sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 20





                               Recebemos recompensas fabulosas

As Três Parcas levaram o corpo de Luke.

Eu não via as velhas senhoras há anos, desde que eu testemunhara elas cortarem um fio da vida na barraca de frutas do outro lado da rua, quando eu tinha doze anos. Elas me assustaram naquela época, e elas me assustavam agora – três avós demoníacas levando com bolsas com agulhas de tricô e novelos de lã.

Uma delas olhou para mim, e embora ela não tenha dito nada, minha vida passou literalmente por meus olhos. De repente, eu estava com vinte anos. Depois, virei um homem de meia-idade. Em seguida, estava velho e enrugado. Toda a força deixou meu corpo, e eu vi minha própria lapide e uma cova aberta, um caixão sendo baixado na terra. Tudo isso aconteceu em menos de um segundo.

Está feito, ela disse.

A Parca levantou um pedaço de fio azul – e eu sabia que era o mesmo que eu tinha visto há quatro anos, o fio da vida que eu as vi cortar. Eu pensei que era minha vida. Agora eu sabia que era a de Luke. Elas tinham me mostrado a vida que teria que ser sacrificada para que tudo fosse consertado.

Elas recolheram o corpo de Luke, agora enrolado em uma mortalha branca e verde, e começaram a levá-lo para fora do salão dos tronos.

– Espere – Hermes disse.

O deus mensageiro estava vestido em um conjunto de roupas gregas brancas clássicas, sandálias, e um capacete. As asas de seu capacete batiam enquanto ele andava. As cobras George e Martha enroscaram-se pelo caduceu, murmurando: Luke, pobre Luke.

Eu pensei em May Castellan, sozinha em sua cozinha, assando biscoitos e fazendo sanduíches para o filho que nunca mais voltaria para casa.

Hermes desenrolou o rosto de Luke e beijou sua testa. Ele murmurou algumas palavras em grego antigo – uma benção final.

– Adeus – ele sussurrou. Então ele acenou a cabeça, permitindo que as Parcas levassem o corpo de seu filho.

Enquanto elas saiam, eu pensei na Grande Profecia. As linhas agora faziam sentido para mim. E a alma de um herói, a lâmina maldita ceifará. O herói era Luke. A lâmina maldita era a faca que ele havia dado a Annabeth anos antes – maldita porque Luke tinha quebrado sua promessa e traído seus amigos. Uma escolha seus dias vai encerrar. Minha escolha de dar a faca a ele e acreditar, assim como Annabeth, que ele ainda era capaz de concertar as coisas. O Olimpo preservar ou arrasar. Por ter se sacrificado, ele tinha salvado o Olimpo. Rachel estava certa. No fim, eu não fui mesmo o herói. E sim Luke.

E eu entendi outra coisa: Quando Luke tinha decidido ir ao Rio Estige, ele tinha que focar em algo importante que o mantivesse preso a sua vida mortal. Ao contrário, ele teria se dissolvido. Eu vira Annabeth, e tinha a sensação de que ele também. Ele tinha imaginado a cena que Héstia me mostrou – dele em seus dias bons com Thalia e Annabeth, quando ele prometeu que eles seriam uma família. Machucar Annabeth na batalha o chocou, e fez com que ele se lembrasse da promessa. Isso permitiu sua consciência mortal assumir o controle novamente e vencer Cronos. Seu ponto fraco – seu calcanhar de Aquiles – tinha nos salvado.

Ao meu lado, os joelhos de Annabeth tremiam. Eu a peguei, mas ela chorou de dor, e eu percebi que eu tinha pegado em seu braço machucado.

– Ah deuses – eu disse. – Annabeth, desculpe-me.

– Tudo bem – ela disse assim que desmaiava em meus braços.

– Ela precisa de ajuda! – eu gritei.

– Deixe comigo. – Apolo aproximou-se. Sua armadura brilhava tanto que era difícil de olhar para ele, e seus óculos Ray Ban combinando e seu sorriso perfeito faziam-no parecer um modelo masculino para armaduras de guerra. – Deus da cura, a seu serviço.

Ele passou sua mão pelo rosto de Annabeth e murmurou um encanto. Imediatamente suas contusões sumiram. Seus cortes e cicatrizes desapareceram. Seu braço endireitou-se e ela suspirou adormecida.

Apolo sorriu.

– Ela ficará bem em alguns minutos. Tempo suficiente para compor um poema sobre nossa vitória: “Apolo e seus amigos salvaram o Olimpo.” Bom, não?

– Obrigado Apolo. – Eu disse. – Eu, hã, vou deixar você cuidar da poesia.

As horas seguintes passaram indistintamente. Lembrei-me da promessa que fiz para minha mãe. Zeus nem sequer piscou quando lhe fiz meu estranho pedido. Ele estalou seus dedos e disse que o topo do Edifício Empire State estava agora iluminado de azul. A maioria dos mortais se perguntaria o que aquilo significava, mas minha mãe saberia: Eu tinha sobrevivido. O Olimpo estava salvo.

Os deuses foram consertar a sala dos tronos, que foi surpreendentemente rápido com doze seres superpoderosos trabalhando. Grover e eu cuidamos dos feridos, e assim que a ponte aérea foi refeita, recebemos nossos amigos que haviam sobrevivido. Os ciclopes tinham resgatado Thalia debaixo da estatua caída. Ela estava de muletas, mas estava bem. Connor e Travis Stoll haviam conseguido chegar ao fim da batalha com apenas arranhões. Eles me juraram que não tinham roubado muito a cidade. Me disseram que meus pais estavam bem, embora não tivessem permissão para ir ao Monte Olimpo. Senhora O’Leary tinha tirado Quíron dos escombros e o levado de volta ao acampamento. Os Stoll pareciam um pouco preocupados com o centauro, mas pelo menos ele estava vivo. Katie Gardner disse que ela tinha visto Rachel Elizabeth Dare correr pra fora do Edifício Empire State no fim da batalha. Rachel parecia ilesa, mas ninguém sabia para onde ele tinha ido, o que também me deixou preocupado.

Nico di Angelo chegou ao Olimpo e recebeu as boas-vindas de um herói, o pai logo atrás dele, apesar do fato de que Hades só deveria visitar o Olimpo no solstício de inverno. O deus dos mortos pareceu surpreso quando seus parentes vieram dar palmadinhas em suas costas. Duvido que ele jamais tenha recebido uma recepção tão entusiasmada antes.

Clarisse entrou marchando, ainda tremendo pelo tempo que ficou no cubo de gelo, e Ares berrou:

– Essa é minha garota!

O deus da guerra desarrumou-lhe os cabelos e deu tapinhas em suas costas, chamando-a de melhor guerreira que ele jamais vira.

– O extermínio daquele drakon? É DISSO que estou falando!

Ela pareceu desnorteada. Tudo o que ela conseguia fazer era concordar e piscar, como se ela tivesse medo de que ele começasse a bater nela, mas no final acabou sorrindo.

Hera e Hefesto passaram por mim, e apesar de Hefesto estar um tanto mal-humorado por eu ter pulado em seu trono, achava que eu tinha feito, “no geral, um trabalho extraordinário.”

Hera suspirou, desdenhosa.

– Acho que eu não destruirei você e aquela garotinha.

– Annabeth salvou o Olimpo – eu disse a ela. – Ela convenceu Luke a parar Cronos.

– Humpf.

Hera fez meia-volta e se afastou, zangada, mas calculei que nossas vidas estavam salvas, pelo menos por enquanto.

A cabeça de Dioniso ainda estava envolta em ataduras. Ele me olhou da cabeça aos pés e disse:

– Bem, Percy Jackson, vejo que Pólux sobreviveu. Então, eu acho que você não é totalmente incompetente. Tudo graças ao meu treinamento, suponho.

– Hum, sim, senhor. – Eu disse.

Senhor D. concordou.

– Como agradecimento por minha bravura, Zeus cortou minha pena naquele horrível acampamento pela metade. Agora só me faltam cinquenta anos ao invés de cem.

– Cinquenta anos, hein?

Eu tentei imaginar ter que aturar Dionísio até eu ser um homem velho, supondo-se que eu vivesse até lá.

– Não se anime, Percy – ele disse e eu percebi que ele estava dizendo meu nome corretamente. – Eu ainda planejo fazer de sua vida um inferno.

Eu não pude deixar de sorrir.

– Naturalmente.

– Então estamos entendidos. – Ele se virou e começou a concertar seu trono de videiras, que tinha sido queimado.

Grover ficou ao meu lado. De vez em quando ele caía no choro.

– Tantos espíritos da natureza mortos, Percy. Tantos.

Eu pus meus braços em volta de seu ombro e dei a ele um lenço para assoar o nariz.

– Você fez um ótimo trabalho, homem-bode. Nós vamos consertar tudo isso. Plantaremos novas árvores. Limparemos os parques. Seus amigos reencarnarão em um lugar melhor.

Ele fungou desajeitadamente.

– Eu... Eu espero que sim. Mas foi difícil o suficiente animá-los antes. Eu ainda sou um rejeitado. Eu mal consigo fazer alguém me ouvir sobre Pã. Agora eles vão me ouvir de novo alguma vez? Eu os guiei a uma carnificina.

– Eles ouvirão – eu prometi. – Porque você se importa com eles. Você se importa com o mundo selvagem como nenhum outro faz.

Ele tentou sorrir.

– Obrigado Percy. Espero... Espero que você saiba que eu tenho muito orgulho de ser seu amigo.

Dei-lhe um tapinha no braço.

– Luke estava certo sobre uma coisa, homem-bode. Você é o sátiro mais corajoso que eu já conheci.

Ele corou, mas antes que ele pudesse dizer alguma coisa, trombetas de concha soaram. O exército de Poseidon marchou até a sala dos tronos.

– Percy! – Tyson gritou. Ele veio até mim com seus braços abertos. Felizmente ele tinha diminuído a seu tamanho normal, e assim seu abraço foi como ser atropelado por um trator, e não pela fazenda toda.

– Você não está morto! – ele disse.

– É – eu concordei. – Incrível, não?

Ele bateu as palmas e riu feliz.

– Eu também não estou morto. Ei, nós acorrentamos Tifão. Foi muito divertido!

Atrás dele, uns cinquenta ciclopes armados riram, concordaram e bateram as mãos espalmadas nas dos outros.

– Tyson nos liderou – bradou um deles. – Ele é corajoso!

– O mais corajoso dos ciclopes! – outro gritou.

Tyson corou.

– Não foi nada.

– Eu vi você! – eu disse. – Você estava incrível!

Eu achei que o pobre do Grover fosse desmaiar. Ele morre de medo de ciclopes. Mas ele segurou os nervos e disse.

– É, hã... Três vivas para o Tyson!

– UHUUUU! – os ciclopes rugiram.

– Por favor, não me devorem. – Grover murmurou, mas eu acho que ninguém o ouviu.

As trombetas de concha soaram de novo. Os ciclopes separaram-se e meu pai entrou na sala dos tronos em sua armadura de guerra com seu tridente brilhando em suas mãos.

– Tyson! – ele gritou. – Muito bem, meu filho. E Percy – Seu rosto ficou rígido. Ele apontou seus dedos para mim, e por um segundo eu pensei que ele fosse me evaporar. – Eu te perdoo por sentar em meu trono. Você salvou o Olimpo!

Ele abriu os braços e me deu um abraço. Eu percebi, um pouco envergonhado, que eu nunca tinha abraçado meu pai antes. Ele era quente – como um humano normal – e cheirava a praia e brisa fresca marítima.

Quando ele se afastou, ele sorriu para mim. Senti-me tão bem, admito que eu chorei um pouco. Acho que até esse momento eu não me permitira perceber o quão aterrorizado eu me sentira nos últimos dias.

– Pai...

– Shh – ele disse. – Nenhum herói está acima do medo, Percy. E você superou qualquer herói. Nem mesmo Hércules...

– POSEIDON! – uma voz rugiu.

Zeus tinha sentado em seu trono. Do outro lado da sala, olhou ferozmente para meu pai, enquanto os outros deuses entravam e tomavam seus assentos. Até Hades estava presente, sentado em uma cadeira de pedra simples na frente da lareira. Nico sentava de pernas cruzadas aos pés de seu pai.

– Então, Poseidon? – Zeus grunhiu. – Está orgulhoso demais para se juntar a nós no Conselho, meu irmão?

Pensei que Poseidon fosse ficar furioso, mas ele só me olhou e piscou.

– Ficaria honrado, Senhor Zeus.

Acho que milagres acontecem. Poseidon sentou-se em sua cadeira de pesca, e o Conselho Olimpiano se reuniu.



Enquanto Zeus falava – um longo discurso sobre a bravura dos deuses etc. – Annabeth entrou e parou perto de mim. Ela parecia bem para alguém que tinha acabado de desmaiar.

– Perdi muita coisa? – ela sussurrou.

– Ninguém está planejando nos matar, até agora. – Eu sussurrei de volta.

– É a primeira vez hoje.

Dei uma risada, mas Grover me cutucou porque Hera estava nos lançando um olhar maléfico.

– Falando por meus irmãos – Zeus disse – estamos agradecidos – ele limpou sua garganta como se as palavras fossem difíceis de sair – er, agradecidos pela ajuda de Hades.

O deus dos mortos acenou. Ele tinha um olhar presunçoso em seu rosto, mas eu acho que tinha recebido o merecido. Ele deu tapinhas no ombro de Nico, e Nico parecia mais feliz do que ele jamais esteve.

– E, é claro – Zeus continuou, embora parecesse que suas calças estivessem queimando – devemos... humm... agradecer a Poseidon.

– Desculpe-me, irmão – Poseidon disse. – O que você disse?

– Devemos agradecer a Poseidon – rosnou Zeus. – Sem ele... Teria sido difícil de...

– Difícil? – Poseidon perguntou inocentemente.

– Impossível – Zeus disse. – Impossível de se derrotar Tifão.

Os deuses murmuraram concordando e levantando suas armas em aprovação.

– O que nos deixa agora – continuou Zeus – com apenas a questão de agradecer aos nossos jovens heróis semideuses, que defenderam o Olimpo muito bem – mesmo que haja alguns amassados em meu trono.

Ele chamou Thalia à frente, primeiro, sendo ela sua filha, e lhe prometeu ajuda no preenchimento das fileiras de Caçadoras.

Ártemis sorriu.

– Você se saiu muito bem, minha tenente. Você me deixou orgulhosa, e todas as Caçadoras que pereceram em meus serviços nunca serão esquecidas. Elas irão para o Elísio, tenho certeza.

Ela olhou direto para Hades, que deu ombros.

– Provavelmente.

Ártemis continuou olhando para ele.

– Tudo bem – ele grunhiu. – Vou acelerar seu processo de requerimento.

Thalia encheu-se de orgulho.

– Obrigada, minha senhora.

Ela curvou-se para todos os deuses, inclusive Hades, e depois seguiu mancando para postar-se ao lado de Ártemis.

– Tyson, filho de Poseidon! – Zeus chamou.

Tyson parecia nervoso, mas ele foi para o meio do Conselho, e Zeus falou.

– Parece que ele não perde muitas refeições, não é? – Zeus murmurou. – Tyson, por sua bravura na guerra, e por liderar os ciclopes, você está promovido a general dos exércitos do Olimpo. Daqui pra frente, você deverá liderar seu exército para uma batalha sempre que for requerido pelos deuses. E você terá um novo... Hum... Que tipo de arma você desejaria? Uma espada? Um machado?

– Um bastão! – Tyson disse, mostrando seu bastão quebrado.

– Muito bem – Zeus disse. – Nós lhe daremos um novo, hã, bastão. O melhor bastão que possa ser encontrado.

– Viva! – gritou Tyson, e todos os ciclopes aplaudiram e puseram ele em suas costas enquanto ele se juntava a eles.

– Grover Underwood, dos sátiros – Dionísio chamou.

Grover aproximou-se nervosamente.

– Ah, pare de mastigar sua camisa – Dionísio repreendeu. – Honestamente, eu não vou fulminá-lo. Por sua bravura e sacrifício e blá, blá, blá, e como infelizmente temos uma vaga, os deuses decidiram nomeá-lo membro do Conselho dos Anciãos de Casco Fendido.

Grover desmaiou na mesma hora.

– Ah, ótimo – Dionísio suspirou, enquanto muitas náiades vinham ajudar Grover. – Bem, quando ele acordar, alguém diga a ele que ele não será mais um rejeitado, e que todos os sátiros, náiades, e outros espíritos da natureza, daqui pra frente terão que tratá-lo como o Senhor da Natureza, com todos direitos, privilégios, e honras, blá, blá, blá. Agora, por favor, levem-no para fora antes que ele acorde e comece a se deleitar com torpezas.

– COMIIIIIIIIIIIIIDA – baliu Grover, enquanto os espíritos da natureza o levavam embora.

Percebi que ele ficaria bem. Ele acordaria como Senhor da Natureza rodeado por náiades. A vida podia ser pior.

Atena chamou:

– Annabeth Chase, minha filha.

Annabeth apertou meu braço, e depois se aproximou e ficou aos pés de sua mãe.

Atena sorriu.

– Você, minha filha, superou todas as expectativas. Usou toda sua inteligência, sua força, e sua coragem para defender essa cidade, e nosso lugar de poder. Chamou-nos a atenção, o fato do Olimpo estar, bem... arruinado. O Senhor Titã causou muito estrago que terá que ser reparado. Podemos reconstruir com mágica, é claro, e fazê-lo exatamente igual ao que era antes. Mas os deuses acham que a cidade pode ser melhorada. Então aproveitaremos essa oportunidade. E você, minha filha, fará essas melhorias.

Annabeth olhou para cima, surpresa.

– Minha... Minha senhora?

Atena sorriu, divertindo-se.

– Você é uma arquiteta, não é? Você tem estudado as próprias técnicas de Dédalo. Quem melhor pra redesenhar o Olimpo e fazer dele um monumento que durará por outra eternidade?

– Você quer dizer que... Eu posso projetar o que eu quiser?

– O que seu coração desejar. – A deusa disse. – Faça-nos uma cidade que dure eras.

– Contanto que você coloque muitas estátuas minhas – Apolo adicionou.

– E minhas – Afrodite concordou.

– E minhas! – Ares disse. – Grandes estátuas com grandes espadas e...

– Chega – Atena interrompeu. – Ela já entendeu. Levante-se, minha filha, arquiteta oficial do Olimpo.

Annabeth entrou em transe e veio até mim.

– Muito bem – eu disse a ela, sorrindo.

Pela primeira vez ela estava sem palavras.

– Eu... Eu tenho que começar a planejar... Pegarei papéis e, hã, lápis...

– PERCY JACKSON! – anunciou Poseidon.

Meu nome ecoou pela sala.

Todas as conversas cessaram. A sala estava em silêncio, exceto pelo som do fogo na braseira. Os olhos de todos estavam em mim – todos os deuses, semideuses, ciclopes, e espíritos. Eu andei para o meio da sala dos tronos. Héstia sorriu para mim, encorajadamente. Ela estava em forma de garota agora, e ela parecia feliz e contente por estar sentada perto do fogo de novo. Seu sorriso me deu coragem para continuar caminhando.

Primeiro eu me curvei para Zeus. Depois, fiquei aos pés do meu pai.

– Levante-se, meu filho – Poseidon disse.

Pus-me de pé, inquieto.

– Um grande herói deve ser recompensado – Poseidon disse. – Há alguém aqui que negaria que meu filho é merecedor?

Eu esperei por alguém se pronunciar. Os deuses nunca concordam em nada, e muitos deles ainda nem olhavam para mim, mas nenhum protestou.

– O Conselho concorda – Zeus disse. – Percy Jackson, você terá direito há um presente dos deuses.

Eu hesitei.

– Um presente?

Zeus concordou sorrindo.

– Eu sei o que você vai pedir. O melhor presente de todos. Sim, se você quiser, ele será dado a você. Os deuses nunca concederam esse presente a um herói em séculos, mas Perseu Jackson – se você desejar – você poderá se tornar um deus. Imortal. Você servirá como o líder de seu pai para sempre.

Eu olhei para ele, petrificado.

– Hã... Um deus?

Zeus rolou os olhos.

– Um deus menor, aparentemente. Mas sim. Com o consenso de todo o Conselho, eu posso torná-lo imortal. Então terei que aturá-lo para sempre.

– Humm – Ares meditou. – Quer dizer que eu posso esmagá-lo, transformando-o em polpa na hora que eu quiser, e ele sempre voltará para que eu faça mais. Gostei da ideia.

– Eu aprovo – Atena disse, embora ela estivesse olhando para Annabeth.

Eu olhei para trás. Annabeth estava tentando não me olhar nos olhos. Seu rosto estava pálido. Lembrei-me de dois anos atrás, quando eu pensei que ela fosse se juntar a Ártemis e tornar-se uma Caçadora. Eu estive na beira de um ataque de pânico, achando que eu a perderia. Agora ela parecia sentir o mesmo.

Pensei nas Três Parcas, e o modo como vi minha vida em um flash. Eu poderia evitar tudo isso. Sem envelhecer, sem morte, sem o corpo em um túmulo. Eu poderia ser um adolescente para sempre, em alta condição, poderoso, e imortal, servindo a meu pai. E poderia ter poder e vida eterna.

Quem poderia recusar isso?

Depois olhei para Annabeth de novo. Pensei nos meus amigos do acampamento: Charles Beckendorf, Michael Yew, Silena Beauregard, e tantos outros estavam mortos agora. Pensei em Ethan Nakamura e Luke.

E soube o que fazer.

– Não. – Eu disse.

O Conselho estava em silêncio. Os deuses olharam entre si, como se eles tivessem ouvido mal.

– Não? – Zeus disse. – Você está... Negando nosso generoso presente?

Havia um tom perigoso em sua voz, como se uma tempestade estivesse pronta para explodir.

– Estou honrado e tudo – eu disse. – Não me entendam mal. É só que... Eu ainda tenho muito que viver. Detestaria chegar ao auge em meu segundo ano da escola.

Os deuses estavam olhando para mim, mas Annabeth estava com suas mãos sobre a boca. Seus olhos estavam brilhando. E isso compensava tudo.

– Eu quero um presente, entretanto. – Eu disse. – Você promete conceder meu desejo?

Zeus pensou sobre isso.

– Se estiver ao alcance de nossos poderes...

– Está – eu disse. – E nem é difícil. Mas preciso que vocês jurem pelo Rio Estige.

– O quê? – gritou Dioniso. – Você não acredita em nós?

– Uma vez, alguém me disse – repliquei, olhando para Hades – que sempre se deve obter um juramento solene.

Hades deu de ombros.

– Culpado – admitiu.

– Muito bem! – Zeus berrou. – Em nome do Conselho, juramos pelo Rio Estige conceder-lhe seu pedido razoável contanto que esteja dentro de nossos poderes.

Os outros deuses murmuraram em aprovação. Um trovão rugiu, chacoalhando a sala do trono. O acordo estava feito.

– De agora em diante, eu quero que vocês reconheçam devidamente os filhos dos deuses – eu disse. – Todos os filhos... De todos os deuses.

Os Olimpianos mexeram-se, desconfortáveis.

– Percy – meu pai disse – o que exatamente você quer?

– Cronos não teria se erguido se não fosse por um bocado de semideuses que se sentiam abandonados por seus pais – eu disse. – Eles sentiam raiva, ressentimento, e sem amor, e eles tinham bons motivos.

As narinas reais de Zeus inflaram.

– Você ousa acusar...

– Sem crianças indeterminadas – eu disse. – Quero que vocês prometam reclamar todas suas crianças – todas suas crianças semideuses – quando elas fizerem treze anos. Elas não serão jogadas no mundo vivendo por conta própria e a mercê de monstros. Eu quero que elas reclamadas e levadas ao acampamento para que elas possam receber treinamento adequado, e poder sobreviver.

– Agora, espere um momento – Apolo disse, mas eu já estava no embalo.

– E os deuses menores – eu disse. – Nêmesis, Hécate, Morfeu, Janos, Hebe... todos eles merecem anistia e um ligar no Acampamento Meio Sangue. Suas crianças não devem ser ignoradas. Calipso e os outros filhos pacíficos de Titãs devem ser perdoados também. E Hades...

– Você está me chamando de um deus menor? – Hades berrou.

– Não, meu senhor – apressei-me em dizer. – Mas suas crianças não devem ser excluídas. Elas devem ter um chalé no acampamento. Nico provou isso. Semideuses sem ser reclamados não deverão ser jogados no chalé de Hermes, perguntando quais são os seus pais. Haverá chalés para todos os deuses. E nada mais de pacto entre os Três Grandes. Afinal, isso não funcionou. Vocês tem que parar de tentar se livrar dos semideuses poderosos. Nós os treinaremos e os aceitaremos. Todas as crianças de deuses serão bem vindas e tratadas com respeito. Esse é meu pedido.

Zeus bufou.

– Isso é tudo?

– Percy – Poseidon disse. – Você está pedindo muito. Está abusando.

– Vocês estão presos pelo juramento – eu disse. – Todos vocês.

Recebi muitos olhares duros. Estranhamente, foi Atena quem se pronunciou:

O garoto está certo. Nós tivemos sido imprudentes ignorando nossas crianças. Isso mostrou uma fraqueza estratégica nessa guerra e quase causou nossa destruição. Percy Jackson, eu tinha minhas dúvidas sobre você, mas talvez – ela olhou para Annabeth, e depois falou como se as palavras tivessem um gosto amargo – talvez eu esteja enganada. Eu voto para que aceitemos o plano do garoto.

– Humpf – Zeus disse. – Receber ordens de uma mera criança. Mas eu suponho que...

– Todos a favor – Hermes disse.

Todos os deuses levantaram as mãos.

– Hum, obrigado. – Eu disse.

Eu me virei, mas antes que eu pudesse sair, Poseidon chamou.

– Guarda de Honra!

Imediatamente os ciclopes vieram para frente e fizeram duas filas, que iam dos tronos até a porta – um corredor para eu passar. E ficaram em posição de sentido.

– Todos saúdem Perseu Jackson – Tyson disse. – Herói do Olimpo... E meu irmão mais velho!

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