sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 17




                                 Sento me na cadeira quente

E– O que você estava pensando? – Clarisse deitava a cabeça de Silena em seu colo.

Silena tentou engolir, mas seus lábios estavam secos e rachados.

– Você não entende... ouça. O Chalé... Só seguiriam você.

– Então, você roubou minha armadura – Clarisse disse incrédula. – Esperou até eu e Chris sairmos em patrulha, e roubou minha armadura e fingiu ser eu. – Ela olhou para seus irmãos. – E nenhum de vocês notou?

Os campistas de Ares tiveram um súbito interesse em suas botas de combate.

– Não os culpe – Silena disse. – Eles queriam... queriam acreditar que eu era você.

– Sua estúpida garota de Afrodite – Clarisse soluçou. – Você enfrentou um drakon? Por quê?

– Tudo minha culpa – Silena disse. Uma lágrima corria pelo lado de seu rosto. – O drakon, a morte de Charlie... O acampamento em perigo...

– Pare! – Clarisse disse. – Isso não é verdade.

Silena abriu sua mão. Na palma estava uma pulseira de prata com um pingente de uma foice, a marca de Cronos.

Um frio envolveu meu coração.

– Você era a espiã.

Silena tentou assentir.

– Eu gostava de Charlie, Luke era legal comigo. Ele era tão encantador. Bonito. Depois de um tempo, eu não queria mais ajudá-lo, mas ele me ameaçou se contasse. Ele jurou... Ele jurou que eu iria salvar vidas. Menos pessoas iriam se machucar. Disse-me que não faria mal... para Charlie. Ele mentiu para mim.

Eu encontrei os olhos de Annabeth. Ela estava pálida. Parecia como se alguém tivesse simplesmente arrancado o mundo debaixo de seus pés.

Atrás de nós, a batalha rugia.

Clarisse gritou para seus irmãos.

– Vão ajudar os centauros. Protejam as portas. VÃO!

Eles saíram às pressas para se juntar à luta.

Silena respirava pesado e dolorosamente.

– Perdoe-me.

– Você não vai morrer – Clarisse insistiu.

– Charlie... – Os olhos de Silena estavam a um milhão de quilômetros dali. – Ver Charlie...

Ela não falou novamente.

Clarisse continuou a segurá-la e a chorar. Chris colocou uma mão em seu ombro.

Finalmente Annabeth fechou os olhos de Silena.

– Temos que lutar. – A voz Annabeth estava sensível. – Ela deu sua vida para nos ajudar. Agora temos que honrá-la.

Clarisse fungou e limpou o nariz.

– Ela foi uma heroína, entenderam? Uma heroína.

Eu concordei.

– Vamos Clarisse.

Ela pegou uma espada de um de seus irmãos caídos.

– Cronos vai pagar.



Eu gostaria de dizer que afastei o inimigo do Empire State Building. A verdade é que Clarisse fez todo o trabalho. Mesmo sem sua armadura e a lança, ela era um demônio. Montou em sua carruagem e foi direto para o exército dos Titãs esmagando tudo em seu caminho.

Ela estava muito inspirada, até os centauros em pânico começaram a reunir-se. Caçadoras tirando flechas dos mortos e lançando uma após a outra no inimigo. Os campistas do chalé de Ares cortavam e picavam os monstros, e eles estavam adorando. Os monstros começaram a recuar para a Rua 35.

Clarisse guiou a carruagem até a couraça do drakon e passou uma corda por suas cavidades oculares. Chicoteou seus cavalos e decolou arrastando o drakon atrás da carruagem como se fosse um dragão chinês de ano novo. Ela se lançou contra o inimigo, gritando insultos e ousando abrir caminho entre eles. Enquanto cavalgava, percebi que estava literalmente radiante. Uma aura de fogo vermelho tremulava ao seu redor.

– A bênção de Ares – Thalia disse. – Eu nunca tinha visto isso pessoalmente.

Por um momento, Clarisse estava invencível como eu. O inimigo jogava lanças e flechas, mas nada a acertava.

– EU SOU CLARISSE, MATADORA DE DRAKONS – ela gritou. – Eu vou matar todos vocês! Onde está Cronos? Tragam-no! Será que ele é um covarde?

– Clarisse! – Eu gritei. – Pare. Recue!

– Qual é o problema, senhor Titã? – ela gritou. – VENHA ATÉ AQUI!

Não houve nenhuma resposta dos inimigos. Aos poucos, eles recuaram para trás de uma parede de escudos das dracaenae.

Enquanto Clarisse circulava em volta da Quinta Avenida, ninguém ousou cruzar o seu caminho. A carcaça de um drakon de setenta metros de comprimento batia contra o pavimento fazendo um barulho como de mil facas raspando o concreto.

Enquanto isso, atendemos nossos feridos, trazendo-os para o interior do átrio. Muito tempo depois que o inimigo já havia recuado e saído de nossa vista, Clarisse ainda subia e descia a avenida com o seu terrível troféu, exigindo a presença de Cronos. Chris disse:

– Vou ficar de olho nela. Ela vai cansar daqui a pouco. Daí a levo para dentro.

– E o acampamento? – Eu perguntei. – Tem alguém lá?

Chris balançou a cabeça.

– Só Argos e os espíritos da natureza.

– Peleu, o dragão, ainda está guardando a árvore.

– Eles não vão durar muito tempo – eu disse. – Mas eu fiquei feliz porque vocês vieram.

Chris assentiu tristemente.

– Lamento que tenhamos demorado tanto. Tentei argumentar com Clarisse. Disse que não havia sentido em defender o acampamento se vocês morressem. Todos os nossos amigos estão aqui. Sinto muito por Silena...

– Minhas Caçadoras vão ajudá-los a ficar de guarda – Thalia disse. – Annabeth e Percy, você devem ir para o Olimpo. Eu tenho uma sensação de que eles precisam de vocês lá em cima, para preparar nossa defesa final.



O porteiro havia desaparecido do saguão. Seu livro estava com a capa voltada para baixo na mesa e a cadeira encontrava-se vazia. O resto do saguão, no entanto, estava lotado de campistas feridos, Caçadoras e sátiros.

Connor e Travis Stoll nos encontraram no elevador.

– É verdade? – Connor perguntou. – Sobre Silena?

Eu concordei.

– Ela morreu como heroína.

Travis pareceu meio desconfortável.

– Humm, eu também ouvi...

– Chega – eu insisti. – Fim da história.

– Certo. – Travis resmungou. – Escute, achamos que o exército inimigo terá problemas em subir pelo elevador. Terão que ir em pequenos grupos. E os gigantes não vão caber.

– Essa é a nossa maior vantagem – eu disse. – Há alguma maneira de desativar o elevador?

– É mágico – Travis disse. – Normalmente você precisaria de um cartão-chave, mas o porteiro desapareceu. Isso significa que as defesas também estão comprometidas. Qualquer pessoa pode entrar no elevador e acioná-lo.

– Então temos que mantê-los longe das portas – eu disse. – Nós vamos bloquear a portaria.

– Precisamos de reforços – Travis disse. – Eles não param de atacar. Daqui a pouco vão nos esmagar.

– Não há reforços – Connor queixou-se.

Olhei para fora e vi a Sra. O’leary, comprimindo sua cara na porta de vidro e enquanto dava uma boa cheirada, lambuzava tudo com sua baba de cão infernal.

– Talvez não seja verdade – eu disse.

Fui para fora e passei a mão no focinho da Sra. O’Leary.

Quíron enfaixou uma de suas patas, ainda estava mancando. Seu pelo estava emaranhado e sujo de lama, folhas, pedaços de pizza, e sangue seco de monstro.

– Ei, menina. – Tentei parecer otimista. – Eu sei que você está cansada, mas tenho que te pedir mais um grande favor.

Debrucei-me ao lado dela e sussurrei em seu ouvido. Depois que a Sra. O'Leary se afastou, voltei para junto de Annabeth no saguão. No caminho até o elevador, vi Grover, ajoelhado sobre um sátiro gordo e muito ferido.

– Leneu! – Eu disse.

O velho sátiro estava horrível. Seus lábios estavam azuis. Ele tinha uma lança quebrada espetada na barriga e as pernas peludas de bode torcidas num ângulo doloroso.

Ele tentou se concentrar em nós, mas não creio que tenha nos visto.

– Grover? – Murmurou.

– Eu estou aqui, Leneu. – Apesar de todas as coisas horríveis que Leneu tinha dito a ele, lágrimas negras escorriam pela face de Grover.

– Será que não poderemos ganhar?

– Humm, sim – Grover mentiu. – Graças a você, Leneu. Nós expulsamos o inimigo para longe.

– Falei para você – o velho sátiro resmungou. – Verdadeiro líder. Verdad...

Ele fechou os olhos pela última vez.

Grover engoliu seco. Colocou a mão na testa de Leneu e falou uma benção antiga. O corpo do velho sátiro dissolveu, até que tudo que restou foi um pequeno ramo em cima de um montinho de terra nova.

– Um loureiro – Grover disse em reverência. – Ah, esse velho bode sortudo.

Ele pegou a muda em suas mãos.

– Eu devo... Plantá-la no Jardim do Olimpo.

– Nós estamos indo para lá – eu disse. – Vamos.

Música de orquestra tocava no elevador enquanto subia. Eu lembrei a minha primeira vez aqui no Monte Olimpo, quando eu tinha doze anos. Annabeth e Grover não estavam comigo. Fiquei contente que estivessem comigo agora. Eu tinha uma sensação de que poderia ser a nossa última aventura juntos.

– Percy – Annabeth disse calmamente. – Você estava certo sobre Luke.

Foi a primeira vez que ela tinha falado desde a morte de Silena Beauregard. Ela mantinha os olhos fixos no visor do elevador, que piscavam os números mágicos: 400, 450, 500.

Grover e eu nos olhamos.

– Annabeth – eu disse. – Me desculpe...

– Você tentou me avisar. – Sua voz estava trêmula. – Luke não é bom. Eu não acreditei em você até... Até que eu ouvi como ele usou Silena. Agora eu sei. Espero que esteja feliz.

– Na verdade não.

Ela colocou a cabeça contra a parede do elevador e não olhou para mim.

Grover embalava seu rebento de louro em suas mãos.

– Bem... Claro, é bom estarmos juntos de novo. Discutindo. Aterrorizados. Ah, olha. É o nosso andar.

As portas abriram e pisamos na passarela suspensa. Deprimente, não é uma palavra que geralmente a gente descreve o Monte Olimpo, mas é o que parecia agora. Nenhum braseiro aceso. As janelas estavam às escuras. As ruas estavam desertas e as portas trancadas. Havia movimento somente nos parques, onde haviam sido criados hospitais de campanha.

Will Solace e outros campistas de Apolo cuidando de um amontoado de feridos. As náiades e dríades tentavam ajudar, usando a natureza, canções mágicas de curar queimaduras e envenenamento.

Grover foi plantar a muda de loureiro, Annabeth e eu tentávamos animar os feridos. Passei por um sátiro com uma perna quebrada, um semideus que estava enfaixado da cabeça aos pés e um corpo coberto pela mortalha dourada do chalé de Apolo. Eu não sabia quem estava ali embaixo. Não queria descobrir.

Meu coração parecia que fora arrancado, mas nós tentávamos achar coisas positiva para dizer.

– Vai estar em pé para lutar com os Titãs daqui a pouco tempo! – Eu disse a um campista.

– Você está ótimo – Annabeth disse a outro.

– Leneu transformou-se em um arbusto! – Grover falou com um gemido de sátiro.

Achei o filho de Dioniso Pólux, encostado contra uma árvore. Ele tinha um braço quebrado, mas o resto parecia bem.

– Eu ainda posso lutar com a outra mão – ele disse, cerrando os dentes.

– Não – eu disse. – Você já fez o suficiente. Eu quero que fique aqui e ajude com os feridos.

– Mas...

– Prometa-me que vai ficar em segurança – eu disse. – Tudo bem? Um favor pessoal.

Ele franziu a testa com incerteza. Não era como se fôssemos bons amigos, nem nada, mas eu não ia contar que era um pedido de seu pai. Isso iria apenas constrangê-lo.

Finalmente ele prometeu, e quando voltou a se sentar, eu poderia dizer que estava mais aliviado.

Annabeth, Grover e eu continuamos caminhando em direção ao palácio. Era para lá que Cronos seguiria. Assim que subisse pelo elevador – e eu não tinha dúvida que ele conseguiria – ele destruiria a sala do trono, o centro de poder dos deuses.

As portas de bronze se abriram. Nossos passos ecoaram no chão de mármore. As constelações brilhavam friamente no teto do grande salão. O fogo do braseiro esta baixo com um fraco brilho vermelho. Héstia, sob a forma de uma pequena menina com vestes marrons, debruçada na borda, tremia. O Ofiotauro nadava tristemente em sua esfera de água. Ele soltou um tímido muu, quando me viu.

A claridade do braseiro projetava sombras assustadoras nos tronos, como se fossem mãos malignas os agarrando.

Aos pés do trono de Zeus, olhando para as estrelas estava Rachel Ellizabeth Dare. Ela estava segurando um vaso grego de porcelana.

– Rachel? – Eu disse. – Hmm, o que você está fazendo com isso?

Ela olhou para mim como se estivesse saindo de um sonho.

– Eu encontrei isso. É a jarra de Pandora, não é?

Seus olhos brilhavam mais do que o habitual, e eu tive um desagradável flashback de sanduíches mofados e biscoitos queimados.

– Por favor, coloque o vaso no chão – eu disse.

– Posso ver esperança dentro dele. – Rachel passou os dedos sobre os desenhos da cerâmica. – Tão frágil.

– Rachel.

Minha voz pareceu trazê-la de volta à realidade. Ela largou o vaso, e eu o peguei. Senti a cerâmica tão fria quanto gelo.

– Grover – Annabeth murmurou. – Vamos dar uma olhada no palácio. Talvez possamos encontrar mais algum fogo grego ou quem sabe algumas armadilhas de Hefesto.

– Mas...

Annabeth deu uma cotovelada nele.

– Certo! – Ele uivou. – Eu adoro armadilhas de Hefesto!

Ele arrastou-se para fora da sala do trono.

Mais perto do braseiro, Héstia estava encolhida em seu manto, balançando para frente e para trás.

– Venha – eu falei para Rachel. – Eu quero que você conheça alguém.

Sentamos ao lado da deusa.

– Lady Héstia – eu disse.

– Olá, Percy Jackson – a deusa murmurou.

– Está frio. Difícil de manter o fogo aceso.

– Eu sei – eu me sentei. – Os Titãs estão perto.

Héstia olhou para Rachel.

– Olá, minha querida, finalmente você veio a nossa casa.

Rachel piscou.

– Você estava me esperando?

Héstia estendeu as mãos, e as brasas brilharam.

Eu vi imagens no fogo: Minha mãe, Paul e eu comendo um delicioso e reconfortante jantar na mesa da cozinha; os meus amigos e eu ao redor da fogueira no Acampamento Meio-Sangue, cantando canções e assando marshmallows; Rachel e eu dirigindo o Prius de Paul ao longo da praia.

Eu não sabia se Rachel via as mesmas imagens, mas seus ombros estavam tensos. O calor do fogo parecia espalhar-se através dela.

– Para reivindicar o seu lugar na família – Héstia disse a ela – você deve deixar as distrações de lado. É a única maneira de você sobreviver.

Rachel assentiu.

– Eu... Eu entendo.

– Espere – eu disse. – Do que ela está falando?

Rachel deu um suspiro.

– Percy, quando cheguei aqui... Eu pensei que tinha vindo por você. Mas não era. Você me... 

Ela balançou a cabeça.

– Espere. Agora eu sou uma distração? Isso porque eu não sou o herói ou coisa assim?

– Eu não sei se poderei descrever com palavras – ela disse. – Estive atraída por você porque... Porque você abriu a porta para tudo isso. – Ela apontou para a sala do trono – Eu precisava compreender a minha própria visão. Mas você e eu juntos não fazíamos parte dela. Nossos destinos não estão interligados. Eu acho que no fundo você sabia disso também.

Olhei para ela. Talvez eu não fosse o cara mais brilhante do mundo quando se tratava de garotas, mas estava muito claro que Rachel acabara de me dar um fora, que era ruim considerando que nos nunca estivemos realmente juntos.

– Então...– falei – é “Obrigado por me trazer para Olimpo. Vejo você por aí.” É isso que você está dizendo?

Rachel olhou para o fogo.

– Percy Jackson – disse Héstia. – Rachel disse a você tudo que ela podia. Seu momento está chegando, e sua decisão se aproxima rapidamente. Você está preparado?

Eu queria dizer que não, não estava nem perto de estar preparado. Olhei para jarra de Pandora, e pela primeira vez eu tinha necessidade de abri-la. Esperança parecia bem inútil para mim, mesmo agora. Muitos de meus amigos estavam mortos. Rachel me deu um fora. Annabeth estava zangada comigo. Meus pais estavam dormindo nas ruas em algum lugar, enquanto um exército de monstros cercava o prédio. O Olimpo estava à beira da ruína, e eu já tinha visto tantas coisas cruéis que os deuses haviam feito.

Zeus destruindo Maria di Angelo, Hades amaldiçoando o ultimo Oráculo, Hermes virando as costas para Luke, mesmo quando soube que seu filho se tornaria mau.

Renda-se, a voz de Prometeu sussurrou no meu ouvido. Caso contrário, seu lar será destruído. Seu precioso acampamento irá queimar.

Então olhei para Héstia. Seus olhos vermelhos brilhavam calorosamente. Eu me lembrei das imagens que eu tinha visto da minha casa, amigos e família, todos que eu me importava.

Lembrei-me de algo que Chris Rodriguez havia dito: Não há nenhum jeito de defender o acampamento se vocês morrerem. Todos os nossos amigos estão aqui. E Nico, enfrentando o pai: Se o Olimpo cair, disse ele, a segurança de seu palácio não terá importância.

Ouvi passos. Annabeth e Grover voltaram para a sala do trono e pararam quando nos viram. Eu provavelmente tinha um olhar muito estranho em meu rosto.

– Percy? – Annabeth não parecia mais com raiva, apenas preocupada. – Devemos, hum, ir embora de novo?

De repente, senti como se alguém tivesse me injetado aço. Eu entendi o que tinha que fazer.

Olhei para Rachel.

– Você não vai fazer nada estúpido, não é? Quero dizer... Você já falou com Quíron, certo?

Ela esboçou um leve sorriso.

– Você está preocupado que eu faça algo estúpido?

– Bem eu quero dizer... Você vai ficar bem?

– Eu não sei – admitiu ela. – Isso depende de você salvar o mundo, herói.

Peguei o jarro de Pandora. Um espírito de esperança flutuava dentro de mim, tentando aquecer o recipiente frio.

– Héstia – eu disse – eu dou isto a você como uma oferenda.

A deusa inclinou a cabeça.

– Eu sou uma deusa menor. Por que você o confiaria a mim?

– Você é a última olimpiana – eu disse. – E o mais importante.

– E por que motivo, Percy Jackson?

– Porque a esperança sobrevive melhor no seio de nossos lares – eu disse. – Guarde-o para mim, eu não quero ficar tentado a desistir novamente.

A deusa sorriu. Ela pegou o frasco em suas mãos, e ele começou a brilhar. O fogo do braseiro ficou um pouco mais brilhante.

– Bem feito, Percy Jackson – disse ela. – Que os deuses abençoem você.

– Estamos prestes a descobrir. – Olhei para Annabeth e Grover. – Vamos pessoal.

Eu marchei em direção trono do meu pai.



O trono de Poseidon estava logo à direita de Zeus, mas não era tão grande. O assento de couro preto moldado estava anexado a um pedestal giratório, com um par de argolas de ferro na lateral para fixação de uma vara de pescar (ou um tridente). Basicamente parecia uma cadeira em um barco em alto mar, que você se senta se quiser caçar tubarões, marlins ou monstros marinhos.

Deuses em seu estado natural têm cerca de vinte pés de altura, de modo que eu poderia apenas alcançar à borda do assento se eu esticasse os braços.

– Ajudes-me a subir – eu disse a Annabeth e Grover.

– Você está louco? – Annabeth perguntou.

– Provavelmente – eu admiti.

– Percy – disse Grover – os deuses realmente não apreciam pessoas sentadas em seus tronos. Quero dizer, você será transformado em uma montanha de cinzas!

– Eu preciso chamar a atenção dele – eu disse. – É a única maneira.

Eles trocaram olhares inquietos.

– Bem – Annabeth disse – isso vai chamar a atenção dele.

Eles juntaram seus braços para fazer um degrau, então me impulsionei para o trono. Senti-me como um bebê balançando os pés tão distantes do chão. Olhei em volta, e todos os tronos estavam vazios e sombrios. Fiquei imaginando como seria estar sentado no Conselho Olimpiano – tanto poder, mas também tantas opiniões diferentes, onze outros deuses querendo apenas seguir seu caminho. Seria fácil ficar paranoico e olhar só para os próprios interesses, especialmente se eu fosse Poseidon. Sentado em seu trono, eu senti como se tivesse todo o mar ao meu comando – quilômetros e quilômetros de oceano se agitando com poder e mistério. Por que Poseidon deveria ouvir alguém? Por que ele não deveria ser o maior dos doze?

Então sacudi minha cabeça. Concentrei-me.

O trono tremeu. Uma onda vigorosa de raiva atingiu minha mente:

QUEM OUSA...

A voz parou abruptamente. A raiva cedeu, o que foi ótimo, porque só essas duas palavras quase fritaram minha mente.

Percy. A voz de meu pai ainda estava com raiva, mas controlada. O que, exatamente, você está fazendo no meu trono?

– Me desculpe, pai – eu disse. – Eu precisava chamar sua atenção.

Fez uma coisa muito perigosa. Mesmo sendo você. Se eu não tivesse olhado antes de fulminá-lo, você seria agora um pudim de água do mar.

– Me desculpe – eu disse de novo. – Ouça, as coisas estão barra-pesada por aqui.

Eu contei o que estava acontecendo. Então falei sobre o meu plano.

Sua voz ficou em silêncio por um longo tempo.

Percy, o que você pede é impossível. O meu palácio...

– Papai, Cronos enviou um exército para lutar com você de propósito. Ele quer separá-lo dos outros deuses, porque ele sabe que você pode fazer a diferença.

Seja como for, ele está atacando o meu lar.

– Eu estou no seu lar – eu disse. – O Olimpo.

O chão tremeu. Uma onda de indignação tomou conta de minha mente. Eu pensei que tinha ido longe demais, mas depois o tremor abrandou. No fundo da minha ligação mental, ouvi explosões subaquáticas e sons de gritos de guerra: Bramidos de Ciclopes, grito de tritões.

– E Tyson está bem? – Eu perguntei.

A questão parecia ter pegado meu pai de surpresa.

Ele está bem. Fazendo muito melhor do que eu esperava. Embora "manteiga de amendoim” seja um grito de guerra bem estranho.

– Você o deixou lutar?

Não mude de assunto! Está ciente do que está me pedindo para fazer? O meu palácio será destruído.

– E o Olimpo poderá ser salvo.

Você tem alguma ideia de quanto tempo eu trabalhei na reforma deste palácio? A sala de jogos levou seiscentos anos.

– Papai...

Muito bem! Será feito como me pede. Mas meu filho, reze para isto funcionar.

– Já estou rezando. Eu estou falando com você, certo?

Ah... Sim. Bem pensado. Anfitrite... estou indo!

O som de uma grande explosão destroçou nossa conexão.

Eu escorreguei para baixo aos pés do trono.

Grover me olhava nervosamente.

– Você está bem? Ficou pálido e... começou a soltar fumaça.

– Não mesmo! – Então olhei para os meus braços. Vapor estava saindo pelas mangas de minha camisa. O pelo de meus braços estava chamuscado.

– Se você ficasse lá por mais tempo... – Annabeth disse – teria se consumido em combustão espontânea. Espero que a conversa tenha valido pena.

Muu, disse o Ofiotauro em sua esfera de água.

– Nós vamos descobrir em breve – eu disse.

Só então as portas da sala do trono se abriram.

Thalia marchou para dentro. Seu arco estava partido em dois e seu aljava estava vazia.

– Você tem que vir agora – disse-nos. – O inimigo está avançando. E Cronos está liderando.

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