quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Maldição do titã - capitulo 9



                               Eu aprendo a cultivar zumbis


O negócio de voar em um pégaso durante o dia é que se você não for cauteloso, você pode causar um sério acidente de trânsito na Via Expressa de Long Island. Tive que manter Blackjack entre as nuvens, que estavam, felizmente, bem baixas no inverno. Nós voamos ao redor, tentando manter a van branca do Acampamento Meio-Sangue à vista. E se estava frio no solo, estava extremamente frio no ar, com granizo picando minha pele.

Desejava ter trazido algumas das camisetas térmicas laranjas do Acampamento Meio-Sangue que eles vendiam na loja do acampamento, mas depois da história de Phoebe e da camisa com sangue de centauro, não estava tão certo se ainda confiava nos produtos de lá.

Nós perdemos a van duas vezes, mas eu tinha um bom pressentimento que eles iriam para dentro de Manhattan primeiro, então não era tão difícil pegar de novo o rastro deles.

O trânsito estava ruim com os feriados e tudo mais. Já era o meio da manhã antes que elas entrassem na cidade. Aterrissei com Blackjack perto do topo do prédio Chrysler e observei a van branca do acampamento, pensando que iria encostar na estação de ônibus, mas ela apenas continuou dirigindo.

– Aonde Argos os está levando? – eu murmurei.

Ah, Argos não está dirigindo, chefe – Blackjack me disse. – Aquela garota está.

– Qual garota?

A garota Caçadora. Com um tipo de coroa prateada no cabelo.

– Zoë?

Essa mesma. Ei, olhe! Ali tem uma loja de rosquinhas. Podemos pegar alguma coisa para viagem?

Tentei explicar para Blackjack que levar um cavalo alado para uma loja de rosquinhas provocaria um ataque cardíaco em qualquer policial de lá, mas ele não parecia entender. Enquanto isso, a van continuou serpenteando pelo caminho em direção ao Túnel Lincoln. Nunca tinha me ocorrido que Zoë podia dirigir. Quero dizer, ela não parecia ter dezesseis anos. E, de novo, ela era imortal. Imaginei se ela tinha uma licença de Nova York, e se tinha, o que dizia na data de nascimento.

– Bem – eu disse. – Vamos atrás delas.

Estávamos prestes a pular do prédio Chrysler quando Blackjack relinchou alarmado e quase me jogou. Alguma coisa estava se enrolando na minha perna como uma serpente. Alcancei minha espada, mas quando olhei para baixo, não havia nenhuma serpente.

Vinhas – videiras – tinham brotado das rachaduras entre as pedras da construção. Elas estavam envolvendo as patas de Blackjack, chicoteando meus tornozelos de forma que não podíamos nos mover.

– Indo a algum lugar? – Sr. D perguntou.

Ele estava inclinado sobre o prédio com os pés levitando no ar, seu agasalho de pele de leopardo e seu cabelo negro balançando no vento.

Alerta de deus! Blackjack gritou. É o cara do vinho!

Sr. D suspirou, exasperado.

– A próxima pessoa, ou cavalo, que me chamar de ‘cara do vinho’ vai acabar em uma garrafa de Merlot!

– Sr. D – tentei manter minha voz calma enquanto as videiras continuavam envolvendo meus tornozelos – o que você quer?

– Oh, o que eu quero? Você pensou, talvez, que o imortal, todo-poderoso diretor do acampamento não ia perceber você saindo sem permissão?

– Bem... Talvez.

– Eu deveria jogar você desse prédio, sem o cavalo alado, e ver o quão heroico você vai parecer no caminho para baixo.

Cerrei os punhos. Sabia que devia manter a boca fechada, mas o Sr. D estava a ponto de me matar ou me arrastar de volta para o acampamento coberto de vergonha, e eu não suportava qualquer das ideias.

– Por que você me odeia tanto? O que eu fiz para você?

Chamas púrpuras tremeluziram em seus olhos.

– Você é um herói, garoto. Não preciso de outra razão.

– Eu tenho que ir nessa missão! Tenho que ajudar meus amigos. Isso é algo que você não entenderia!

Hum, chef, Blackjack disse nervosamente. Vendo como estamos presos por videiras a quase trezentos metros do chão, você poderia ser mais simpático.

As videiras enrolaram-se com mais força em torno de mim. Abaixo de nós, a van branca estava cada vez mais distante. Logo estaria fora de vista.

– Já lhe contei sobre Ariadne? – Sr. D perguntou. – Princesa jovem e bonita de Creta? Ela gostava de ajudar os amigos, também. De fato, ela ajudou um jovem herói chamado Teseu, também um filho de Poseidon. Ela deu a ele um novelo de fios mágicos que o permitiu achar seu caminho para fora do Labirinto. E você sabe como Teseu retribuiu?

A resposta que eu queria dar era Eu não me importo! Mas não achava que isso faria o Sr. D terminar a história mais rápido.

– Eles se casaram – eu disse. – Felizes para sempre. Fim.

Sr. D zombou.

– Nem tanto. Teseu disse que se casaria com ela. Ele a levou em seu barco e navegou para Atenas. Na metade do caminho de volta, em uma pequena ilha chamada Naxos, ele... Qual é a expressão que vocês mortais usam hoje em dia?... Ele deu o fora nela. Eu a encontrei lá, você sabe. Sozinha. Coração partido. Chorando rios de lágrimas. Ela tinha desistido de tudo, deixado para trás tudo que conhecia, para ajudar um jovem herói que a jogou fora como a uma sandália quebrada.

– Isso foi errado – eu disse. – Mas aconteceu há séculos atrás. O que isso tem a ver comigo?

Sr. D me fitou friamente.

– Eu me apaixonei por Ariadne, garoto. Curei seu coração partido. E quando ela morreu, fiz dela minha esposa imortal no Olimpo. Ela espera por mim mesmo agora. Devo voltar para ela quando tiver terminado com esse maldito século de punição no seu acampamento ridículo.

Eu o encarei.

– Você... você é casado? Mas eu pensei que você estivesse metido em problemas por perseguir uma ninfa da floresta...

– Meu ponto é que vocês heróis nunca mudam. Vocês acusam a nós deuses de sermos convencidos. Deviam olhar para si mesmos. Vocês pegam o que querem, usam quem tiverem que usar, e depois traem todos que estiverem em volta. Então me desculpe se eu não tenho nenhum amor pelos heróis. Eles são um bando de egoístas ingratos. Pergunte a Ariadne. Ou Medeia. Sobre essa questão, pergunte a Zoë Doce-Amarga.

– Como assim, perguntar a Zoë?

Ele balançou a mão em despedida.

– Vá. Siga seus tolos amigos.

As vinhas se desenrolaram das minhas pernas.

Pisquei sem acreditar.

– Você... você está me deixando ir? Assim?

– A profecia diz que pelo menos dois de vocês morrerão. Talvez eu terei sorte e você será um deles. Mas marque minhas palavras, Filho de Poseidon, vivo ou morto, você não provará ser melhor que os outros heróis.

Com isso, Dioniso estalou os dedos. Sua imagem se dobrou como se fosse de papel. Houve um pop e ele tinha sumido, deixando um suave aroma de uvas que rapidamente foi soprado pelo vento.

Perto demais, Blackjack disse.

Concordei com a cabeça, embora por pouco eu não teria ficado menos preocupado se o Sr. D tivesse me arrastado de volta para o acampamento. O fato de ele ter me deixado ir significava que ele realmente acreditava que nós tínhamos uma grande chance de sermos destruídos e carbonizados nessa missão.

– Vamos, Blackjack – eu disse, tentando soar otimista. – Vou comprar umas rosquinhas para você em Nova Jersey.

No fim das contas, não comprei as rosquinhas para Blackjack em Nova Jersey. Zoë dirigiu para o sul como uma louca, e nós já estávamos em Maryland quando ela finalmente encostou em uma parada de descanso. Blackjack praticamente despencou do céu, ele estava tão cansado.

Vou ficar bem, chefe, ele ofegou. Apenas... apenas recuperando o fôlego.

– Fique aqui – falei para ele. – Vou explorar.

”Fique aqui” eu consigo lidar. Posso fazer isso.

Coloquei meu boné de invisibilidade e andei até a loja de conveniência. Era difícil não se esgueirar. Tinha que ficar me lembrando que ninguém podia me ver. Era difícil, também, porque eu tinha que lembrar de sair da frente das pessoas para que elas não trombassem comigo. Pensei em entrar e me aquecer, talvez pegar uma xícara de chocolate quente ou algo assim. Eu tinha uns trocados no bolso. Podia deixar no balcão. Estava pensando se a xícara ficaria invisível quando eu a pegasse, ou se ia ter que lidar com um problema de chocolate quente flutuante, quando todo meu plano foi arruinado por Zoë, Thalia, Bianca e Grover saindo da loja.

– Grover, você tem certeza? – Thalia estava dizendo.

– Bem... quase certeza. Noventa e nove por cento. Tudo bem, oitenta e cinco por cento.

– E você fez isso com bolotas? – Bianca perguntou, como se não pudesse acreditar.

Grover pareceu ofendido.

– É um encanto de rastreamento honrado pelo tempo. Quero dizer. Estou praticamente certo que fiz corretamente.

– Washington D.C. fica a quase cem quilômetros daqui – Bianca disse. – Nico e eu... – ela franziu a testa. – Nós morávamos lá. Isso... Isso é estranho. Eu tinha esquecido.

– Não gosto disso – Zoë disse. – Nós devíamos ir direto para oeste. A profecia disse oeste.

– Ah, como se suas habilidades de rastreamento fossem melhores? – rosnou Thalia.

Zoë deu um passo na direção dela.

– Contestas minhas habilidades, sua serviçal? Tu não sabes nada sobre ser uma Caçadora.

– Ah, serviçal. Você está me chamando de serviçal? Que raios é uma serviçal?

– Wow, vocês duas – Grover disse, nervoso. – Vamos lá. De novo, não!

– Grover tem razão. – Bianca disse. – Washingtin D.C. é nossa melhor aposta.

Zoë não parecia convencida, mas concordou com a cabeça, relutante.

– Muito bem. Vamos continuar andando.

– Você dirigindo vai causar a nossa prisão. – Thalia resmungou. – Eu pareço mais perto de dezesseis anos que você.

– Talvez – Zoë rebateu. – Mas eu dirijo desde que os automóveis foram inventados. Vamos logo.

Enquanto Blackjack e eu continuamos para o sul, seguindo a van, imaginei se Zoë estivera brincando. Eu não sabia quando os carros tinham sido inventados, mas percebi que era como tempos pré-históricos – quando as pessoas assistiam TV preto-e-branco e caçavam dinossauros.

Quantos anos Zoë tinha? E sobre o que o Sr. D tinha falado? Qual experiência ruim ela teve com heróis?

Enquanto chegávamos mais perto de Washington, Blackjack começou a ir mais devagar e perder altitude. Ele estava respirando pesadamente.

– Você está bem? – perguntei a ele.

Tô legal, chefe. Poderia... poderia enfrentar um exército.

– Você não parece tão bem. – Subitamente me senti culpado, porque estive correndo com o pégaso por metade do dia, sem parar, tentando acompanhar o trânsito da rodovia. Mesmo para um cavalo alado, isso tinha que ser duro.

Não se preocupe comigo, chefe! Sou um cara durão.

Percebi que ele estava bem, mas também percebi que Blackjack iria cair no chão antes de reclamar, e eu não queria isso.

Felizmente, a van começou a desacelerar. Cruzou o Rio Potomac para dentro do centro de Washington. Comecei a pensar sobre patrulhas aéreas, mísseis e coisas do gênero. Não sabia exatamente como todas essas defesas funcionavam, e não tinha certeza se pégasos apareciam nos radares militares convencionais, mas não queria descobrir sendo atingido no céu.

– Deixe-me ali – disse para Blackjack. – É perto o suficiente.

Blackjack estava tão cansado que nem reclamou. Ele desceu em direção ao Monumento de Washington e me deixou na grama.

A van estava apenas alguns quarteirões adiante. Zoë tinha estacionado no meio-fio. Olhei para Blackjack.

– Quero que você volte para o acampamento. Descanse um pouco. Vá pastar. Ficarei bem.

Blackjack ergueu sua cabeça, cético.

Tem certeza, chefe?

– Você já fez o suficiente – eu disse. – Vou ficar bem. E uma tonelada de obrigados.

Uma tonelada de feno, talvez, meditou Blackjack. Soa bom. Tudo bem, mas tome cuidado, chefe. Tenho um pressentimento que eles não vieram até aqui para conhecer algo amigável e bonito como eu.

Prometi tomar cuidado. Então Blackjack foi embora, dando duas voltas em torno do monumento antes de desaparecer entre as nuvens.

Olhei para a van branca. Todos estavam saindo. Grover apontou na direção de um dos grandes prédios alinhados ao shopping. Thalia confirmou, e os quatro marcharam contra o vento frio.

Eu comecei a seguir. Mas então congelei.

Uma quadra depois, a porta de um sedan preto se abriu. Um homem de cabelo cinza e corte militar saiu. Ele estava usando óculos escuros e um sobretudo preto. Agora, talvez em Washington, você espere ver caras assim em todo lugar. Mas ficou claro para mim que eu tinha visto esse mesmo carro várias vezes na rodovia, indo para o sul. Esteve seguindo a van.

O sujeito pegou seu telefone celular e falou alguma coisa nele. Então ele olhou em volta, como se estivesse se assegurando de que a orla estava limpa, e começou a andar pelo shopping na direção dos meus amigos.

O pior disso: quando ele se virou para mim, reconheci seu rosto. Era o Dr. Espinheiro, a manticora do Westover Hall.

Com o boné de invisibilidade na cabeça, segui Espinheiro à distância. Meu coração estava acelerado. Se ele tinha sobrevivido à queda daquele penhasco, então Annabeth devia ter também. Meus sonhos estavam certos. Ela estava viva e sendo mantida prisioneira.

Espinheiro manteve distância de meus amigos, tomando cuidado para não ser visto. Finalmente, Grover parou na frente de um grande prédio que dizia MUSEU NACIONAL DO AR E ESPAÇO. O Smithsonian! Estive aqui um milhão de anos atrás com minha mãe, mas tudo pareceu maior naquela vez.

Thalia checou a porta. Estava aberta, mas não havia muitas pessoas entrando. Muito frio, e estava fora do período escolar. Eles deslizaram para dentro.

Dr. Espinheiro hesitou. Não tinha certeza do porquê, mas ele não entrou no museu. Ele virou e partiu através do shopping. Decidi em uma fração de segundo e o segui.

Espinheiro atravessou a rua e subiu os degraus do Museu de História Natural. Havia uma grande placa na porta. Primeiro achei que dizia FECHADO PARA EVENTO PIRADO. Então percebi que PIRADO deveria ser PRIVADO.

Segui Dr. Espinheiro e entrei, através de uma enorme câmara cheia de mastodontes e esqueletos de dinossauros. Havia vozes à frente, vindo de uma série de portas fechadas. Dois guardas estavam em pé do lado de fora. Eles abriram a porta para Espinheiro, e tive que correr para entrar antes que fechassem a porta de novo.

Dentro, o que eu vi era tão terrível que quase arquejei alto, o que provavelmente teria me matado. Eu estava em uma imensa sala circular com uma varanda rodeando o segundo andar. Pelo menos uma dúzia de guardas mortais estava na sacada, mais dois monstros – mulheres reptilianas com cintura de cobras-duplas em vez de pernas. Eu as tinha visto antes. Annabeth as chamou de dracaenae da Cítia.

Mas isso não era o pior. Em pé entre as mulheres serpentes – eu podia jurar que ele estava olhando direto para mim – estava meu antigo inimigo Luke. Ele estava horrível. Sua pele estava pálida e seu cabelo loiro parecia quase cinza, como se tivesse envelhecido dez anos em apenas alguns meses. O brilho de raiva em seus olhos ainda estava lá, e também a cicatriz no lado de seu rosto, onde um dragão uma vez o arranhou. Mas agora a cicatriz estava de um vermelho feio, como se tivesse sido reaberta recentemente.

Ao seu lado, sentado de forma que as sombras o ocultassem, estava outro homem. Tudo que eu conseguia ver eram os nós dos seus dedos nos braços dourados da cadeira, como um trono.

– Bem? – perguntou o homem na cadeira. Sua voz era como a que eu tinha escutado no meu sonho – não tão arrepiante quanto a de Cronos, porém mais profunda e grave, como se a própria terra estivesse falando. Preenchia toda a sala ainda que ele não estivesse gritando.

Dr. Espinheiro tirou os óculos escuros. Seus olhos de duas cores, castanho e azul, brilhavam de excitação. Ele fez uma mesura rígida, então falou no seu estranho sotaque francês:

– Eles estão aqui, General.

– Eu sei disso, seu tolo – ressoou o homem. – Mas onde?

– No museu dos foguetes.

– O Museu do Ar e Espaço – Luke corrigiu, irritado.

Dr. Espinheiro olhou fixamente para Luke.

– Como quiser, senhor.

Tive a sensação que Espinheiro iria em breve atravessar Luke com um de seus espinhos ao chamá-lo de senhor.

– Quantos? – Luke perguntou.

Espinheiro fingiu não escutar.

– Quantos? – o General exigiu.

– Quatro, General – Espinheiro disse. – O sátiro, Grover Underwood. E a garota com cabelo preto espetado e as - como se diz - roupas punks e horrível escudo.

– Thalia – Luke disse.

– E outras duas garotas - Caçadoras. Uma usa uma tiara prateada.

– Essa eu conheço – rosnou o General.

Todos na sala mudaram de posição, desconfortáveis.

– Deixe-me pegá-los – Luke disse ao General. – Nós temos mais que suficiente...

– Paciência – o General disse. – Eles já vão estar de mãos cheias. Enviei um coleguinha para mantê-los ocupados.

– Mas...

– Nós não podemos arriscar você, meu garoto.

– Sim, garoto – Dr. Espinheiro disse com um sorriso cruel. – Você é frágil demais para correr o risco. Permita que eu acabe com eles.

– Não. – O General levantou de sua cadeira, e eu o olhei pela primeira vez.

Ele era alto e musculoso, com pele morena clara e cabelo escuro engomado para trás. Vestia um caro terno de seda marrom como os rapazes da Wall Street usam, mas você nunca confundiria esse homem com um corretor. Ele tinha um rosto bruto, ombros largos, e mãos que podiam quebrar um poste ao meio. Seus olhos eram como pedra. Senti como se estivesse olhando para uma estátua viva. Era inacreditável como ele conseguia sequer se mexer.

– Você já falhou comigo, Espinheiro – ele disse.

– Mas, General...

– Sem desculpas!

Espinheiro recuou. Eu achei que ele era assustador quando o vi pela primeira vez em seu uniforme preto na academia militar. Mas agora, perante o General, Espinheiro parecia um apalermado soldado aspirante. O General era pra valer. Ele não precisava de uniforme. Nasceu para ser comandante.

– Devia jogar você nas profundezas do Tártaro por sua incompetência – o General disse. – Eu o enviei para capturar uma criança de um dos Três Grandes deuses, e você me traz uma magricela filha de Atena.

– Mas você me prometeu vingança – Espinheiro protestou. – Um comando próprio!

– Eu sou o comandante sênior do Lorde Cronos – o General disse. – E vou escolher os tenentes que me tragam resultados! Foi somente graças a Luke que recuperamos nosso plano afinal. Agora saia da minha frente, Espinheiro, até que eu ache outra tarefa inferior para você.

O rosto de Espinheiro ficou roxo de raiva. Pensei que ele ia começar a espumar pela boca ou atirar espinhos, mas ele apenas fez uma reverência desajeitada e deixou a sala.

– Agora, meu garoto – o General se virou para Luke. – A primeira coisa que devemos fazer é isolar a meio-sangue Thalia. O monstro que procuramos virá então para ela.

– As Caçadoras serão difíceis de enganar – Luke disse. – Zoë Doce-Amarga...

– Não fale o nome dela!

Luke engoliu em seco.

– De-desculpe, General. Eu apenas...

O General o calou com um aceno de sua mão.

– Deixe-me mostrar a você, meu garoto, como nós vamos derrotar as Caçadoras.

Ele apontou para um guarda no térreo.

– Você tem os dentes?

O rapaz cambaleou para frente com um pote de cerâmica.

– Sim, General!

– Plante-os – ele disse.

No centro da sala havia um grande círculo de terra, onde acho que uma exposição de dinossauros devia estar. Olhei nervosamente enquanto o guarda tirava dentes brancos afiados de dentro do pote e os enterrava no solo. Ele bateu a terra por cima deles enquanto o General sorria friamente.

O guarda deu um passo para longe da sujeira e limpou as mãos.

– Pronto, General!

– Excelente! Regue-os, e vamos deixar que farejem sua presa.

O guarda pegou um pequeno regador de metal com margaridas pintadas nele, o que era meio bizarro, porque o que ele derramou não era água. Era um líquido vermelho escuro, e tive a sensação que não era Ponche Havaiano.

O solo começou a borbulhar.

– Em breve – o General disse, – vou mostrar a você, Luke, soldados que vão fazer seu exército daquele barquinho parecer insignificante.

Luke cerrou os punhos.

– Gastei um ano treinando minhas forças! Quando o Princesa Andrômeda chegar na montanha, eles serão os melhores...

– Rá – o General disse. – Não vou negar que suas tropas vão servir como uma boa guarda de honra para Lorde Cronos. E você, com certeza, vai ter um papel a desempenhar...

Achei que Luke ficou mais pálido quando o General falou isso.

– mas sob a minha liderança, as forças de Lorde Cronos vão aumentar cem vezes. Ninguém poderá nos deter. Contemple minhas definitivas máquinas mortíferas.

O solo entrou em erupção. Dei um passo atrás, nervoso.

Em cada lugar que um dente havia sido plantado, uma criatura estava se debatendo para fora da lama.

A primeira delas disse:

– Miau?

Era um gatinho. Um pequeno malhado laranja com listras como um tigre. Então apareceu outro, até que havia uma dúzia, rolando e brincando na lama. Todos os encararam sem acreditar. O General rugiu:

– O que é isso? Gatinhos fofinhos?

Onde você achou esses dentes?”

O guarda que trouxe os dentes recuou de medo.

– Da exibição, senhor! Como você disse. O tigre dente de sabre...

– Não, seu idiota! Falei tiranossauro! Junte essas... essas ferinhas peludas infernais e leve-as para fora. E nunca mais me deixe ver sua cara de novo.

O guarda espantado deixou cair o regador. Ele juntou os gatinhos e desembestou para fora da sala.

– Você. – O General apontou outro guarda. – Pegue os dentes certos para mim. AGORA!

O novo guarda saiu correndo para obedecer às ordens.

– Imbecis – murmurou o General.

– É por isso que não uso mortais – Luke disse. – Eles não são confiáveis.

– Eles têm a mente fraca, são fáceis de comprar e violentos – o General disse. – Eu os amo.

Um minuto depois, o guarda entrou apressado na sala com suas mãos cheias de dentes pontudos e largos.

– Excelente – disse o General. Ele subiu no batente da sacada e pulou, a uma altura de seis metros.

Onde ele aterrissou, o chão de mármore rachou debaixo de seus sapatos de couro. Ele levantou, fazendo uma careta, e esfregou seus ombros.

– Maldito torcicolo.

– Outra bolsa quente, senhor? – um guarda perguntou. – Mais Tylenol?

– Não! Vai passar. – O General alisou seu terno de seda, depois apanhou os dentes. – Devo fazer isso eu mesmo.

Ele segurou um dos dentes e sorriu.

– Dentes de dinossauro - rá! Esses tolos mortais nem ao menos sabem quando possuem dentes de dragão. E não é qualquer dente de dragão. Estes vêm da própria antiga Síbaris! Devem servir muito bem.

Ele os plantou na terra, doze ao todo. Então ele esvaziou o regador. Regou o solo com um líquido vermelho, jogou o regador fora e abriu bem os braços.

–Ergam-se!

A lama tremeu. Uma única, esquelética mão surgiu da terra, agarrando o ar. O General olhou para a sacada.

– Rápido, você tem o aroma?

– Ssssssim, lorde – uma das mulheres cobra falou. Ela pegou uma faixa de tecido prateado, do tipo que as Caçadoras usavam.

– Excelente – o General disse. – Uma vez que meus guerreiros captem esse aroma, eles vão perseguir seu dono sem descanso. Nada pode pará-los, nenhuma arma conhecida por meio-sangue ou Caçadora. Eles vão dilacerar as Caçadoras e seus aliados em pedaços. Jogue para cá!

Assim que ele falou isso, esqueletos emergiram do solo. Havia doze deles, um para cada dente que o General tinha plantado. Não eram nada parecidos com os esqueletos de Halloween, ou do tipo que se vê em filmes extravagantes. Estes estavam criando carne enquanto eu assistia, tornando-se homens, mas homens com pele cinza desbotada, olhos amarelos e roupas modernas – camisas cinza apertadas, calças de exército e botas de combate. Se você não olhasse bem de perto, quase podia acreditar que eram humanos, mas sua carne era transparente e seus ossos cintilavam por debaixo, como imagens de raio X.

Um deles olhou diretamente para mim, observando-me friamente, e eu sabia que nenhum boné de invisibilidade iria enganá-lo.

A mulher cobra soltou o lenço e ele flutuou para baixo em direção à mão do General. Assim que ele o entregasse aos guerreiros, eles iriam caçar Zoë e as outras até que fossem extintas.

Eu não tinha tempo para pensar. Corri e pulei com toda a minha vontade, abrindo caminho entre os guerreiros e capturando o lenço no ar.

– O que é isso? – bradou o General.

Aterrissei no pé de um guerreiro esqueleto, que sibilou.

– Um intruso – o General rugiu. – Um camuflado na escuridão. Fechem as portas!

– É Percy Jackson! – Luke gritou. – Só pode ser.

Corri para a saída, mas ouvi um som de rasgado e percebi que o guerreiro esqueleto havia tirado um pedaço da minha manga. Quando olhei de relance para trás, ele estava segurando o tecido perto do nariz, farejando o aroma, passando em volta para seus amigos. Eu queria gritar, mas não podia. Eu me espremi pela porta justamente quando os guardas a bateram atrás de mim.

E então eu corri.

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