quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Maldição do titã - capitulo 10



                                 Eu quebro alguns foguetes       

Eu corri para Thalia – literalmente. Eu estava subindo descontroladamente a rampa para o balcão superior e me choquei com ela, lançando-a dentro da cápsula espacial de Apolo. Grover gritou em surpresa.

Antes que pudesse recuperar meu equilíbrio, Zoë e Bianca tinham flechas preparadas, apontadas para o meu peito. Seus arcos haviam aparecido do nada. Quando Zoë percebeu quem eu era, ela não pareceu ansiosa para abaixar seu arco.

– Tu! Como te atreves a mostrar tua face aqui?

– Percy! – Grover disse. – Graças aos deuses.

Zoë olhou fixamente para ele, e ele ruborizou.

– Quero dizer, hum, caramba. Você não deveria estar aqui!

– Luke – eu disse, tentando recuperar o fôlego. – Ele está aqui.

A raiva nos olhos de Thalia imediatamente derreteu. Ela pôs sua mão em seu bracelete prata.

– Onde?

Eu contei a eles sobre o Museu de História Natural, Dr. Espinheiro, Luke, e o General.

– O General está aqui? – Zoë parecia aturdida. – Isso é impossível! Tu mentes.

– Por que eu mentiria? Olhe, não há tempo. Guerreiros esqueleto...

– O quê? – Thalia demandou. – Quantos?

– Doze – eu disse. – E isso não é tudo. Aquele cara, o General, ele disse que ia enviar algo, um “colega”, para distrair vocês aqui. Um monstro.

Thalia e Grover trocaram olhares.

– Nós estávamos seguindo o rastro de Ártemis – Grover disse. – Eu estava certo que trazia aqui. Algum odor monstruoso… Ela deve ter parado aqui procurando pelo monstro misterioso. Mas nós ainda não achamos nada.

– Zoë – Bianca disse nervosamente, – se é o General...

– Não pode ser! – Zoë disparou. – Percy deve ter visto uma mensagem de Íris ou alguma outra ilusão.

– Ilusões não quebram pisos de mármore – eu disse a ela.

Zoë respirou fundo, tentando se acalmar. Eu não sabia por que ela estava levando isso para o lado pessoal, ou como ela conhecia esse General, mas presumi que agora não seria o momento pra perguntar.

– Se Percy está dizendo a verdade sobre os guerreiros esqueleto – ela disse, – nós não temos tempo para discutir. Eles são os piores, os mais horríveis... Nós devemos ir agora.

– Boa ideia – eu disse.

– Eu não estou incluindo a ti, garoto – Zoë disse. – Tu não fazes parte dessa missão.

– Ei, estou tentando salvar suas vidas!

– Você não deveria ter vindo, Percy – Thalia disse severamente. – Mas você está aqui agora. Vamos. Vamos voltar para a van.

– Esta decisão não é tua! – Zoë atirou.

Thalia fechou a cara para ela.

– Você não é a chefe aqui, Zoë. Eu não ligo para o quão velha você é! Você ainda é uma pirralha convencida!

– Tu nunca tiveste sabedoria quando se tratava de garotos – Zoë rosnou. – Nunca pudeste deixá-los para trás!

Thalia parecia que ia bater em Zoë  Então todo mundo congelou, eu ouvi um rosnado tão alto que parecia que o motor de um dos foguetes estava arrancando.

Abaixo de nós, alguns adultos gritaram. A voz de uma criança pequena guinchou com prazer:

– Gatinho!

Algo enorme veio pela rampa. Era do tamanho de uma pick-up grande, com garras prateadas e um pelo dourado brilhante. Eu havia visto esse monstro antes. Dois anos atrás, eu o vi brevemente do trem. Agora, ao vivo e em cores, parecia ainda maior.

– O leão da Neméia – Thalia disse. – Não se mexam.

O leão rugiu tão alto que repartiu meu cabelo. Seus dentes brilhavam como aço inoxidável.

– Separai-vos ao meu comando – Zoë disse. – Tentai mantê-lo distraído.

– Até quando? – Grover perguntou.

– Até que eu pense em uma forma de matá-lo. Ide!

Eu desencapei Contracorrente. Flechas assobiavam por mim, e Grover tocava uma cadência tweet-tweet penetrante na sua flauta. Eu me virei e vi Zoë e Bianca subindo na cápsula de Apolo. Elas estavam disparando flechas, uma após a outra, todas batendo sem ferir no pelo metálico do leão. O leão bateu fortemente na lateral da cápsula, esparramando as Caçadoras de costas. Grover tocou um frenético, horrível tom, e o leão se virou para ele, mas Thalia entrou em seu caminho, segurando Aegis, e o leão se retraiu.

“ROOOAAAR!”

– Hi-yah! – Thalia disse. – Pra trás!

O leão rosnou e arranhou o ar, mas recuou como se o escudo ardesse em chamas. Por um segundo, eu achei que Thalia tinha tudo sob controle. Então eu vi o leão se agachando, os músculos de sua perna tensionando. Eu tinha visto lutas suficientes de gatos nos becos em volta do apartamento em Nova Iorque. Eu sabia que o leão ia saltar.

– Ei! – gritei. Não sei no que eu estava pensando, mas eu investi para a fera. Eu só queria afastá-la dos meus amigos. Golpeei com Contracorrente, um bom golpe no flanco que deveria ter cortado o monstro em um miau mix, mas a lâmina apenas ressoou contra o pelo em uma explosão de faíscas.

O leão me procurou com suas garras, rasgando um grosso pedaço do meu casaco. Eu recuei contra a grade. Ele saltou para mim, meia tonelada de monstro, e eu não tinha escolha salvo me virar e pular.

Eu pousei na asa de um antiquado avião prateado, o qual balançou e quase me derrubou no chão, três andares abaixo.

Uma flecha assobiou pela minha cabeça. O leão pulou na aeronave, e as cordas que seguravam o avião começaram a gemer.

O leão balançou fortemente em minha direção, e eu caí na próxima peça, uma estranha aeronave com lâminas como um helicóptero. Eu olhei para cima e vi o leão rosnar – dentro de sua boca, língua e garganta rosadas.

Sua boca, eu pensei. Seu pelo era completamente invulnerável, mas se eu pudesse acertá-lo na boca... O único problema era que o monstro se movia muito rapidamente. Entre suas garras e presas, eu não conseguia chegar perto o suficiente sem ser feito em pedaços.

– Zoë! – eu gritei. – Mire a boca!

O monstro bufou. Uma flecha zuniu por ele, errando completamente, e eu pulei da nave espacial em direção ao topo de uma peça térrea da exposição, um enorme modelo da terra. Eu deslizei para baixo da Rússia e pulei do equador.

O leão da Neméia rosnou e se estabilizou na aeronave, mas o seu peso era muito. Uma das cordas estalou. Conforme o aparato balançou o leão pulou para o Pólo Norte do modelo da terra.

– Grover! – eu gritei. – Libere a área!

Grupos de crianças estavam correndo e gritando. Grover tentou guiá-las para longe do monstro justamente quando a outra corda da aeronave estalou e a peça espatifou-se no chão. Thalia pulou do segundo piso queixando-se e aterrissou em frente a mim, do outro lado do globo. O leão nos considerou, tentando decidir qual de nós matar primeiro.

Zoë e Bianca estavam acima de nós, arcos prontos, mas elas se mantinham movendo em volta para ter um bom ângulo.

– Sem ângulo claro! – Zoë gritou. – Faze com que abra mais a boca!

O leão rosnou do topo do globo.

Eu olhei em volta. Opções. Eu precisava…

A loja de presentes. Eu tinha uma fraca lembrança de minha passagem por aqui quando era uma criancinha. Algo que eu havia feito minha mãe comprar para mim, e tinha me arrependido. Se eles ainda vendessem aquela coisa…

– Thalia – eu disse, – mantenha-o ocupado.

Ela concordou severamente.

– Hi-yah! – Ela apontou sua lança e um arco de eletricidade azul em forma de aranha disparou, atingindo o leão na cauda.

“ROOOOOOOAR!”

O leão se virou e pulou. Thalia rolou para fora de seu caminho, segurando Aegis para manter o monstro no limite, e eu corri para a loja de presentes.

– Não é hora para lembrancinhas, garoto! – Zoë gritou.

Eu me arremessei para a loja, batendo em fileiras de camisas, pulando sobre mesas cheias de brilho-do-planeta-escuro e lama espacial. A vendedora não protestou. Ela estava muito ocupada se escondendo atrás da caixa registradora.

Ali! Na parede mais distante – pacotes prateados brilhantes. Uma prateleira cheia deles. Eu recolhi todos os tipos que pude achar e corri para fora da loja com os braços cheios.

Zoë e Bianca ainda despejavam flechas no monstro, mas inutilmente. O leão parecia saber que era melhor não abrir muito a boca. Ele vociferou para Thalia, golpeando com suas garras. Ele até mantinha seus olhos apertados em pequenas fendas.

Thalia golpeou o monstro e recuou. O leão a pressionou.

– Percy – ela chamou, – seja o que for que você esteja pensando em fazer...

O leão rosnou e a golpeou como um gato de brinquedo, mandando-a voando para o lado de um foguete Titã. Sua cabeça bateu no metal e ela deslizou para o chão.

– Ei! – gritei para o leão. Eu estava muito longe para atacar, então me arrisquei: arremessei Contracorrente violentamente como uma faca de atirar. Ela não atingiu o leão, mas foi o suficiente para chamar a atenção do monstro. Ele se virou na minha direção e rosnou.

Só havia um jeito de chegar perto o suficiente. Eu ataquei, e o leão saltou para me interceptar, eu joguei um pacote de comida espacial na sua boca – um bocado de parfait de morango congelado e embrulhado em celofane.

Os olhos do leão ficaram selvagens como um gato com uma bola de pelo na garganta.

Eu não podia culpá-lo. Eu me lembro de me sentir do mesmo jeito quando experimentei comida espacial quando criança. Aquela coisa era bem nojenta.

– Zoë, fique pronta! – eu gritei.

Atrás de mim, eu podia ouvir pessoas gritando. Grover estava tocando outra horrível música em sua flauta.

Eu me afastei do leão. Ele conseguiu desengasgar o pacote de comida espacial e me olhou com puro ódio.

– Hora do lanche! – gritei.

Ele cometeu o erro de rugir para mim, e eu joguei um sanduíche de sorvete em sua garganta. Felizmente, eu sempre fui um arremessador muito bom, apesar de beisebol não ser o meu jogo. Antes que o leão pudesse parar de engasgar, eu atirei mais dois sabores de sorvete e um espaguete seco e congelado.

Os olhos do leão saltaram. Ele arregalou sua boca selvagemente e ficou nas patas traseiras, tentando ficar longe de mim.

– Agora! – gritei.

Imediatamente, flechas perfuraram a boca do leão – duas, quatro, seis. O leão refugou ferozmente, virou-se, e caiu para trás. E então ficou quieto.

Alarmes soaram pelo museu. Pessoas debandavam pelas saídas. Seguranças estavam correndo em pânico sem ideia do que estava acontecendo.

Grover se ajoelhou ao lado de Thalia e a ajudou a se levantar. Ela parecia estar bem, só um pouco tonta. Zoë e Bianca pularam do balcão e aterrissaram do meu lado. Zoë me olhou cautelosamente.

– Aquela foi… uma estratégia interessante.

– Ei, funcionou.

Ela não argumentou.

O leão parecia estar derretendo, do jeito que monstros mortos faziam às vezes, até que nada mais restava além de seu pelo dourado brilhante, e mesmo isso parecia estar encolhendo para o tamanho de um leão normal.

– Pega – Zoë me disse.

Eu olhei para ela.

– O quê, a pele do leão? Não é, tipo, uma violação dos direitos dos animais?

– É um espólio de guerra – ela me falou. – É teu por direito.

– Você o matou – eu disse.

Ela balançou a cabeça, quase sorrindo.

– Eu acho que o teu sorvete fez isso. Justo é justo, Percy Jackson. Apanha a pele.

Eu a levantei; era surpreendentemente leve. A pele era suave e macia. Não parecia mesmo como algo que pudesse parar uma lâmina. Conforme eu olhava, o couro mudou e se transformou em um casaco – um sobretudo marrom dourado.

– Não é exatamente o meu estilo – eu murmurei.

– Nós temos que sair daqui – Grover disse. – Os seguranças não vão ficar confusos por muito tempo.

Eu notei pela primeira vez quão estranho era os guardas não terem se apressado para nos prender. Eles estavam indo em todas as direções exceto na nossa, como se estivessem desesperadamente procurando por algo. Alguns estavam indo de encontro às paredes ou entre eles.

– Você fez aquilo? – eu perguntei a Grover.

Ele concordou, parecendo um pouco embaraçado.

– Uma pequena música para confundir. Eu toquei um pouco de Barry Manilow. Funciona toda vez. Mas só vai durar alguns segundos.

– Os seguranças não são nossa maior preocupação – Zoë disse. – Olhai.

Através das paredes de vidro do museu, eu pude ver um grupo de homens andando pelo gramado. Homens cinzentos em roupas de camuflagem cinzentas. Eles estavam muito distantes para que pudéssemos ver seus olhos, mas eu pude sentir seus olhares fixos em mim.

– Vão – eu disse. – Eles vão me caçar. Vou distraí-los.

– Não – Zoë disse. – Nós vamos juntos.

Eu olhei para ela.

– Mas, você disse –

– Tu és parte desta missão agora – Zoë disse de má vontade. – Eu não gosto disso, mas não há mudança no destino. Tu és o quinto membro da missão. E não vamos deixar ninguém para trás.                    



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