sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 18





                                     Minha familia entra na luta

Quando chegamos à rua, já era tarde demais.

Campistas e Caçadoras estavam caídos feridos no chão. Clarisse deve ter perdido uma luta com um gigante hiperbóreo, porque ela e sua carruagem estavam congeladas num bloco de gelo. Os centauros não estavam em nenhum lugar à vista. Ou eles entraram em pânico e fugiram ou tinham sido desintegrados. O exército Titã rodeou o prédio, ficando a talvez seis metros das portas. A vanguarda de Cronos estava liderando: Ethan Nakamura, a rainha dracaena em sua armadura verde, e dois hiperbóreos. Eu não vi Prometeu. Aquela doninha pegajosa estava provavelmente se escondendo no quartel general deles. Mas Cronos em pessoa estava em pé bem na frente, com sua foice na mão. A única coisa no caminho dele era...

– Quíron – Annabeth disse, sua voz trêmula.

Se Quíron nos escutou, ele não respondeu. Ele tinha uma flecha preparada, mirando direto no rosto de Cronos. Logo que Cronos me viu, seus olhos dourados chamejaram. Todos os músculos do meu corpo congelaram. Então o Senhor Titã virou sua atenção de volta para Quíron.

– Saia do caminho, meu filho.

Ouvir Luke chamar Quíron de filho já era bem estranho, mas Cronos pôs desprezo em sua voz, como se filho fosse a pior coisa em que ele pudesse pensar.

– Receio que não – o tom de Quíron era calmo como aço, do jeito que ele fica quando está realmente irado.Tentei me mexer, mas meus pés pareciam concreto. Annabeth, Grover e Thalia estavam se esforçando também, como se estivessem presos do mesmo jeito.

– Quíron! – disse Annabeth. – Cuidado!

A rainha dracaena ficou impaciente e atacou. A flecha de Quíron voou diretamente para o ponto entre seus olhos e ela evaporou, sua armadura vazia fazendo barulho no asfalto. Quíron buscou outra flecha, mas sua aljava estava vazia. Ele jogou o arco fora e sacou a espada. Eu sabia que ele odiava lutar com uma espada. Nunca foi sua arma favorita. Cronos segurou um sorriso. Ele avançou um passo, e a metade cavalo de Quíron escorregou nervosamente. Seu rabo se agitou para frente e para trás.

– Você é um professor – Cronos zombou. – Não um herói.

– Luke era um herói – disse Quíron. – Ele era um dos bons, até que você o corrompeu.

– TOLO! – a voz de Cronos chacoalhou a cidade. – Você encheu a cabeça dele com promessas vazias. Você disse que os deuses se importavam comigo!

– Comigo – notou Quíron. – Você disse comigo.

Cronos pareceu confuso, e naquele momento, Quíron atacou. Foi uma boa manobra – uma finta seguida por um golpe no rosto. Eu mesmo não poderia ter feito melhor, mas Cronos era rápido. Ele tinha todas as habilidades de combate de Luke, o que era bastante. Ele bateu a espada de Quíron para o lado e gritou:

– PARA TRÁS!

Uma luz branca ofuscante explodiu entre o Titã e o centauro. Quíron voou no lado do prédio com tanta força que a parede se desfez e desabou em cima dele.

– Não! – gemeu Annabeth.

O feitiço da imobilização se quebrou. Nós corremos na direção de nosso professor, mas não havia sinal dele. Thalia e eu cavamos desamparados entre os tijolos enquanto uma séria de risadas horríveis correu pelo exército do Titã.

– VOCÊ! – Annabeth se virou para Luke. – E pensar que eu... que eu achava...

Ela sacou sua faca.

– Annabeth, não. – Tentei segurar o braço dela, mas ela se livrou de mim.

Ela atacou Cronos, e o sorriso presunçoso dele sumiu. Talvez alguma parte de Luke tenha se lembrado de que costumava gostar dessa garota, costumava cuidar dela quando ela era pequena. Ela mergulhou sua faca entre as tiras da armadura dele, bem na clavícula. A lâmina devia ter mergulhado até o peito dele. Ao invés disso ela ricocheteou. Annabeth se contorceu, apertando seu braço contra o estômago. O solavanco deve ter sido suficiente para deslocar o ombro ruim dela.

Puxei-a para trás quando Cronos brandiu a foice, fatiando o ar onde ela estava.

Ela tentava se desvencilhar de mim e gritava:

– Eu ODEIO você!

Eu não sabia ao certo com quem ela estava falando – comigo ou Luke ou Cronos. Lágrimas abriam caminho em meio à poeira do rosto dela.

– Tenho que lutar com ele – eu disse a ela.

– É minha luta também, Percy!

Cronos gargalhou.

– Tanta coragem. Posso ver porque Luke queria poupar você. Infelizmente, isso não será possível.

Ele ergueu sua foice. Eu me preparei para defender, mas antes que Cronos pudesse golpear, o uivo de um cachorro atravessou o ar de algum lugar atrás do exército do Titã.

“Auuuuuuuuuuuu!”

Era muito para se esperar, mas eu chamei:

– Sra. O’Leary?

As forças inimigas se agitaram inquietas. Então a coisa mais estranha aconteceu. Eles começaram a se afastar, liberando uma passagem através da rua como se alguma coisa atrás deles os estivesse forçando a isso. Logo havia um corredor livre no centro da Quinta Avenida. De pé no fim do quarteirão estava meu cão gigante e uma pequena figura numa armadura negra.

– Nico? – eu chamei.

“ROLF!”

Sra. O’Leary saltou em minha direção, ignorando o rosnado dos monstros de ambos os lados. Nico caminhou em frente. O exército inimigo recuava perante ele como se ele irradiasse morte, o que com certeza ele fazia.

Através da viseira de seu capacete em forma de caveira, ele sorriu.

– Recebi sua mensagem. É tarde demais para me juntar à festa?

– Filho de Hades – Cronos cuspiu no chão. – Você ama tanto a morte que quer experimentá-la?

– A sua morte – disse Nico – seria ótima para mim.

– Eu sou imortal, seu tolo! Escapei do Tártaro. Você não tem nenhum negócio aqui, e nenhuma chance de viver.

Nico sacou sua espada – um metro de ferro demoníaco cruel e afiado, negro como um pesadelo.

– Eu não concordo.

O solo tremeu. Rachaduras apareceram na estrada, nas calçadas e nas laterais dos prédios. Mãos esqueléticas agarravam o ar enquanto os mortos arranhavam seu caminho dentro do mundo dos vivos. Havia milhares deles, e enquanto eles emergiam, os monstros do Titã se assustaram e começaram a recuar.

– MANTENHAM SUA POSIÇÃO! – exigiu Cronos. – Os mortos não são ameaças para nós.

O céu ficou escuro e frio. As sombras se espessaram. Uma estridente corneta de guerra soou, e enquanto os soldados mortos formavam fileiras com suas armas e espadas e lanças, uma enorme carruagem troava descendo a Quinta Avenida. Ela parou ao lado de Nico. Os cavalos eram sombras vivas, moldadas da escuridão. A carruagem era incrustada com obsidiana e ouro, decorada com cenas de mortes dolorosas. Segurando as rédeas estava o próprio Hades, Senhor dos Mortos, com Deméter e Perséfone montadas atrás dele.

Hades vestia uma armadura preta e uma capa da cor de sangue fresco. No topo de sua cabeça pálida estava o elmo da escuridão: uma coroa que irradiava puro terror. Ela mudava de forma enquanto eu olhava – de cabeça de dragão para um círculo de chamas negras para uma guirlanda de ossos humanos. Mas essa não era a parte mais assustadora. O elmo alcançou a minha mente e despertou meus piores pesadelos, meus medos mais secretos. Eu quis rastejar para um buraco e me esconder, e eu podia dizer que o exército inimigo se sentia do mesmo jeito. Somente o poder e a autoridade de Cronos impediam a fuga de seus soldados.

Hades sorriu friamente.

– Olá, pai. Você parece... jovem.

– Hades – rugiu Cronos. – Espero que você e as senhoras tenham vindo para jurar sua obediência.

– Temo que não. – Hades suspirou. – Meu filho aqui me convenceu que talvez eu deva estabelecer prioridades em minha lista de inimigos. – Ele olhou de relance para mim com desgosto. – Mesmo que eu não goste de certos semideuses ascendentes, isso não compensaria a queda do Olimpo. Eu sentiria falta de brigar com meus irmãos. E se há alguma coisa em que nós concordamos, é que você foi um PÉSSIMO pai.

– Verdade – murmurou Deméter. – Sem valorização da agricultura.

– Mãe! – reclamou Perséfone.

Hades sacou sua espada, uma lâmina estígia de dois gumes esculpida com prata.

– Agora lute comigo! Pois hoje a Casa de Hades vai ser chamada de salvadores do Olimpo!

– Eu não tenho tempo para isso – rosnou Cronos.

Ele golpeou o solo com sua foice. Uma rachadura se estendeu em ambas as direções, rodeando o Empire State Building. Um muro de força cintilou ao longo da linha da fenda, separando a vanguarda de Cronos, meus amigos e eu da massa dos dois exércitos.

– O que ele está fazendo? – murmurei.

– Nos trancando aqui dentro – disse Thalia. – Ele está derrubando as barreiras mágicas ao redor de Manhattan - isolando somente o prédio... e nós.

Bem claramente, fora da barreira, motores de carros voltaram à vida. Pedestres acordavam e encaravam incompreensivos os monstros e zumbis em volta deles. Não sei falar o que eles viram através da Névoa, mas tenho certeza que era bem assustador. Portas de carro se abriram. E no fim do quarteirão, Paul Blofis e minha mãe saíram do Prius deles.

– Não – eu disse. – Não...

Minha mãe podia ver através da Névoa. Eu podia dizer pela expressão dela que ela entendia o quanto as coisas estavam sérias. Eu esperava que ela tivesse o bom senso de correr. Mas ela me olhou nos olhos, falou algo para Paul, e eles correram direto em nossa direção.

Eu não podia gritar. A última coisa que eu queria era direcionar a atenção de Cronos para ela.

Felizmente, Hades causou uma distração. Ele investiu contra o muro de força, mas a carruagem dele bateu de frente e capotou. Ele se levantou, xingando, e atingiu o muro com energia negra. A barreira segurou.

– ATAQUEM! – ele rugiu.

Os exércitos dos mortos colidiram com os monstros do Titã. A Quinta Avenida explodiu num caos absoluto. Mortais gritavam e corriam para se proteger. Deméter balançou sua mão e uma coluna inteira de gigantes se transformou num campo de trigo. Perséfone transformou as lanças das dracaenae em girassóis. Nico cortava e retalhava seu caminho pelo meio do inimigo, tentando proteger os pedestres da melhor maneira que podia.

Meus pais correram em minha direção, esquivando de monstros e zumbis, mas não havia nada que eu poderia fazer para ajudá-los.

– Nakamura – disse Cronos. – Acompanhe-me. Gigantes - cuidem deles.

Ele apontou para meus amigos e eu.

Então ele se esgueirou para dentro do saguão. Por um segundo eu estava paralisado. Estive esperando uma briga, mas Cronos me ignorou completamente como se eu não fosse digno de preocupação. Isso me deixou furioso. O primeiro gigante hiperbóreo tentou me esmagar com seu porrete. Eu rolei entre suas pernas e apunhalei Contracorrente no seu traseiro. Ele se despedaçou numa pilha de cacos de gelo.

O segundo gigante soprou granizo em Annabeth, que mal conseguia ficar em pé, mas Grover a puxou para fora do caminho enquanto Thalia foi ao trabalho. Ela correu para cima das costas do gigante como uma gazela, fincou suas facas de caça através do monstruoso pescoço azul dele, e criou a maior escultura de gelo sem cabeça do mundo. Eu olhei de relance para fora da barreira mágica. Nico estava abrindo caminho em direção à minha mãe e Paul, mas eles não estavam esperando por ajuda. Paul pegou uma espada de um herói caído e fez um trabalho bem legal mantendo uma dracaena ocupada. Ele a apunhalou nas vísceras, e ela desintegrou.

– Paul? – eu disse com admiração.

Ele se virou na minha direção e sorriu.

– Espero que seja um monstro isso que eu acabei de matar. Eu era um ator Shakespeariano na faculdade! Peguei um pouco de esgrima!

Passei a gostar mais ainda dele depois disso, mas então um gigante Lestrigão investiu contra a minha mãe. Ela estava remexendo num carro de polícia abandonado – talvez procurando pelo rádio de emergência – e estava virada de costas.

– Mãe! – eu gritei.

Ela girou quando o monstro estava quase em cima dela. Eu pensei que a coisa na mão dela fosse um guarda-chuva até que ela engatilhou e a explosão da espingarda lançou o gigante seis metros para trás, direto na espada de Nico.

– Boa. – Disse Paul.

– Quando você aprendeu a atirar com uma espingarda? – eu exigi.

Minha mãe soprou o cabelo pra fora do rosto.

– Cerca de dois segundos atrás. Percy, nós vamos ficar bem. Vá!

– Sim – concordou Nico – nós cuidaremos do exército. Você tem que pegar Cronos!

– Vamos, Cabeça de Alga! – disse Annabeth.

Eu assenti. Então eu olhei para a pilha de escombros ao lado do prédio. Meu coração revirou. Eu tinha me esquecido de Quíron. Como eu pude fazer isso?

– Sra. O’Leary – eu disse. – Por favor, Quíron está ali embaixo. Se alguém pode tirar ele de lá, você pode. Encontre-o! Ajude-o!

Eu não tenho certeza do quanto ela entendeu, mas ela saltou para a pilha e começou a cavar. Annabeth, Thalia, Grover e eu corremos para os elevadores.

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