meu mundo ficou de cabeça para baixo e eu entreguei a faca a Luke.

Grover ganiu.

– Percy? Você está... hã...

Louco. Insano. Fora do meu juízo perfeito. Provavelmente.

Mas observei Luke agarrar o punho.

Eu fiquei na frente dele – indefeso.

Ele soltou as tiras da armadura, expondo um pequeno pedaço da sua pele logo abaixo do seu braço esquerdo, um lugar que seria bem difícil de atingir. Com dificuldade, ele se esfaqueou.

Não era um corte profundo, mas Luke uivou. Os olhos dele brilharam como lava. A sala do trono tremeu, me fazendo perder o equilíbrio e cair. Uma aura de energia cercou Luke, ficando cada vez mais e mais brilhante. Eu fechei meus olhos e senti a força de algo como uma explosão nuclear pinicar minha pele e rachar meus lábios.

Fez-se silêncio por um longo tempo.

Quando abri meus olhos, eu vi Luke estendido na lareira. No chão ao seu redor estava um círculo enegrecido de cinzas. A foice de Cronos tinha se liquefeito em metal líquido e estava brilhando entre as brasas da lareira, que agora brilhavam como um forno de ferreiro.

O lado esquerdo de Luke estava sangrando. Os olhos dele estavam abertos – olhos azuis, do jeito que eles costumavam ser. Sua respiração arquejou profundamente.

– Boa... lâmina – gemeu ele.

Eu me ajoelhei ao seu lado. Annabeth veio até nós apoiando-se em Grover. Os dois tinham lágrimas nos olhos.

Luke olhou para Annabeth.

– Você sabia. Eu quase matei você, mas você sabia...

– Shhh. – A voz dela tremeu. – Você foi um herói no final, Luke. Você irá para o Elísio.

Ele balançou a cabeça fracamente.

– Pensando... renascer. Tentar três vezes. Ilha dos Abençoados.

Annabeth fungou.

– Você sempre exigiu demais de si mesmo.

Ele levantou a mão queimada. Annabeth tocou a ponta de seus dedos.

– Você... – Luke tossiu e seus lábios tingiram-se de vermelho. – Você me amava?

Annabeth enxugou as lágrimas.

– Houve um tempo em que eu pensei que... bem, eu pensava... – Ela olhou para mim, como se ela estivesse fascinada pelo fato de eu estar ali. E eu percebi que fazia a mesma coisa. O mundo estava desmoronando, e a única coisa com que realmente importava para mim era que Annabeth estava viva. – Você era como um irmão para mim, Luke – ela disse suavemente. – Mas eu não o amava.

Ele concordou, como se ele esperasse aquilo. Ele estremeceu de dor.

– Nós podemos pegar ambrosia – Grover disse. – Nós podemos...

– Grover – Luke engoliu. – Você é o sátiro mais valente que eu já conheci. Mas não. Não há cura...

Outra tosse.

Ele agarrou a manga da minha camisa, e eu pude sentir o calor de sua pele como se fosse fogo.

– Ethan. Eu. Todos os indeterminados. Não deixe... Não deixe acontecer de novo.

Seus olhos estavam raivosos, mas suplicantes também.

– Não deixarei – eu disse. – Eu prometo.

Luke assentiu e sua mão se soltou, flácida.

Os deuses apareceram alguns minutos depois em todas as suas regalias de guerra, trovejando sala do trono adentro e esperando uma batalha.

O que eles encontraram foram Annabeth, Grover e eu estagnados ao redor do corpo quebrado de um meio-sangue, na indistinta e quente luz da lareira.

– Percy – meu pai me chamou, receio em sua voz. – O que... o que é isso?

Eu me virei e encarei os Olimpianos.

– Nós precisamos de uma mortalha – eu anunciei, minha voz embargada. – Uma mortalha para o filho de Hermes.