quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A esperança - capitulo 22






O prazo acabou. Possivelmente Snow os colocou cavando noite adentro. Tão logo o fogo se extinguiu, de qualquer modo. Eles acharam os restos de Boggs, brevemente se sentindo reassegurados, e então, quando as horas se passaram sem mais troféus, começaram a suspeitar. Em algum ponto, eles perceberam que foram enganados. E Presidente Snow não pode tolerar ser feito de tolo. Não importa se eles nos perseguiram para o segundo apartamento ou assumiram que nós fomos diretamente para o subsolo. Eles sabem que nós descemos aqui e estão soltando alguma coisa, uma matilha de mutações provavelmente, inclinadas a me achar.Katniss.Eu pulo com a proximidade do som. Olho freneticamente para sua fonte, arco carregado, investigando um alvo para atirar.— Katniss.Os lábios de Peeta estão somente se movendo, mas não há dúvida, o nome vem dele. Justamente quando eu penso que ele parece um pouco melhor, quando penso que ele pode estar avançando seu caminho de volta para mim, aqui está a prova de quão profundo Snow foi.— Katniss.Peeta está programado para responder ao coro assobiado, para se juntar à caçada. Ele está começando a se mover. Não há chance. Eu posiciono meu arco para penetrar seu cérebro. Eu apenas sinto uma coisa. De repente, ele está sentado, olhos abertos em alarme, respiração curta.— Katniss! — Ele move sua cabeça em minha direção, mas não parece perceber meu arco, a flecha aguardando. — Katniss! Saia daqui!Eu hesito. Sua voz está alarmada, mas não insana.— Por quê? O que está fazendo esse som?— Eu não sei. Somente sei que quer matar você — diz Peeta. — Corra! Saia! Vá!Depois do meu próprio momento de confusão, concluo que não tenho que atirar nele. Relaxo a corda do arco. Pego as ansiosas faces em volta de mim.— O que quer que isso seja, está atrás de mim. Pode ser uma boa hora para nos separarmos.— Mas nós somos seus guardas — diz Jackson.— E sua equipe — adiciona Cressida.— Eu não estou deixando você — Gale responde.Eu olho para a equipe, armados com nada exceto câmeras e pranchetas. E há Finnick com duas armas e um tridente. Eu sugiro que ele dê uma de suas armas para Castor. Pego a arma vazia de Peeta, carregando com um real, e armo Pollux. Como Gale e eu temos nossos arcos, passamos nossas armas para Messalla e Cressida. Não há tempo para mostrar a eles qualquer coisa exceto com apontar e puxar o gatilho, mas em quartos fechados, deve ser o bastante. É melhor do que estar indefeso. Agora o único sem uma arma é Peeta, mas qualquer um que cochiche meu nome com um bando de mutações não precisa de uma de qualquer forma.Nós deixamos a sala livre de qualquer coisa, exceto nosso cheiro. Não há modo de apagar isso no momento. Estou pensando em como as coisas assobiantes estão nos rastreando, porque nós não deixamos muito de uma trilha física. Os narizes das mutações serão anormalmente afiados, mas provavelmente o tempo que nós gastamos caminhando através da água em canos de esgoto ajudará a nos distanciar deles.Fora do zumbido da sala, o assobio vem mais distinto. Mas também é possível ganhar um melhor senso da localização das mutações. Elas estão atrás de nós, ainda a uma distância considerável. Snow provavelmente os libertou no subsolo próximo do lugar onde ele achou o corpo de Boggs. Teoricamente, nós devemos estar uma boa distância deles, apesar de serem certamente muito mais rápidos do que nós somos.Minha mente vagueia para as criaturas parecidas com lobos na primeira arena, os macacos no Massacre Quaternário, as monstruosidades que nós temos assistido através dos anos, e quero saber que forma essas mutações terão. O que Snow pensa que me assustaria ao máximo.Pollux e eu temos trabalhado em um plano para o próximo trecho de nossa jornada, e como ele segue para longe do assobio, eu não vejo nenhuma razão para alterá-lo. Se nos movermos rapidamente, talvez possamos alcançar a mansão de Snow antes de as mutações nos alcançarem. Mas há um descuido que vem com a velocidade: as botas mal posicionadas que resultam num splash, o ressoar acidental de uma arma contra um cano, mesmo meus próprios comandos, emitidos altos demais para a discrição.Nós cobrimos quase três quadras por meio de um cano inundado e uma seção de trilhos de trem abandonados quando os gritos começam. Densos, guturais. Ecoando nas paredes do túnel.— Avoxes — Peeta reconhece imediatamente. — Foi assim que Darius soou quando eles o torturaram.— As mutações devem tê-los achado — diz Cressida.— Então eles não estão somente atrás de Katniss — Leeg 1 fala.— Eles provavelmente matarão qualquer um. Só que não vão parar até a pegarem — diz Gale.Depois de suas horas estudando com Beetee, ele está mais que provavelmente certo.E aqui estou eu novamente. Com pessoas morrendo por minha causa. Amigos, aliados, completos estranhos, perdendo suas vidas pela Mockingjay.— Deixe-me ir sozinha. Levá-los para longe. Eu transferirei o Holo para Jackson. O resto de vocês pode terminar a missão.— Ninguém vai concordar com isso! — Jackson responde com irritação.— Nós estamos perdendo tempo! — Finnick intervém.— Ouçam — Peeta murmura.Os gritos pararam, e a ausência do meu nome foi ressaltada, surpreendendo com sua proximidade. Está embaixo e também atrás de nós agora.Katniss.Eu cutuco Pollux no ombro e nós começamos a correr. A dificuldade é que nós tínhamos planejado descer para um nível abaixo, mas está fora de questão agora. Quando chegamos à escada que leva para baixo, Pollux e eu estamos explorando por uma possível alternativa no Holo quando eu começo respirar com dificuldade.— Coloquem as máscaras! — Jackson ordena.Não há necessidade de máscaras. Todos estão respirando o mesmo ar. Eu sou a única perdendo meu nervo porque sou a única reagindo ao odor. Flutuando acima do poço da escada. Cortando através da água de esgoto. Rosas. Eu começo a tremer.Desvio para longe do cheiro e tropeço direto para a Transferência. Ruas azulejadas lisas, com cores pastéis, justamente como aquelas no alto, mas margeadas com paredes de tijolos brancos em vez de casas. Uma estrada onde veículos de entrega podem dirigir com facilidade, sem o congestionamento da Capital. Vazia agora, de qualquer coisa, exceto nós.Levanto meu arco e explodo o primeiro pod com uma flecha explosiva, que mata o ninho de ratos carnívoros dentro. Então corro para o próximo cruzamento, onde sei que um passo em falso fará o chão abaixo de nossos pés se desintegrarem, nos alimentando a alguma coisa rotulada Moedor de Carne. Eu grito uma advertência para os outros se manterem comigo. Planejo que nós ladeemos o canto e então detonemos o Moedor de Carne, mas outro pod não marcado está nos aguardando.Acontece silenciosamente. Eu o teria perdido se Finnick não me puxasse.— Katniss!Eu me viro rapidamente, flecha posicionada para voar, mas o que poderia ter feito? Duas das flechas de Gale estão pousadas inutilmente junto ao largo feixe de luz dourada que irradia do teto ao chão. Dentro, Messalla está parado como uma estátua, posicionada em cima de um calcanhar, cabeça inclinada para trás, preso pelo raio de luz. Eu não posso dizer se ele está gritando, embora sua boca esteja esticada completamente. Nós assistimos, completamente impotentes, enquanto a carne derrete de seu corpo como cera de vela.— Não podemos ajudá-lo! — Peeta começa empurrando pessoas para frente. — Não podemos!Surpreendentemente, ele é o único funcional o bastante para conseguir nos fazer mover. Eu não sei por que ele está no controle, quando ele devia estar pirando e golpeando meu cérebro, mas isso poderia acontecer a qualquer segundo. No aperto de suas mãos contra meu ombro, eu viro para longe da horrível coisa que era Messalla; eu faço meu pé ir adiante, rápido, tão rápido que eu mal posso escorregar para parar antes do próximo cruzamento.Um jato de fogo de artilharia traz uma chuva de gesso. Eu empurro minha cabeça de lado a lado, procurando o pod, antes de virar e ver a esquadra de Pacificadores descendo a Transferência em direção a nós. Com o pod do Moedor de Carne bloqueando nosso caminho, não há nada para fazer exceto atirar de volta. Eles nos excedem em número em dois para um, mas ainda temos seis membros originais da Esquadra Estrela, que não estão tentando correr e atirar ao mesmo tempo.Peixes em um barril, eu penso, enquanto florescências vermelhas mancham seus uniformes brancos. Três quartos deles estão caídos e mortos quando mais começam a brotar da lateral do túnel, o mesmo pela qual eu me arremessei para ganhar distância do cheiro, dos...Aqueles não são Pacificadores.Eles são brancos, com quatro membros, quase do tamanho de um humano crescido, mas aí é onde as semelhanças param. Nus, com longas caudas de réptil, costas curvadas, e cabeças que se sobressaem para frente. Eles movem-se sobre os Pacificadores, vivos e mortos, apertando seus pescoços com suas bocas e arrancando as cabeças com capacetes.Aparentemente, ter uma linhagem da Capital é tão inútil aqui quanto era no Distrito 13. Parece levar apenas segundos antes dos Pacificadores serem decapitados. As mutações caem sobre suas barrigas e deslizam em nossa direção sobre todos os quatro membros.— Por aqui! — eu grito, agarrado a parede e fazendo uma rápida curva para a direita para evitar o pod.Quando todos se juntam a mim, eu explodo o cruzamento, e o Moedor de Carne se ativa. Imensos dentes mecânicos rompem através da rua e mastigam os azulejos até virarem pó. Aquilo deveria fazer impossível para as mutações nos seguirem, mas eu não sei. As mutações de lobo e de macaco que eu encontrei podiam saltar inacreditavelmente longe.O assobio queima minhas orelhas, e o cheiro de rosas faz a parede girar.Eu agarro o braço de Pollux.— Esqueça a missão. Qual o caminho rápido para o nível do chão?Não há tempo para checar o Holo. Nós seguimos Pollux por quase dez metros ao longo da Transferência e vamos através de uma entrada. Estou ciente dos azulejos mudando para concreto, nós rastejando através de um apertado, fedorento cano para uma borda sobre uma base extensa. Estamos no esgoto principal. Um metro abaixo, uma venenosa mistura de desperdício humano, lixo e substâncias químicas borbulha por nós. Partes da superfície estão em fogo, outras emitem nuvens de vapor de aparência má. Um olhar lhe fala que se você cair lá dentro, nunca irá voltar. Se movendo tão rapidamente quanto temos coragem sobre a borda escorregadia, fazemos nosso caminho para uma apertada ponte e a cruzamos. Em uma alcova na lateral distante, Pollux puxa uma escada com suas mãos e aponta para cima do poço. É isto. Nosso caminho para fora.Um rápido olhar para nosso grupo me fala que alguma coisa está faltando.— Espere! Onde estão Jackson e Leeg 1?— Elas permaneceram no Moedor para manter as mutações longe — Homes esclarece.— O quê?Eu estou dando voltando para a ponte, disposta a não deixar ninguém com esses monstros, quando ele me puxa de volta.— Não desperdice as vidas delas, Katniss. É muito tarde para elas. Veja!Homes acena para o cano, onde as mutações estão escorregando para a borda.— Permaneçam atrás! — Gale grita.Com sua flecha explosiva, ele rompe a longa lateral desse alicerce. O apoio afunda dentro das bolhas, justamente quando as mutações alcançam a ponte.Por uma primeira vez, eu dou uma boa olhada nelas. Uma mistura de humano e réptil e quem sabe o que mais. Couro reptiliano branco esticado, sujo com sangue coagulado, mãos e pés com garras, suas faces uma desordem de traços conflitantes. Assobiando, gritando meu nome agora, enquanto seus corpos se contorcem com raiva. Chicoteando para fora com rabos e unhas, pegando imensos pedaços de algum outro de seus próprios corpos com extensas bocas espumantes, se impelindo loucamente por sua necessidade de me destruir. Meu cheiro deve ser tão evocativo para eles quanto o seu para mim. Mas então, mesmo apesar de sua toxidade, as mutações começam a se lançar dentro do impuro cano de esgoto.Ao longo da nossa margem, todos abrem fogo. Eu escolho minhas setas sem discrição, enviando pontas de flecha, de fogo, explosivas dentro do corpo das mutações. Elas são mortais, mas somente por pouco. Nenhuma coisa natural poderia se manter com duas dúzias de balas nela. Sim, nós podemos eventualmente matá-las, mas há tantas, um infinito suprimento brotando do tubo, nem mesmo hesitando em pegar a água de esgoto.Mas não são seus números que fazem minhas mãos tremerem assim.Nenhuma mutação é boa. Todas são destinadas a te destruir. Algumas pegam suas vidas, como os macacos. Outras sua razão, como as teleguiadas. De qualquer modo, as verdadeiras atrocidades, as mais amedrontadoras, incorporam um impróprio entrelaçamento psicológico designado para apavorar a víitima. A visão das mutações de lobo com os olhos dos tributos. O som dos jabberjays repetindo os gritos de tortura de Prim. O cheiro das rosas de Snow misturado com o sangue das vítimas. Carregado através do cano de esgoto. Cortando mesmo através de sua sujeira. Fazendo meu coração correr selvagem, minha pele se tornar gelo, meu pulmão incapaz de sugar ar. É como se Snow estivesse respirando diretamente no meu rosto, me falando que é hora de morrer.Os outros estão gritando para mim, mas eu pareço não ser capaz de responder. Braços fortes me levantam enquanto eu detono para fora a cabeça de uma mutação cujas garras estão justamente roçando meu tornozelo. Eu sou presa na escada. Mãos empurram contra os degraus. Comandando para subir. Meus estúpidos membros obedecem como marionetes.O movimento lentamente me conduz de volta para meus sentidos. Eu detecto uma pessoa acima de mim. Pollux. Peeta e Cressida estão abaixo. Nós alcançamos a plataforma. Balançando por um segundo a escada. Degraus escorregadios com suor e mofo. Na próxima plataforma, minha cabeça está limpa e a realidade do que aconteceu me atinge. Eu começo freneticamente a puxar pessoas para fora da escada. Peeta. Cressida. É isso.O que eu fiz? Ao que eu abandonei os outros? Eu estou apressadamente descendo de volta a escada quando uma de minhas botas chuta alguém.— Suba! — Gale vocifera para mim.Eu estou de volta em cima, puxando-o para fora, observando dentro da escuridão por mais.— Não.Gale vira meu rosto para ele e sacode sua cabeça. Uniforme rasgado. Ferimento aberto do lado de seu pescoço.Há um grito humano abaixo.— Alguém ainda está vivo — eu apelo.— Não, Katniss. Eles não estão vindo — diz Gale. — Somente as mutações.Incapaz de aceitar isso, eu emito a luz da arma de Cressida para baixo do poço. Muito abaixo, eu posso somente distinguir Finnick, lutando para se segurar enquanto três mutações o atacam. Enquanto uma afasta sua cabeça para dar a mordida fatal, uma coisa estranha acontece. É como se eu fosse Finnick, assistindo imagens de minha vida lampejarem. O mastro de um bote, um paraquedas prateado, Maggs rindo, um céu rosa, o tridente de Beetee, Annie em seu vestido de casamento, ondas quebrando sobre as rochas. Então acaba.Eu deslizo o Holo do meu cinto e sussurro:— Amora negra, amora negra, amora negra.Liberte isso. Agacho contra a parede com os outros enquanto a explosão balança a plataforma e pedaços de mutação e carne humana se atiram para fora do cano e chovem em nós.Há um estrépito enquanto Pollux bate uma tampa sobre o tubo e o fecha. Pollux, Gale, Cressida, Peeta e eu. Apenas nós sobramos. Depois os sentimentos humanos virão. Agora eu estou consciente somente como um animal precisaria para manter o restante de nosso bando vivo.— Nós não podemos parar aqui.Alguém vem com uma bandagem. Nós amarramos em volta do pescoço de Gale. Colocando-o de pé. Somente uma figura permanece amontoada contra a parede.— Peeta — eu chamo.Não há resposta. Ele perdeu a consciência? Eu me agacho na frente dele, puxando suas mãos algemadas de seu rosto.— Peeta?Seus olhos estão como piscinas negras, as pupilas tão dilatadas que toda a íris azul desapareceu. Os músculos em seus pulsos estão duros como metal.— Deixe-me — ele murmura. — Eu não posso persistir.— Sim. Você pode!Peeta sacode sua cabeça.— Eu estou perdendo. Eu vou enlouquecer. Como eles.Como as mutações. Como uma fanática besta inclinada a rasgar meu pescoço. E aqui, finalmente aqui nesse lugar, nestas circunstâncias, eu realmente terei que mata-lo. E Snow vencerá. Ódio quente e amargo corre através de mim. Snow já venceu muito hoje.É um tiro tardio, suicídio, talvez, mas eu faço a única coisa que posso fazer. Eu me inclino e beijo Peeta em cheio na boca. Todo seu corpo começa a tremer, mas eu mantenho meus lábios pressionados contra os seus até eu soltar por ar. Minhas mãos deslizam para cima de seus pulsos para agarrar o seu.— Não permita que ele tome você de mim.Peeta está severamente ofegante enquanto ele luta contra os pesadelos atormentando em sua cabeça.— Não. Eu não quero...Eu aperto suas mãos até o ponto da dor.— Fique comigo.Suas pupilas se contraem até ficarem minúsculas, dilatam mais uma vez rapidamente, e então retornam para alguma coisa semelhante à normalidade.— Sempre — ele murmura.Eu ajudo Peeta a levantar e me dirijo a Pollux.— Quão longe da rua?Ele indica que está justamente acima de nós. Eu subo a última escada e empurro a tampa para a sala de utilidade de alguém. Estou me levantando para meus pés quando uma mulher abre a porta com força. Ela veste um roupão de seda turquesa radiante bordado com pássaros exóticos. Seu cabelo magenta está afofado para cima como uma nuvem e decorado com borboletas douradas. O óleo de metade de uma linguiça que ela está segurando suja seu batom. A expressão em seu rosto diz que ela me reconhece. Ela abre a boca para chamar por ajuda.Sem hesitação, eu atiro em seu coração.

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