sábado, 31 de agosto de 2013

O ultimo olimpiano - capitulo 4





                          Queimamos uma mortalha de metal

Sonhei que Rachel Elizabeth Dare estava jogando dardos em um retrato meu.
Ela estava em seu quarto... Okay, volta a fita. Eu tenho que explicar que Rachel não tem um quarto. Ela tem todo o andar superior da mansão de sua família, uma das antigas casas de arenito do Brooklyn. O “quarto” dela era um loft enorme com iluminação industrial e janelas que iam do chão ao teto. Era mais ou menos duas vezes maior do que o apartamento da minha mãe.
Um rock alternativo saia das caixas de som ligadas ao seu iPod todo sujo de tinta. Até onde eu sabia, as únicas regras de Rachel sobre música eram que as músicas em seu iPod não podiam ser semelhantes, e todas elas tinham que ser estranhas.
Ela usava um quimono, e seu cabelo estava frisado, como se ela tivesse acabado de acordar. Sua cama estava bagunçada. Lençóis estavam jogados em cima de alguns cavaletes artísticos. Roupas sujas e papéis de barras energéticas estavam espalhados pelo chão, mas quando se tem um quarto tão grande assim, a bagunça não parece tão ruim. Pelas janelas todo o céu noturno de Manhattan.
O retrato que ela estava atacando era uma pintura minha lutando contra o gigante Anteu. Rachel a tinha pintado há alguns meses atrás. Minha expressão na figura era feroz – perturbadora até – então era difícil saber se eu era o mocinho ou o bandido, mas Rachel disse que era assim que eu parecia logo depois da batalha.
– Semideuses – Rachel murmurou enquanto ela jogava outro dardo na tela. – E suas estúpidas missões.
A maioria dos dardos caía, mas alguns ficavam. Um ficou preso no meu queixo como um cavanhaque.
Alguém bateu na porta de seu quarto.
– Rachel! – Um homem gritou. – O que diabos você está fazendo? Desligue esse...
Rachel pegou seu controle remoto e desligou a música.
– Entre!
Seu pai entrou, franzindo as sobrancelhas e piscando por causa da luz. Ele tinha cabelos cor de ferrugem um pouco mais escuros do que os de Rachel. Estava esmagado de um lado como se tivesse perdido uma guerra contra seu travesseiro. Ele usava pijamas de seda azul com o monograma “WD” no bolso. Sério, quem é que usa pijama com um monograma bordado?
– O que está acontecendo? – perguntou ele. – São três da manhã.
– Não conseguia dormir – disse Rachel.
No retrato, um dardo caiu do meu rosto. Rachel escondeu o resto em suas costas, mas o Sr. Dare notou.
– Então... Eu devo presumir que seu amigo não vai para St. Thomas? – Era assim que o Sr.Dare me chamava. Nunca de Percy. Somente seu amigo. Ou jovem se estivesse falando comigo, o que ele fazia raramente.
Rachel franziu as sobrancelhas.
– Eu não sei.
– Nós partiremos de manhã – seu pai disse. – Se ele ainda ao se decidiu...
– Ele provavelmente não vem – disse Rachel miseravelmente. – Feliz?
O Sr. Dare colocou suas mãos atrás das costas. Ele olhou para o quarto com uma expressão severa. Eu imaginei que ele fazia isso na sala de reuniões de sua empresa e fazia com que seus empregados ficassem preocupados.
– Você ainda está tendo pesadelos? – ele perguntou. – Dores de cabeça?
Rachel jogou seus dardos no chão.
– Eu nunca deveria lhe ter contado sobre isso.
– Eu sou seu pai – ele disse. – Estou preocupado com você.
– Preocupado com a reputação da família – Rachel murmurou.
Seu pai não reagiu – talvez por que ele já tivesse ouvido aquele comentário antes, ou talvez porque fosse verdade.
– Nós podíamos chamar o dr. Arkwright – ele sugeriu. – Ele te ajudou a superar a morte de seu hamster.
– Eu tinha seis anos naquela época – ela disse. – E não, pai, eu não preciso de um terapeuta. Eu só... – Ela sacudiu a cabeça desamparada.
Seu pai parou na frente das janelas. Ele olhou para o céu de Nova York como se fosse o dono dela – o que não era verdade. Ele só era dono de uma parte.
– Vai ser bom para você ir embora – ele decidiu. – Você teve algumas influências não saudáveis.
– Eu não vou para a Academia de Moças de Clarion – disse Rachel. – E meus amigos não são da sua conta.
Sr. Dare sorriu, mas não era um sorriso acolhedor. Era mais como Algum dia você vai perceber o quão tola você soa.
– Tente dormir um pouco. – Ele sugeriu. – Nós estaremos na praia amanhã à noite. Será divertido.
– Divertido – repetiu Rachel. – Divertidíssimo.
Seu pai saiu do quarto. Ele deixou a porta aberta atrás dele.
Rachel encarou o meu retrato. Então ela andou em direção ao cavalete a seu lado, que estava coberto com um lençol.
– Eu espero que sejam sonhos – ela disse.
Ela descobriu o cavalete. Nele estava um esboço rápido, mas Rachel era uma boa artista. A pintura era definitivamente Luke mais novo. Ele tinha uns nove anos, com um sorriso largo e nenhuma cicatriz em seu rosto. Eu não fazia ideia sobre como Rachel podia saber como ele se parecia naquela época, mas o retrato era tão bom que eu tinha uma sensação que ela não estava adivinhando. Do que eu sabia da vida de Luke (que não era muito), a gravura o mostrava logo antes dele ter descoberto que era um meio-sangue e ter fugido de casa.
Rachel encarou o retrato. Depois ela descobriu o próximo cavalete. Essa pintura era ainda mais perturbadora. Ela mostrava o Empire State Building com raios a sua volta. A distância uma tempestade negra estava chegando, com uma mão gigante saindo das nuvens. Na base do prédio uma multidão estava reunida... mas não era uma multidão normal de turistas e pedestres. Eu vi lanças, dardos, e bandeiras – os acessórios de um exército.
– Percy – Rachel murmurou, como se soubesse que eu estava escutando, – o que está acontecendo?
O sonhou se desvaneceu, e a última coisa que eu me lembrava era desejar poder responder a sua pergunta.

Na manhã seguinte eu quis ligar para ela, mas não tínhamos telefones no acampamento. Dionísio e Quíron não precisavam de uma linha terrena. Eles apenas ligavam para o Olimpo com uma mensagem de Íris quando precisavam de alguma coisa. E quando semideuses usavam celulares, os sinais agitavam cada monstro dentro de mil quilômetros. Era como mandar um sinal: Estou aqui! Por favor reorganize a minha cara!
Mesmo dentro das fronteiras seguras do acampamento, não é esse o tipo de anúncio que quereríamos fazer. A maior parte dos semideuses (exceto por Annabeth e mais alguns outros) nem ao menos tem celulares. E eu definitivamente não podia dizer a Annabeth “Hey, me empresta seu celular para que eu possa ligar para Rachel?”
Para fazer uma ligação eu precisaria sair do acampamento e andar muitos quilômetros até a loja de conveniências mais próxima. Mesmo se Quíron me deixasse ir, quando eu chegasse lá, Rachel já estaria em um avião para St. Thomas.
Eu comi sozinho um café da manhã deprimente na mesa de Poseidon. Eu fiquei encarando a fissura no chão de mármore onde há dois anos atrás Nico tinha banido vários esqueletos com sede se sangue para o submundo. A memória não melhorou exatamente o meu apetite.
Depois do café, Annabeth e eu andamos para inspecionar os chalés. Na verdade, era a vez de Annabeth fazer as inspeções. Minha tarefa matinal era meio que analisar os relatórios para Quíron. Mas considerando que nós dois odiávamos nossos trabalhos, nós decidimos fazê-los juntos, então não seria tão detestável.
Nós começamos no chalé de Poseidon, que era basicamente apenas eu. Eu tinha feito meu beliche naquela manhã (bem, mais ou menos) e endireitado o chifre de Minotauro na parede, então eu dei a mim mesmo um quatro de cinco.
Annabeth fez uma careta.
– Você está sendo generoso demais. – Ela usou a ponta de trás de seu lápis para pegar um velho par de shorts de corrida.
Eu o arrebatei para longe.
– Ei, me deu tempo. Eu não tenho o Tyson para limpar para mim nesse verão.
– Três de cinco.
Disse Annabeth. Eu sabia que era melhor não discutir com ela, então continuamos. Eu tentei passar alguns relatórios da pilha de Quíron enquanto andávamos. Tinham mensagens de semideuses, espíritos da natureza, e sátiros de todo o país, escrevendo sobre a atividade de monstros recente. Elas eram bastante deprimentes, e meu cérebro com TDAH não gostava de se concentrar em coisas deprimentes.
Pequenas batalhas estavam aparecendo em todos os lugares. O recrutamento do campo estava em zero. Sátiros estavam com problemas para achar novos meio-sangues e levá-los para a Colina Meio-Sangue por causa da quantidade de monstros que estavam rondando o país. Nossa amiga Thalia, que comandava as Caçadoras de Ártemis, não tinha sido vista há meses, e se Ártemis sabia o que acontecera a elas, ela não estava dividindo a informação.
Nós visitamos o chalé de Afrodite, que obviamente ganhou um cinco de cinco. As camas estavam perfeitamente feitas. As roupas nos baús de todos estavam divididas por cores. Flores frescas estavam florescendo nas janelas. Eu queria tirar um ponto porque todo o lugar fedia a perfume de marca, mas Annabeth me ignorou.
– Ótimo trabalho, como sempre, Silena – disse Annabeth.
Silena assentiu desatenta. A parede atrás de sua cama estava decorada com retratos de Beckendorf. Ela sentou em seu beliche com uma caixa de chocolates em seu colo, e eu lembrei que seu pai era dono de uma loja de chocolates no Village, que era como ele tinha chamado a atenção de Afrodite.
– Você quer um bombom? – perguntou Silena. – Meu pai os mandou. Ele pensou - ele pensou que talvez me animassem.
– Eles são bons? – Eu perguntei.
Ela sacudiu a cabeça.
– Eles tem gosto de papelão.
Eu não tinha nada contra papelão, então tentei um. Annabeth passou. Nós prometemos a Silena que a veríamos mais tarde e continuamos andando.
Enquanto cruzávamos as áreas comuns, uma briga estourou entre os chalés de Ares e Apolo. Alguns campistas de Apolo armados com bombas de fogo voaram por cima do chalé de Ares em uma biga puxada por dois pégasos. Eu nunca tinha visto a carruagem antes, mas parecia ser bastante boa. Logo, o telhado de Ares estava queimando, e as náiades do lago de canoagem correram para jogar água nele.
Então os campistas de Ares lançaram uma maldição, e as flechas de todas as crianças de Apolo viraram borracha. Os filhos de Apolo continuavam atirando nos de Ares, mas as flechas batiam e quicavam.
Dois arqueiros correram, sendo perseguidos por uma criança raivosa de Ares que estava gritando em versos:
– Maldição, pois sim! Vocês vão me pagar!/ Não quero passar o dia todo a rimar!
Annabeth suspirou.
– Isso de novo, não. A última vez que o chalé de Apolo amaldiçoou um chalé, levou uma semana até que as parelhas de versos parassem.
Eu estremeci. Apolo era o deus da poesia, assim como o do arco e flecha, e eu já o tinha escutado recitar em pessoa. Eu quase preferia ser atingido por uma flecha.
– Sobre o que eles estão brigando de qualquer forma? – Eu perguntei.
Annabeth me ignorou enquanto escrevia em sua lista de inspeção, dando a ambos os chalés um de cinco.
Eu me vi a encarando, o que era idiota já que eu já há havia visto um bilhão de vezes. Ela e eu estávamos com mais ou menos a mesma altura esse verão, o que era um alívio. Ainda assim, ela parecia tão mais madura. Era meio intimidante. Quero dizer, claro, ela sempre havia sido fofa, mas ela estava começando a ficar seriamente linda. Finalmente ela disse:
– Aquela biga voadora.
– O que?
– Você perguntou sobre o que eles estavam brigando.
– Oh. Oh, certo.
– Eles a capturaram em um ataque-surpresa na Filadélfia semana passada. Alguns dos meio-sangues de Luke estavam com essa biga voadora. O chalé de Apolo a apreendeu durante a batalha, mas o chalé de Ares estava liderando o ataque. Eles estão brigando por ela desde então.
Nós nos desviamos quando a biga de Michael Yew mergulhou como uma bomba em um campista de Ares. O campista de Ares tentou esfaqueá-lo e amaldiçoá-lo em versos. Ele era bem criativo sobre rimar palavras amaldiçoadas.
– Nós estamos lutando por nossas vidas – eu disse – e eles estão brigando por uma biga idiota.
– Eles vão esquecer isso – disse Annabeth. – Clarisse voltará à razão.
Eu não tinha tanta certeza. Essa não parecia uma atitude da Clarisse que eu conhecia. Eu analisei mais alguns relatórios e nós inspecionamos outros chalés. Deméter conseguiu um quatro. Hefesto ganhou um três e provavelmente merecia menos, mas com a perda de Beckendorf e tudo, nós os demos uma folga. Hermes conseguiu um dois, o que não era surpresa. Todos os campistas que não sabiam quem eram seus pais deuses eram jogados no chalé de Hermes, e já que os deuses eram meio esquecidos, aquelo chalé estava sempre superlotada.
Finalmente nós chegamos ao chalé de Atena, que estava organizado e limpo como o habitual. Livros estavam arrumados nas prateleiras. As armas estavam polidas. Mapas de batalhas e esquemas estavam decorando as paredes. Apenas o beliche de Annabeth estava bagunçado. Estava coberto de papéis, e seu laptop de prata ainda estava ligado.
– Vlacas – murmurou Annabeth, que era basicamente chamar a si mesma de idiota em grego.
Seu segundo no comando, Malcolm, suprimiu um sorriso.
– Yeah, um... nós limpamos todo o resto. Não sabíamos se era seguro mexer em suas anotações.
Isso provavelmente foi inteligente. Annabeth tinha uma faca de bronze que ela reservava somente para monstros e pessoas que mexiam em suas coisas.
Malcolm sorriu para mim.
– Nós vamos esperar lá fora enquanto vocês terminam a inspeção.
Os campistas de Atena saíram em fila pela porta enquanto Annabeth limpava seu beliche.
Eu troquei o peso dos pés desconfortável e fingi ler mais alguns relatórios. Tecnicamente, mesmo durante a inspeção, era contra as regras do acampamento dois campistas ficarem...tipo sozinhos em um chalé.
Essa regra fora mencionada muitas vezes quando Silena e Beckendorf começaram a namorar. E eu sei que alguns de vocês devem estar pensando: se todos os semideuses são aparentados pelo lado deus, isso não faz namorar ser nojento?
Mas a coisa é, a parte deus de nossa família não conta, geneticamente falando, já que os deuses não tem DNA. Um meio-sangue nunca pensaria em namorar alguém que tivesse o mesmo deus como pai. Tipo duas pessoas do chalé de Atena? Sem chance. Mas uma filha de Afrodite com um filho de Hefesto? Eles não têm parentesco. Então não tem problema.
De qualquer forma, por alguma razão estranha eu estava pensando sobre isso enquanto observava Annabeth se endireitar. Ela fechou seu laptop, que tinha sido dado a ela como um presente do inventor Dédalo no verão passado.
Eu limpei minha garganta.
– Então... conseguiu alguma informação boa desse negócio?
– Demais – ela disse. – Dédalo tinha tantas ideias, eu podia passar cinquenta anos apenas tentando compreende-las todas.
– Yeah – eu murmurei. – Isso seria divertido.
Ela arrumou seus papéis – a maior parte desenhos de prédios e algumas notas escritas a mão. Eu sabia que ela queria ser uma arquiteta algum dia, mas eu tinha aprendido do jeito difícil a não pergunta sobre seu trabalho. Ele iria começar a falar sobre ângulos e juntas de paredes de suportes até que eu ficasse tonto.
– Você sabe... – ela colocou seus cabelos atrás das orelhas, como ela faz quando está nervosa. – Toda essa coisa com Beckendorf e Silena. Ela meio que faz você pensar. Sobre...o que é importante. Sobre perder pessoas que são importantes.
Eu assenti. Me cérebro começou a se concentrar em pequenos detalhes aleatórios, como o fato dela ainda estar usando aqueles brincos de corujas de prata dados pelo pai, que era esse professor esperto de história em São Francisco.
– Um...yeah. – eu balbuciei. – Tipo...está tudo legal com a sua família?
Okay, pergunta realmente estúpida, mas hey, eu estava nervoso.
Annabeth pareceu desapontada, mas assentiu.
– Meu pai queria me levar para a Grécia esse verão – ela disse desejosamente. – Eu sempre quis ver...
– O Parthenon – eu lembrei
Ela conseguiu sorrir.
– Yeah.
– Está tudo bem. Haverão outros verões, certo?
Assim que eu disse isso, eu percebi que era um comentário estúpido. Eu estava encarando o fim dos meus dias. Dentro de uma semana, o Olimpo poderia cair. Se a Era dos Deuses realmente acabasse, o mundo como conhecíamos se dissolveria no caos. Semideuses seriam caçados até sua extinção. Não haveriam mais verões para nós.
Annabeth encarou sua lista de inspeção.
– Três de cinco – ela murmurou – por uma conselheira chefe desleixada. Venha. Vamos terminar seus relatórios e devolvê-los a Quíron.
A caminho da casa grande, nós lemos o último relatório, que era manuscrito em uma folha de bordo de um sátiro no Canadá. Se possível, a nota fez eu me sentir ainda pior.
– Caro Grover – eu li em voz alta. – As florestas fora de Toronto estão sendo atacadas por um texugo do mal gigante. Tentei fazer como você sugeriu e convocar o poder de Pã. Sem efeito. Muitas árvores de náiades destruídas. Recuando para Ottawa. Por favor, mande um conselho. Onde você está? – Gleeson Hedge, protetor.
Annabeth fez uma careta.
– Você não ouviu nada dele? Mesmo com a ligação empática?
Eu sacudi a cabeça desanimado.
Desde o último verão, quando o deus Pã morreu, nosso amigo Grover tinha se afastado mais e mais. O conselho dos anciões o tratava como um exilado, mas Grover ainda viajava por toda a costa leste, tentando espalhar a palavra sobre Pã e convencer os espíritos de natureza a protegerem seus próprios pequenos pedaços da natureza. Ele só tinha voltado ao campo algumas vezes pare visitar sua namorada, Juníper.
A última vez que soube ele estava no Central Park organizando as dríades, mas ninguém tinha visto ou ouvido falar dele em dois meses. Nós tentamos mandar mensagens de Íris. Elas nunca chegavam. Eu tinha uma ligação empática com Grover, então eu esperava que eu soubesse se alguma coisa ruim acontecesse com ele.
Grover tinha me dito uma vez que se ele morresse a ligação empática poderia me matar também. Mas eu não tinha certeza se isso era verdade ou não.
Eu me perguntei se ele ainda estava em Manhattan. Então eu pensei sobre o meu sonho do esboço de Rachel – nuvens negras se aproximando da cidade, um exército reunido ao redor do Empire State Building.
– Annabeth. – Eu a segurei perto da quadra de tetherball. Eu sabia que estava pedindo por problemas, mas eu não sabia em quem mais confiar. Além disso, eu sempre tinha dependido de Annabeth para conselhos. – Escute, eu tive esse sonho sobre, um, Rachel...
Eu contei a ela a coisa toda, mesmo a estranha figura de Luke quando criança. Por um tempo ela não disse nada. Depois ela enrolou sua lista de inspeção tão apertada que a rasgou.
– O que você quer que eu diga?
– Não tenho certeza. Você é a melhor estrategista que eu conheço. Se você fosse Cronos e estivesse planejando essa guerra, o que você faria em seguida?
– Eu usaria Tifão como uma distração. Então eu atacaria o Olimpo diretamente, enquanto os deuses estão no oeste.
– Assim como na pintura de Rachel.
– Percy – ela disse com a voz apertada – Rachel é apenas uma mortal.
– Mas e se o sonho dela for verdade? Aqueles outros titãs - eles disseram que o Olimpo seria destruído em questão de dias. Eles disseram que eles tinham vários outros desafios. E sobre aquela figura de Luke como uma criança...
– Nós apenas teremos que estar preparados.
– Como? – eu disse. – Olhe para o nosso acampamento. Nós não conseguimos nem ao menos evitar lutarmos uns contra os outros. E eu estou destinado a ter a minha alma estúpida dilacerada.
Ela jogou sua lista no chão.
– Eu sabia que nós não deveríamos ter mostrado a profecia a você. – A voz dela estava raivosa e magoada. – Tudo que ela fez foi assustar você. Você foge das coisas quando fica assustado.
Eu a encarei, completamente aturdido.
– Eu? Fujo?
Ela pôs o dedo no meu nariz.
– Sim, você. Você é um covarde, Percy Jackson!
Nós estávamos cara a cara. Seus olhos estavam vermelhos, e eu de repente entendi que quando ela me chamava de covarde, talvez ela não estivesse falando sobre a profecia.
– Se você acha que não temos chances – ela disse, – talvez tivesse sido melhor você ter saído de férias com Rachel.
– Annabeth...
– Se não gosta de nossa companhia.
– Isso não é justo!
Ela me empurrou para passar direto por mim e foi tempestuosamente para os campos de morango. Ela atingiu a bola de tetherball enquanto passou e a mandou girando raivosamente em volta da baliza.

Eu gostaria de dizer que o meu dia melhorou a partir daí. É claro que não melhorou.
Naquela tarde nós tivemos uma assembleia na fogueira do campo para queimar a mortalha de Beckendorf e fazer nossas despedidas. Até os chalés de Ares e Apolo decretaram uma trégua temporária para poderem comparecer.
A mortalha de Beckendorf era feita de linhas de metal, como uma cota de malha. Eu não vi como poderia queimar, mas as Parcas deveriam estar ajudando.
O metal derreteu no fogo e se transformou em fumaça dourada, que adentrou ao céu. As chamas da fogueira sempre refletiam o humor dos campistas, e hoje elas queimavam negras.
Eu esperava que o espírito de Beckendorf fosse parar no Elísio. Talvez ele até escolhesse renascer e tentar alcançar o Elísio em três vidas diferentes para que ele pudesse alcançar as Ilhas dos Abençoados, que eram como o quartel-general de festas definitivas. Se alguém as merecia, era Beckendorf.
Annabeth partiu sem me dizer uma palavra. A maior parte dos campistas voltou às suas atividades da tarde. Só eu fiquei ali encarando as chamas morrerem.
Silena se sentou perto chorando, enquanto Clarisse e seu namorado, Chris Rodriguez, tentavam confortá-la.
Finalmente eu consegui coragem para ir até lá.
– Hey, Silena, eu realmente sinto muito.
Ela fungou. Clarisse me encarou, mas ela sempre encara todo mundo. Chris mal olhava para mim. Ele tinha sido um dos homens de Luke até Clarisse tê-lo resgatado no verão passado, e eu acho que ele ainda se sentia culpado em relação a isso.
Eu limpei minha garganta.
– Silena, você sabe que Beckendorf carregava sua foto com ele. Ele olhou para ela logo antes de irmos para a batalha. Você significava muito para ele. Você fez o último ano o melhor da vida dele.
Silena soluçou.
– Bom trabalho, Percy.
– Não, está tudo bem – disse Silena. – Obriga... Obrigada, Percy. Eu devo ir.
– Você quer companhia? – Perguntou Clarisse.
Silena sacudiu a cabeça e saiu correndo.
– Ela é mais forte do que parece – murmurou Clarisse, quase que consigo mesma. – Ela sobreviverá.
– Você poderia ajudar com isso – eu sugeri. – Você poderia honrar a memória de Beckendorf lutando conosco.
Clarisse procurou sua faca, mas não estava mais ali. Ela há tinha jogado na mesa de pingue-pongue na casa grande.
– Não é problema meu – rosnou ela. – Se meu chalé não é honrado, eu não luto.
Eu notei que ela não estava rimando. Talvez ela não estivesse por perto quando seus companheiros de chalé foram amaldiçoados, ou ela tivesse uma forma de quebrar o feitiço. Com um calafrio eu me perguntei se Clarisse podia ser a espiã de Cronos no campo. Era por isso que ela estava mantendo seu chalé fora da luta?
Mas por mais que eu não gostasse de Clarisse, espionar para os Titãs não parecia ser seu estilo.
– Tudo bem – eu disse a ela. – Eu não queria trazer isso a tona, mas você me deve uma. Você estaria apodrecendo em uma caverna de um ciclope no mar de monstros se não fosse por mim.
Ela fez um som desagradável.
– Qualquer outro favor, Percy. Não isso. O chalé de Ares foi desrespeitado vezes demais. E não pense que eu não sei o que as pessoas falam sobre mim nas minhas costas.
Eu queria dizer, Bem, isso é verdade. Mas mordi minha língua.
– Então, o que? Você vai simplesmente deixar Cronos nos esmagar? – eu perguntei.
– Se você quer tanto a minha ajuda, diga a Apolo para nos dar a biga.
– Você é uma bebezona – eu disse.
Ela me atacou, mas Chris entrou entre nós.
– Whoa, pessoal – ele disse. – Clarisse, você sabe, talvez ele tenha razão.
Ela olhou sarcasticamente para ele.
– Não você também!
E saiu pisando firme, com Chris em seus calcanhares.
– Hey espere! Eu só quis dizer - Clarisse, espere!
Eu assisti as últimas fagulhas da fogueira de Beckendorf subirem para o céu da tarde. Depois eu me dirigi para a arena de treinamentos com espadas. Eu precisava de um tempo, e queria ver uma velha amiga.


                                             

Nenhum comentário:

Postar um comentário