sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 16




                              Recebemos ajuda de um dragão

Eis a minha definição de nem um pouco divertido. Voar em um pégaso direto para um helicóptero descontrolado. Se Guido não fosse um excelente piloto, teríamos virado confete.

Eu podia ouvir Rachel gritando lá dentro. De algum jeito, ela não tinha caído no sono, mas eu podia ver o piloto deitado sobre os controles, balançando pra frente e pra trás, enquanto o avião ia direto para um edifício empresarial.

– Ideias? – Eu perguntei a Annabeth.

– Você terá que pegar o Guido e sair – ela disse.

– E o que você vai fazer?

Em resposta, ela gritou:

– Iáá! – E Guido mergulhou.

– Abaixe-se! – Annabeth gritou.

Passamos tão perto das hélices, que senti as lâminas cortando meu cabelo. Voamos pelo lado do helicóptero, e Annabeth segurou a porta.

Foi então que as coisas deram errado.

A asa de Guido bateram contra o helicóptero. Ele despencou comigo em suas costas, deixando Annabeth pendurada na aeronave.

Eu estava tão aterrorizado que mal conseguia pensar, mas enquanto Guido rodopiava, pude ter um lampejo de Rachel puxando Annabeth para dentro.

– Pouse aqui! – Eu gritei para Guido.

Minha asa ele gemeu. Está quebrada.

– Você consegue! – Eu tentei me lembrar desesperadamente do que Silena tinha dito nas aulas de voo de pégaso. – Apenas relaxe a asa. Estique-a e plane.

Caíamos feito uma pedras – direto para o asfalto, noventa metros abaixo. Na última hora, Guido estendeu suas asas. Eu vi os rostos boquiabertos dos centauros, olhando para nós. Então interrompemos nosso mergulho, planamos uns cinquenta metros, e caímos sobre o asfalto – pégaso sobre semideus.

Ai! Guido gemeu. Minhas pernas. Minha cabeça. Minhas asas.

Quíron galopou com sua mala de primeiros socorros, e começou a trabalhar no pégaso.

Eu levantei. Quando olhei para cima, meu coração foi pra minha garganta. O helicóptero estava a segundos de bater no lado do edifício. Então, por milagre, o helicóptero desviou sozinho. Ele girou em um circulo e planou. Lentamente, ele começou a descer.

Pareceu demorar anos, mas finalmente o helicóptero pousou no meio da Quinta Avenida. Eu olhei para o para-brisa, e não podia consegui acreditar no que eu estava vendo. Annabeth estava no comando.



Eu corri enquanto as hélices paravam de rodar. Rachel abriu a porta lateral e arrastou o piloto para fora.

Ela ainda estava vestida como nas férias, com shorts de praia, uma camiseta, e sandálias. Seu cabelo estava embaraçado e seu rosto estava verde devido à corrida de helicóptero.

Annabeth saiu por último.

Eu olhei para ela com admiração.

– Eu não sabia que você pilotava helicópteros.

– E nem eu – ela disse. – Meu pai é louco por aviação. E também, Dédalo tinha algumas anotações sobre máquinas voadoras. Eu só dei o meu melhor nos controles.

– Você salvou minha vida – Rachel disse.

Annabeth flexionou seu ombro machucado.

– É, bem... Mas não vamos fazer disso um hábito. O que você está fazendo aqui, Dare? Você sabe de nada melhor do que voar numa zona de guerra?

– Eu – Rachel olhou para mim. – Eu tinha que estar aqui. Eu sabia que Percy estava em problemas.

– Estava certa – Annabeth grunhiu. – Bem, se vocês me desculparem, eu tenho alguns amigos feridos para cuidar. Ainda bem que tenha dado uma passadinha por aqui, Rachel.

– Annabeth – eu chamei.

Ela desapareceu.

Rachel sentou no meio fio, e colocou sua cabeça entre as mãos.

– Desculpe-me Percy. Eu não queria... Eu sempre estrago tudo.

Era meio difícil discutir com ela, embora eu estivesse feliz que ela estivesse a salvo. Eu olhei na direção onde Annabeth tinha ido, desaparecido no meio da multidão. Eu não conseguia acreditar no que ela tinha feito – salvado a vida de Rachel, aterrissado um helicóptero, e ido embora como se não houvesse nada demais.

– Tudo bem – eu disse a Rachel, mas minhas palavras pareciam vazias. – Então, qual era a mensagem que você queria me contar?

Ela congelou.

– Como você sabe disso?

– Um sonho.

Rachel não pareceu surpresa. Ela puxou seus shorts de praia. Eles estavam cobertos por desenhos, que não eram o de costume dela, mas estes símbolos eu reconhecia: Letras gregas, imagens de contas de campistas, desenhos de monstros e rostos de deuses. Eu não entendia como Rachel podia saber sobre isso. Ela nunca esteve no Olimpo ou no Acampamento Meio Sangue.

– Eu tenho visto coisas também – ela murmurou. – Digo, não através da Névoa. Isso é diferente. Eu tenho desenhado imagens, escrito textos...

– Em grego antigo – eu disse. – Você sabe o que elas significam?

– Era sobre isso que eu queria falar com você. Eu esperava que... Bem, se você tivesse vindo nas férias com a gente, eu esperava que você pudesse me ajudar a descobrir o que estava acontecendo comigo.

Ela olhou para mim suplicadamente. Seu rosto estava bronzeado pela praia. Seu nariz estava descascando. Eu ainda não conseguia superar o choque de ela estar aqui em pessoa. Ela forçou sua família a encurtar suas férias, concordado em entrar em uma escola horrível, e voado em um helicóptero direto para uma batalha de monstros só para me ver. Do seu modo, ela era tão corajosa quanto Annabeth.

Mas o que estava acontecendo com ela e essas suas visões, realmente estavam me enlouquecendo. Talvez fosse algo que acontece com todos os mortais que podem ver pela Névoa. Mas minha mãe nunca tinha falado sobre algo assim. E as palavras de Héstia sobre a mãe de Luke continuavam voltando a minha cabeça: May

Castellan foi longe demais. Ela tentou ver demais.

– Rachel – falei. – Bem que eu queria saber. Talvez pudéssemos perguntar a Quíron...

Ela se encolheu como se tivesse levado um choque.

– Percy, algo esta prestes a acontecer. Uma armadilha que termina em morte.

– Como assim? Morte de quem?

– Eu não sei – ela olhou para os lados nervosamente. – Você não sente?

– Essa era a mensagem que você queria me contar?

– Não. – Ela hesitou. – Desculpe-me. Eu não estou sendo clara, mas esse pensamento veio até mim. A mensagem que escrevi na praia era diferente. Ela tinha seu nome escrito.

– Perseu – Eu lembrei. – Em grego antigo.

Rachel concordou.

– Eu não sei o que significa. Mas eu sei que é importante. Você tem que ouvi-la. Ela dizia: Perseu, você não é o herói.

Eu olhei para ela como se tivesse me batido.

– Você viajou milhares de quilômetros para me dizer que eu não sou o herói?

– É importante – ela insistiu. – Isso vai influenciar o que você fizer.

– Não sou o herói da profecia? – Eu perguntei. – Não sou o herói que derrota Cronos? O que você está querendo dizer?

– Eu... Desculpe-me, Percy. Isso é tudo o que sei. Eu tinha que te dizer porque...

– Bem! – Quíron veio galopando. – Essa deve ser a Senhorita Dare.

Eu queria gritar para ele ir embora, mas é claro que eu não poderia. Eu tentei manter meu controle. Senti-me como se tivesse outro furacão pessoal rodando ao meu redor.

– Quíron, Rachel Dare – eu disse. – Rachel, esse é o meu professor Quíron.

– Olá – Rachel disse melancolicamente. Ela não parecia muito surpresa por Quíron ser um centauro.

– Você não esta adormecida Senhorita Dare – ele percebeu. – E no entanto, você é uma mortal...

– Eu sou uma mortal – ela concordou, como se fosse uma conclusão óbvia. – O piloto adormeceu assim que passamos pelo rio. Eu não sei por que eu não dormi. Eu só sabia que eu tinha que estar aqui, para avisar Percy.

– Avisar o Percy?

– Ela tem visto coisas – eu disse. – Escrevendo textos e fazendo desenhos.

Quíron levantou uma sobrancelha.

– Verdade? Conte-me.

Ela disse a ele o mesmo que tinha me dito.

Quíron acariciou sua barba.

– Senhorita Dare... Talvez devêssemos conversar.

– Quíron – falei sem pensar. Eu tive uma horrível visão do Acampamento Meio Sangue na década de noventa, e os gritos de May Castellan vindos do sótão. – Você... Você ajudará Rachel, não é? Digo, você a avisará que ela tem que tomar cuidado com essa coisa. Sem ir muito longe.

Sua cauda balançou como quando ele fica muito ansioso.

– Sim, Percy. Eu darei o meu melhor para entender o que está acontecendo e aconselhar senhorita Dare, mas isso deverá levar um tempo. Enquanto isso, você deve descansar. Nós colocamos o carro dos seus pais em segurança. O inimigo parece estar aguardando por enquanto. Nós espalhamos camas pelo Empire State Bulding. Descanse um pouco.

– Todo mundo continua me falando pra descansar – eu lamentei. – Eu não preciso dormir.

Quíron forçou um sorriso.

– Você já se olhou recentemente, Percy?

Eu olhei para minhas roupas, que estavam queimadas, despedaçadas, em farrapos, devido a minha ultima noite de batalhas.

– Estou horrível – admiti – mas você acha que eu consigo dormir depois de tudo o que aconteceu?

– Você pode ser invulnerável em combate – Quíron censurou – mas isso só deixa seu corpo cansado mais rápido. Eu me lembro de Aquiles. Sempre que aquele garoto não estava lutando, ele estava dormindo. Ele devia tirar umas vinte sonecas por dia. Você, Percy, precisa de seu descanso. Você pode ser nossa única esperança.

Eu queria dizer que eu não era a única esperança deles. De acordo com Rachel, eu nem ao menos era o herói. Mas o olhar nos olhos de Quíron deixava claro que ele não levaria um não como resposta.

– Claro – eu lamentei. – Conversem.

Eu me arrastei para o Edifício Empire State. Quando eu olhei para trás, Rachel e Quíron estavam conversando sério, como se eles estivessem discutindo os preparativos do funeral.

Dentro do saguão, eu encontrei uma cama vazia e caí, certo de que eu não seria capaz de dormir. Um segundo depois, meus olhos se fecharam.



Em meus sonhos, eu estava de volta aos jardins de Hades. O Senhor dos Mortos andava de um lado para o outro, tapando seus ouvidos enquanto Nico o seguia, balançando os braços.

– Você tem que fazer.

Demeter e Perséfone sentavam atrás deles na mesa de café da manhã. Ambas pareciam entediados. Demeter despejava pedaços molhados de trigo em quatro grandes tigelas. Perséfone estava mudando os arranjos de flores magicamente na mesa, mudando as flores de vermelho para amarelo com bolinhas.

– Eu não tenho que fazer nada! – Os olhos de Hades brilharam. – Eu sou um deus!

– Pai – Nico disse. – Se o Olimpo cair, a segurança de seu palácio não vai adiantar. Você vai desaparecer também.

– Eu não sou um Olimpiano! – Ele gritou. – Minha família já deixou isso bem claro.

– Você é – Nico disse. – Quer você queria, ou não.

– Você viu o que eles fizeram com sua mãe – Hades disse. – Zeus a matou. E você quer que eu ajude eles? Eles merecem o que está por vir.

Perséfone suspirou. Ela passou seus dedos pela mesa, transformando, distraidamente, o faqueiro em rosas.

– Poderíamos não falar dessa mulher, por favor?

– Você sabe o que ajudaria esse garoto? – Demeter meditou. – Agricultura.

Perséfone rolou os olhos.

– Mãe...

– Seis meses atrás de um arado. Excelente para a formação de caráter.

Nico se pôs diante de seu pai, forçando Hades a encará-lo.

– Minha mãe sabia sobre família. Foi por isso que ela não quis nos deixar. Você não pode abandonar sua família porque eles fizeram algo horrível. Você causou coisas horríveis a eles também.

– Maria morreu! – Hades lembrou a ele.

– Você não pode se excluir dos outros deuses!

– Fiz isso muito bem durante milhares de anos.

– E isso o fez sentir melhor? – Nico disse. – Aquela maldição que lançou ao Oráculo te ajudou de alguma forma? Guardar rancor é um defeito fatal. Bianca me advertiu sobre isso... e tinha razão.

– Para semideuses! Eu sou imortal, todo-poderoso! Eu não ajudaria os outros deuses nem que eles me implorassem, nem se Percy Jackson implorasse...

– Você é tão rejeitado quanto eu sou! – Nico gritou. – Pare de guardar rancor por isso e faça algo de útil uma vez na vida. Esse será o único jeito de eles te respeitarem!

A palma da mão de Hades se encheu com fogo negro.

– Vá em frente – Nico disse. – Acabe comigo. É o que os outros deuses esperam de você mesmo. Prove a eles que estão certos.

– Sim, por favor – Demeter pediu. – Acabe com ele.

Perséfone suspirou.

– Ah, eu não sei. Eu preferiria lutar em uma guerra a comer outra tigela de cereal. Isso é um tédio.

Hades uivou em ódio. Sua bola de fogo atingiu uma árvore prateada bem do lado de Nico, derretendo-a em uma poça de um liquido de metal.

E meus sonhos mudaram.

Eu estava parado do lado de fora das Nações Unidas, cerca de meio quilômetro a oeste do Edifício Empire State. Os exércitos do Titã tinham armado um exército ao redor do complexo da ONU. Os mastros estavam levantados com troféus horríveis – capacetes e partes de armaduras de campistas derrotados. Ao longo da Quinta Avenida, gigantes afiavam seus machados. Telquines reparavam suas armaduras improvisadas.

Cronos andava no topo do Plaza, segurando sua foice, assim suas dracaenae guardas mantinham distância. Ethan Nakamura e Prometeu estavam perto, fora de alcance. Ethan estava agitado com as correias de seu escudo, mas Prometeu parecia tão calmo e sereno quanto jamais foi em seu smoking.

– Odeio esse lugar – Cronos grunhiu. – Nações Unidas. Como se a humanidade pudesse se unir. Lembre-me de pôr a baixo esse edifício depois de destruirmos o Olimpo.

– Sim senhor. – Prometeu sorriu como se a raiva de seu senhor o tivesse acalmado. – Destruiremos os estábulos no Central Park também? Eu sei o quanto os cavalos o aborrecem.

– Não deboche de mim, Prometeu! Esses malditos centauros vão lamentar ter se intrometido. Eles servirão de alimento pros cães infernais, começando por aquele meu filho - o fracote do Quíron.

Prometeu deu de ombros.

– Aquele fracote destruiu um exercito de telquines com suas flechas.

Cronos levantou sua foice e cortou um mastro ao meio. As cores nacionais do Brasil caíram sobre o exército, amassando uma dracaenae.

– Nós o destruiremos – Cronos berrou. – Essa é a hora de libertar o drakon. Nakamura, você fará isso.

– S-sim, senhor. Ao pôr do sol?

– Não – Cronos disse. – Imediatamente. Os defensores do Olimpo estão feridos seriamente. Eles não esperam um ataque rápido. Além do mais, sabemos que esse drakon eles não podem matar.

Ethan pareceu confuso.

– Senhor?

– Não se preocupe Nakamura. Apenas cumpra minha ordem. Eu quero o Olimpo em ruínas na hora em que Tifão chegar à Nova York. Acabaremos com os deuses completamente!

– Mas, meu senhor – Ethan disse. – Sua regeneração.

Cronos apontou para Ethan, e o semideus congelou.

– Parece – Cronos disse – que eu preciso de regeneração?

Ethan não respondeu. Algo difícil de fazer quando você esta congelado. Cronos estalou seus dedos e Ethan caiu.

– Em breve – o Titã grunhiu – esse corpo em breve será desnecessário. Não descansaremos com a vitória tão perto. Agora, vá!

Ethan saiu cambaleando.

– Isso é perigoso, senhor – Prometeu avisou. – Não seja apressado.

– Apressado? Eu definhei por três mil anos nas profundezas do Tártaro, e você me chama de apressado? Eu cortarei Percy em milhares de pedacinhos.

– Vocês já se encontraram três vezes – Prometeu lembrou. – E você ainda diz que isso está alem da dignidade de um Titã lutar com um mero mortal. Eu me pergunto se esse seu corpo mortal está influenciando você, fraquejando seu julgamento.

Cronos virou seus lhos brilhantes para o outro Titã.

– Você está me chamando de fraco?

– Não, meu senhor. Eu só disse que...

– Sua lealdade está dividida? – Cronos perguntou. – Talvez você sinta falta de seus velhos amigos, os deuses. Você quer se juntar a eles?

Prometeu empalideceu.

– Eu retiro o que disse, meu senhor. Suas ordens serão cumpridas. – Ele se virou para os exércitos e gritou: – PREPAREM-SE PARA A BATALHA!

As tropas começaram a se agitar.

De algum lugar atrás do complexo da ONU, um rugido de raiva chacoalhou a cidade – um som de um drakon acordando. O barulho era tão horrível que me acordou, e eu percebi que ainda podia ouvi-lo a quilômetros de distância.

Grover parou ao meu lado, parecendo nervoso.

– O que foi isso?

– Eles estão vindo – eu disse a ele. – E estamos em apuros.



O chalé de Hefesto estava sem fogo grego. O chalé de Apolo e as Caçadoras estavam catando suas flechas. A maioria de nós já havia tomado tanta ambrosia e néctar que não aguentávamos mais.

Tínhamos dezesseis campistas, quinze Caçadoras, e meia dúzia de sátiros estavam na área de combate. O resto tinha se refugiado no Olimpo. Os Pôneis de Festa estavam tentando se alinhar, mas eles estavam rindo e brincando e todos eles cheiravam a root beer. Os Texanos estavam enfrentando os do Colorado. Os Missouri estavam dividindo terreno com os Illinois. As chances eram bem grandes de que o exército acabaria lutando entre si do que com o inimigo.

Quíron galopou com Rachel em suas costas. Eu senti uma pontada de raiva, porque Quíron quase nunca dá uma carona a alguém, e nunca a um mortal.

– Sua amiga aqui tem uns insights úteis, Percy – ele disse.

Rachel corou.

– São algumas coisas que andei vendo.

– Um drakon – Quíron disse. – Um drakon de Lídia, para ser exato. O tipo de monstro mais antigo e perigoso.

Eu olhei para ela.

– Como você sabe disso?

– Eu não tenho certeza – Rachel admitiu. – Mas esse drakon tem um destino particular. Ele será morto por uma criança de Ares.

Annabeth cruzou os braços.

– Como é possível você saber disso?

– Eu só vi. Não sei explicar.

– Bem, vamos rezar para que você esteja errada. – Eu disse. – Porque estamos um tanto carentes de crianças de Ares... – Uma lembrança horrível me correu, e eu amaldiçoei em Grego Antigo.

– O quê? – Annabeth perguntou.

– O espião – eu disse a ela. – Cronos disse: Sabemos que eles não podem derrotar esse drakon. O espião tem o mantido informado. Cronos sabe que o chalé de Ares não esta conosco. Ele pegou de propósito um monstro que não podemos matar.

Thalia fechou a cara.

– Se eu por acaso por as mãos nesse espião, ele vai se arrepender amargamente. Talvez possamos mandar outro mensageiro para o acampamento...

– Eu já fiz isso – Quíron disse. – Blackjack está a caminho. Mas se Silena não for capaz de convencer Clarisse, Eu duvido que Blackjack consiga...

Um rugido fez o chão tremer. Parecia bem perto.

– Rachel – eu disse. – Entre no edifício.

– Eu quero ficar.

Uma sombra bloqueou o sol. Do outro lado da rua, o drakon deslizava ao lado de um arranha-céu. Ele rugiu, e milhares de janelas despedaçaram-se.

– Pensando melhor – Rachel disse baixinho. – Vou entrar.



Deixe-me explicar: existem dragões e existem drakons.

Drakons são muitos milênios mais antigos do que dragões. A maioria não tem asas. A maioria não cospe fogo (embora alguns cuspam). Todos são venenosos. Todos são imensamente fortes, com escamas mais fortes que titânio. Seus olhos podem te paralisar; não a paralisia do tipo você-vai-virar-pedra da Medusa, mas a paralisia tipo, oh-meus-deuses-aquela-cobra-gigante-vai-me-comer, que é bem pior.

Nós tínhamos tido aulas de lutas contra drakons, mas não tinha como se preparar para uma serpente de sessenta metros, tão larga quanto um ônibus escolar descendo pelo lado de um edifício, seus olhos como faróis e sua boca cheia de dentes bem afiados, grandes como presas de elefante.

Eu quase senti falta da porca voadora.

Entretanto, o exército inimigo avançava pela Quinta Avenida. Fizemos o melhor para tirar os carros do caminho, para manter os mortais a salvo, mas isso só facilitou a aproximação do inimigo. Os Pôneis de Festa balançavam suas caudas nervosamente. Quíron galopava de cima para baixo em seus territórios, encorajando-os para ficarem firmes e pensarem na vitória e cervejas amanteigadas, mas eu percebi que a qualquer segundo eles entrariam em pânico e fugiriam.

– Deixem o drakon comigo. – Minha voz suou como um pequeno guincho. Depois eu gritei mais alto: – DEIXEM O DRAKON COMIGO! Todos os outros se alinhem contra o exército inimigo!

Annabeth veio para perto de mim. Ela tinha posto seu capacete de coruja sobre seu rosto, mas eu podia dizer que seus olhos estavam vermelhos.

– Você vai me ajudar? – Eu perguntei.

– É isso o que eu faço – ela disse tristemente. – Eu ajudo meus amigos.

Eu me senti um tremendo idiota. Eu queria puxá-la para um canto e dizer a ela que eu não queria que Rachel estivesse ali, que essa não foi minha ideia, mas eu não tinha tempo.

– Fique invisível – eu disse. – Procure por aberturas em suas escamas, enquanto eu o mantenho ocupado. Cuide-se.

Eu assoviei.

– Sra O’Leary, junto!

“ROOF!”

Meu cão infernal correu por entre as frotas de centauros e me deu uma lambida que suspeitamente cheirava a pizza de pepperoni.

Então, saquei minha espada e fomos de encontro ao monstro.



O drakon estava três andares acima de nós, deslizando pelos lados do edifício como se ele medisse nossas forças. Onde quer que ele olhasse, centauros congelavam de medo.

Do lado norte, o exército inimigo avançou em direção aos Pôneis de Festa, e nossa armada se desfez. O drakon pulou, engolindo três centauros californianos em uma só bocada, antes mesmo de eu conseguir me aproximar.

Senhora O’Leary se jogou pelo ar – uma sombra negra mortal com dentes e garras. Normalmente, um cão infernal se jogando é uma visão horrível, mas perto do drakon, Sra O’Leary parecia uma bonequinha de dormir para crianças. Suas garras bateram inofensivamente nas escamas do drakon. Ela atingiu a garganta do monstro mas não conseguiu fazer nem um arranhão. Entretanto, seu peso foi o suficiente para tirar o drakon da lateral do edifico. Eles caíram atrapalhadamente e bateram na calçada, cão infernal e serpente enroscaram-se. O drakon tentou morder Senhora O’Leary, mas ela estava muito perto da boca da serpente. Veneno espalhou-se por todo canto, levando centauros a sujeira e uns poucos monstros, mas Senhora O’Leary passou ao redor da cabeça da serpente, arranhando e mordendo.

– IÁÁÁ! – Eu cravei Contracorrente bem no olho esquerdo do monstro. O holofote se apagou. O drakon sibilou, ergueu-se e contratacou, mas eu rolei para o lado.

Ele arrancou um pedaço do tamanho de uma piscina do asfalto. Ele se virou pra mim com seu olho bom, e eu olhei para seus dentes, então não paralisei.

Sra O’Leary fez seu melhor para conseguir distraí-lo. Ela pulou na cabeça do monstro arranhando-o como uma grande peruca preta irritada.

O restante da batalha não estava indo bem. Os centauros tinham entrado em pânico devido ao ataque dos gigantes e demônios. Uma camisa laranja do acampamento apareceu no meio do mar de batalha, mas rapidamente desapareceu.

Flechas voavam. Ondas de fogo explodiam em ambos os exércitos, mas estavam se aproximando cada vez mais da entrada do Edifício Empire State. Estávamos perdendo terreno.

De repente Annabeth materializou-se nas costas do drakon. Seu boné caiu de sua cabeça assim que ela cravou sua faca de bronze em uma fissura nas escamas da serpente.

O drakon rugiu. Ele cambaleou, derrubando Annabeth.

Eu a alcancei, antes que ela caísse no chão. Eu a tirei do caminho assim que a serpente rolou, esmagando um poste bem onde ela estava.

– Obrigada – ela disse.

– Eu te disse pra tomar cuidado!

– É, bem, ABAIXE-SE!

Foi a vez dela de me salvar. Ela me empurrou assim que os dentes do monstro assaram por cima de minha cabeça. Senhora O’Leary se jogou contra o rosto do drakon para chamar sua atenção, e nós saímos do caminho.

Enquanto isso, nossos aliados estavam recuados nas portas do Edifício Empire State. O exército inimigo inteira os cercava.

Estávamos sem opção. Não tinha mais ajuda chegando. Annabeth e eu teríamos que recuar antes que fossemos isolados do Monte Olimpo.

Então eu ouvi um estrondo no norte. Não era um som que você costuma ouvir em Nova York, mas eu reconheci imediatamente: rodas de bigas.

Uma voz de garota gritou:

– ARES!

E uma dúzia de bigas de guerra entrou na batalha. Cada uma continha uma bandeira vermelha com o símbolo de uma cabeça de javali. Cada tinha um par de cavalos esqueletos as puxando com crinas de fogo. Trinta novos guerreiros no total, armaduras brilhantes e olhos cheios de ódio, baixaram suas lanças ao mesmo tempo – formando uma parede da morte.

– Os filhos de Ares! – Annabeth disse em surpresa. – Como Rachel sabia?

Eu não tinha uma resposta. Mas na liderança, tinha uma garota com uma armadura vermelha familiar, seu rosto coberto por um capacete de cabeça de javali.

Ela segurava no ar uma lança que estalava com eletricidade. Clarisse tinha vindo pro resgate. Enquanto a metade das bigas atacava o exército de monstros, Clarisse liderou os outros seis direto pro drakon.

A serpente ergueu-se e tentou se livrar de Sra O’Leary. Meu pobre animalzinho atingiu a lateral do edifício com um ganido. Eu corri para ajudá-la, mas a serpente já tinha se recomposto para nova ameaça. Mesmo com um só olho, seu brilho foi suficiente pra paralisar dois condutores das bigas. Eles bateram numa fila de carros. As outras quatro bigas continuaram avançando. O monstro mostrou suas presas e teve sua boca preenchida por dardos de bronze celestial.

– IIIISSS!!!! – gritou ele, o que provavelmente devia ser um AIIIIII! na língua do drakon.

– Ares, comigo! – Clarisse gritou.

Sua voz pareceu mais aguda do que o normal, mas eu acho que não era uma surpresa, levanto em conta que ela estava lutando.

Do outro lado da rua, a chegada das seis bigas deu uma nova esperança aos Pôneis de Festa. Eles se reuniram nas portas do Edifício Empire State, e o exército inimigo ficou momentaneamente confuso.

Enquanto isso, as bigas de Clarisse cercaram o drakon. Lanças quebravam-se na pele do monstro. Cavalos esqueletos cuspiam fogo. Mais duas bigas foram derrubadas, mas os guerreiros simplesmente se colocavam de pé, sacavam suas espadas, e iam ao trabalho. Eles atacavam fissuras nas escamas da criatura. Eles se desviavam do veneno como se eles tivessem treinado por toda sua vida, que é claro, eles tinham.

Ninguém poderia dizer que os campistas de Ares não eram corajosos. Clarisse estava à frente, atacando com sua lança o rosto do drakon, tentando cegar seu outro olho. Mas assim que olhei, algo começou a dar errado. O drakon engoliu um dos campistas de Ares em uma abocanhada. Ele jogou um para um lado e jogou veneno num terceiro, que entrou em pânico, com sua armadura derretendo.

– Temos que ajudar – Annabeth disse.

Ela estava certa. Eu estava lá parado em espanto. Sra O’Leary tentou levantar, mas ganiu de novo. Uma de suas patas estava sangrando.

– Fique aí, garota – eu disse a ela. – Você já ajudou muito.

Annabeth e eu pulamos nas costas do monstro e corremos até sua cabeça, tentando desviar sua atenção de Clarisse.

Seus colegas de chalé jogavam dardos, a maioria quebrava, mas algumas se alojavam nos dentes do monstro. Ele fechava sua mandíbula até sua boca estar cheia de sangue verde, um veneno amarelo espumante, e pedaços de armas.

– Você consegue! – gritei para Clarisse. – Uma criança de Ares está destinada a matá-lo!

Através de seu capacete, eu podia ver seus olhos – mas não conseguia dizer se estava certo. Seus olhos azuis brilhavam de medo. Clarisse nunca ficou assim. E ela não tinha olhos azuis.

– ARES! – ela gritou, naquela voz aguda. Ela ergueu sua lança e atacou o drakon.

– Não – eu murmurei. – ESPERE!

Mas o monstro olhou para ela – quase como contente – e jogou veneno bem em seu rosto.

Ela gritou e caiu.

– Clarisse! – Annabeth pulou das costas do monstro e correu para ajudar, enquanto os outros campistas tentaram defender seus consultores caídos.

Eu cravei Contracorrente entre duas das escamas da criatura e chamei sua atenção para mim. Eu fui empurrado, mas me mantive em pé.

– ANDA, sua estúpida lagartixa! Olhe pra mim!

A partir daí, eu não vi nada alem de dentes. Eu recuava e me desviava do veneno, mas eu não conseguia machucar a coisa.

Pelo canto dos meus olhos, eu pude ver uma biga voadora vindo pela Quinta Avenida. Então alguém correu ao nosso encontro. Uma voz de garota, chorosa, cheia de dor.

– NÃO! Maldita seja, POR QUÊ?

Ousei olhar naquela direção, mas o que eu vi não fazia sentido. Clarisse estava deitada no chão, onde ainda estava caída. Sua armadura derretida com o veneno. Annabeth e os campistas de Ares estavam tentando tirar seu capacete. Ajoelhada perto deles, com seu rosto coberto por lágrimas, estava uma garota em roupas do acampamento. Era... Clarisse.

Minha cabeça rodou. Por que eu não percebi isso antes? A garota na armadura de Clarisse era muito mais magra, não tão alta. Mas por que alguém fingiria ser Clarisse? Eu estava tão aturdido, que o drakon quase me partiu ao meio.

– POR QUÊ? – A Clarisse verdadeira exigiu, segurando a outra garota em seus braços enquanto os campistas tentavam remover seu capacete corroído por veneno.

O drakon tirou sua cabeça da parede de tijolos e rugiu em fúria.

– Cuidado! – Chris avisou.

Ao invés de vir em minha direção, o drakon virou-se na direção da voz de Chris. Ele mostrou suas presas para o grupo de semideuses. A Clarisse verdadeira olhou para o drakon, seu rosto coberto por puro ódio.

Eu só vi um olhar assim tão intenso uma vez em minha vida. Seu pai, Ares, tinha feito a mesma expressão quando eu o enfrentei em um combate sozinho.

– VOCÊ QUER MORRER? – Clarisse gritou para o drakon. – POIS BEM, ENTÃO VENHA!

Ela pegou sua lança das mãos da garota caída. Sem nenhuma armadura ou escudo, ela avançou para o drakon.

Eu tentei vencer a distância para ajudar, mas Clarisse era muito rápida. Ela pulou para o lado assim que o monstro atacou, pulverizando o chão na frente dela. Foi quando ela pulou na cabeça da criatura. Enquanto ele se erguia, ela cravou sua lança no olho bom da criatura com tanta força que ela partiu a ponta, libertando toda a mágica da arma.

Eletricidade percorreu a cabeça da criatura, causando um tremor em todo seu corpo. Clarisse pulou, rolando seguramente pela calçada, enquanto fumaça fervia em sua boca. A carne do drakon se dissolveu, e ele caiu em uma armadura escamosa vazia.

O restante de nós olhava para Clarisse em admiração. Eu nunca vi ninguém derrubar um monstro tão grande sozinho. Mas Clarisse não parecia se importar. Ela correu ao encontro da garota que tinha roubado sua armadura.

Annabeth finalmente conseguiu retirar o capacete da menina. Todos nós nos juntamos: Os campistas de Ares, Chris, Clarisse, Annabeth e eu. A batalha ainda continuava pela Quinta Avenida, mas naquele momento, não existia nada, exceto nosso pequeno círculo e a garota caída.

Suas feições, uma vez belas, estavam totalmente deformadas pelo veneno. Eu poderia dizer que nenhum néctar ou ambrosia a salvaria.

Algo ruim está prestes a acontecer. As palavras de Rachel soavam em meus ouvidos. Uma armadilha que termina em morte.

Agora eu sabia do que ela estava falando, e eu sabia quem tinha liderado o chalé de Ares à batalha.

Eu olhava para o rosto inerte de Silena Beauregard.

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