terça-feira, 24 de setembro de 2013

Em chamas - capitulo 8




— Não! — eu grito, e corro adiante.
É tarde demais para impedir o braço de descer, e eu instintivamente sei que não terei o poder de bloqueá-lo. Em vez disso eu me arremesso diretamente entre o chicote e Gale. Eu jogo meu braço para proteger o máximo possível de seu corpo quebrado, para que não haja nada que desviasse o chicote. Eu levo toda a força do impacto no lado direito do meu rosto.A dor é instantânea. Flashes de luz cruzam minha visão e eu caio de joelhos. Uma mão cobre meu rosto, enquanto a outra me impede de tombar. Eu já posso sentir a corda subindo, e o inchamento fechando meu olho. As rochas abaixo de mim estão molhadas com o sangue de Gale, o ar pesado com seu odor.— Pare! Vai matá-lo! — eu grito.
Eu olho de relance o rosto do meu agressor. Rígido, com marcas profundas, uma boca cruel. Cabelo grisalho aparado até a quase inexistência, olhos tão escuros que parecem ser apenas a pupila, um longo, reto nariz avermelhado pelo ar frio. O braço poderoso levanta novamente, ele me encara. Minha mão voa para meu ombro, procurando uma flecha, mas, obviamente, minhas armas estão escondidas na mata. Eu cerro os dentes em antecipação à próxima chicoteada.— Espere! — uma voz grunhe.
Haymitch aparece e tropeça num Pacificador deitado no chão. É Darius. Um enorme caroço roxo força a passagem entre o cabelo ruivo em sua testa. Ele está inconsciente, mas ainda respirando. O que aconteceu? Ele havia tentado ajudar Gale antes de mim?Haymitch o ignora e me puxa pelo pé violentamente.— Oh, excelente — sua mão se prende embaixo do meu queixo, levantando-o. — Ela tem uma sessão de fotos semana que vem posando com vestidos de casamento. O que eu irei dizer a sua estilista?
Eu vejo um pouco de reconhecimento nos olhos do homem com o chicote. Empacotada contra o frio, meu rosto sem maquiagem, minha trança desleixadamente enfiada por baixo do meu casaco, não seria fácil me identificar como a vencedora dos últimos Jogos Vorazes. Especialmente com a metade do meu rosto inchada. Mas Haymitch esteve se exibindo na televisão por anos, e seria difícil de esquecer.O homem deixa o chicote em seu quadril.— Ela interrompeu a punição de um criminoso confessado.
Tudo naquele homem, sua voz imperativa, seu sotaque incomum, alertas para uma ameaça desconhecida e perigosa. De onde ele veio? Distrito 11? 3? Da própria Capital?— Eu não me importaria se ela tivesse explodido o Edifício da Justiça! Veja sua bochecha! Acha que estará preparada para ser fotografada semana que vem? —Haymitch murmura.
A voz do homem continua fria, mas eu posso perceber um pouco de dúvida.— Isso é problema seu.
— Só meu? Bem, está prestes a ser seu também, amigo. A primeira ligação que eu farei quando chegar em casa será para a Capital — diz Haymitch. — Descobrir quem o autorizou a destruir a linda face de minha vitoriosa!
— Ele estava caçando. O que ela tem com isso, afinal? — diz o homem.
— Ele é primo dela — Peeta pega meu outro braço agora, mas gentilmente. — E ela é minha esposa. Então, se você quer chegar até ele, terá de passar por nós dois.
Talvez estejamos acabados. As únicas três pessoas no distrito que poderiam se impor assim. Apesar de que com certeza seria temporário. Haverá repercussão. Mas, no momento, tudo com o que eu me importo é manter Gale vivo.O novo Pacificador Chefe olha sobre seu esquadrão de reforço. Com alívio, vi que eram rostos familiares, velhos amigos do Prego. Pode-se deduzir por suas expressões faciais que não estão gostando do que veem.Um deles, uma mulher chamada Purnia que come regularmente na Greasy Sae, dá um passo a frente.— Creio que, para um réu primário, o número de chicotadas é dispensado, senhor. A não ser que a sentença seja morte, o que seria feito pela artilharia.
— Este é o protocolo padrão daqui? — pergunta o Pacificador Chefe.
— Sim, senhor — diz Purnia, e mais alguns sinalizam positivamente.
Sei que nenhum deles de fato sabia porque, no Prego, o protocolo padrão para alguém aparecendo com um peru selvagem é licitar as baquetas.— Muito bem. Então tire seu primo daqui, garota. E lembre-o de que na próxima vez que ele caçar nas terras da Capital, eu pessoalmente trarei a artilharia.
O Pacificador Chefe limpa a mão ao longo do chicote, nos cobrindo de sangue. Então ele o enrola rapidamente e se vai.A maioria dos Pacificadores o segue em uma formação estranha. Um pequeno grupo fica atrás e pega o corpo de Darius por seus braços e pernas. Eu olho diretamente nos olhos de Purnia e sussurro a palavra “Obrigada” antes de ela ir embora. Ela não responde, mas tenho certeza de que ela entendeu.— Gale.
Eu me viro, minhas mãos apalpam os nós de ligação dos seus pulsos. Alguém passa uma faca e Peeta corta as cordas. Gale cai no chão.— É melhor levá-lo até sua mãe — diz Haymitch.
Não há nenhuma maca, mas a senhora da loja de roupas nos vende a prancha que servia como apoio para ela.— Só não conte para ninguém onde você a comprou — diz ela, encaixotando o resto de sua mercadoria rapidamente.
A maior parte da praça está vazia, medo supera a compaixão. Mas depois do que acabou de acontecer, eu não posso julgar.Quando nós deitamos Gale de barriga para baixo na prancha, há apenas algumas pessoas para carregá-lo. Haymitch, Peeta e dois mineiros que trabalham na mesma equipe de Gale o levantam.Leevy, uma garota que vive a algumas casas para baixo da mina na Costura, pega meu braço. Minha mãe manteve seu irmãozinho vivo ano passado quando ele adoeceu.— Precisa de ajuda para voltar?
Seus olhos cinzentos estão assustados, mas determinados.— Não, mas você pode pegar Hazelle? Trazê-la até aqui? — pergunto.
— Sim — Leevy responde, se virando.
— Leevy! — chamo. — Não a deixe trazer as crianças.
— Sim. Eu ficarei com eles eu mesma.
— Obrigada.
Eu agarro a jaqueta de Gale e corro atrás dos outros.— Ponha um pouco de neve aí — Haymitch ordena por cima de seu ombro.
Eu encho minha mão de neve e pressiono contra minha bochecha, provocando um pouco de dor. Meu olho esquerdo está lacrimejando bastante agora, e eu só posso seguir a luz para me direcionar.Enquanto ando, escuto Bristel e Thorn, colegas de equipe de Gale, montarem juntos a história do que aconteceu. Gale deve ter ido à casa de Cray, como fez centenas de vezes, sabendo que Cray sempre paga bem por um peru selvagem. Em vez disso, ele encontrou o novo Pacificador Chefe. Ninguém sabe o que aconteceu com Cray. Ele estava comprando licor branco no Prego ainda nesta manhã, aparentemente ainda no comando do Distrito, mas agora não se sabe onde ele está.Thread pôs Gale em prisão imediata e, é claro, já que ele estava lá segurando um peru morto, havia pouco o que Gale podia dizer em sua defesa. A notícia de sua situação de espalhou rapidamente. Ele foi levado à praça, forçado a assumir a culpa por seu crime, e sentenciado a surra de chicote para ser realizada imediatamente. Quando eu cheguei, ele havia sido chicoteado pelo menos quarenta vezes. Ele desmaiou por volta da trigésima.— Sorte que ele só estava com o peru — disse Bristel. — Se ele estivesse com a mercadoria de sempre, teria sido muito pior.
— Ele contou a Thread que o encontrou por volta da Costura. Disse que passou por cima da cerca e ele o esfaqueou com um graveto. Continua sendo um crime. Mas se eles soubessem que ele esteve na mata com armas, eles o teriam matado com certeza— diz Thorn.
— E quanto a Darius? — Peeta pergunta.
— Após umas vinte chicotadas, ele se impôs, dizendo que bastava. Mas ele não o fez oficialmente e com inteligência, como fez Purnia. Ele agarrou o braço de Thread e Thread o bateu na cabeça com a coronha do chicote. Nada bom o aguarda — Bristel responde.
— Não parece muito bom para nenhum de nós — diz Haymitch.
Começa a nevar, a neve é grossa e úmida, tornando a visibilidade ainda pior. Eu tropeço na caminhada até minha casa atrás dos outros, usando minhas orelhas mais do que meus olhos para me guiar. Uma luz dourada dá cor à neve conforme a porta se abre. Minha mãe, que sem dúvida estava me esperando após um longo dia de ausência inexplicada, aparece na cena.— Novo Pacificador Chefe — Haymitch fala, e lhe faz um sinal como se nenhuma outra explicação fosse necessária.
Estou cheia de temor, como sempre estou, enquanto a vejo se transformar de uma mulher que me chama para matar uma aranha para uma mulher imune ao medo. Quando uma pessoa doente ou moribunda é trazida até ela... é o único momento em que eu penso que minha mãe sabe quem é.Em momentos, a longa mesa da cozinha foi esvaziada, um velho pano branco foi posto em cima dela, e Gale é deitado sobre ela.Minha mãe despeja água de uma chaleira em uma bacia enquanto ordena Prim a pegar uma série de seus remédios do armário de remédios. Ervas secas, líquidos e garrafas compradas em lojas. Mergulhando um pano no líquido quente enquanto ela dá instruções a Prim para preparar uma segunda poção.Minha mãe olha em minha direção.— Você cortou seu olho?
— Não, só está fechado pelo inchaço — respondo.
— Ponha mais neve nele — ela instrui.
Mas eu claramente não sou a prioridade.— Você pode salvá-lo? — pergunto a minha mãe.
Ela não diz nada enquanto torce o pano e mantém no ar para arrefecer um pouco.— Não se preocupe — diz Haymitch. — Costumava acontecer muito açoitamento antes de Cray. Nós levávamos todas as vítimas a ela.
Eu não me lembro de um tempo antes de Cray, um tempo onde havia um Pacificador Chefe que costumava chicotear gratuitamente. Mas minha mãe deveria ter minha idade e ainda trabalhando no boticário com seus pais. Até mesmo naquela época ela devia ter mãos curadoras.Sempre tão gentilmente, ela começa a limpar a carne mutilada nas costas de Gale. Eu me sinto enjoada, inútil, a neve ainda escorre da minha luva até uma poça no chão. Peeta me põe numa cadeira e pressiona um pano cheio de neve fresca contra meu rosto.Haymitch diz a Bristel e Thorn para ir pra casa, e eu o vejo pressionar moedas em suas mãos antes de irem.— Não sei o que vai acontecer com sua equipe — diz ele.
Eles sinalizam e aceitam o dinheiro.Hazelle chega, ofegante e corada, neve fresca em seu cabelo. Sem dizer uma palavra, ela se senta em um banquinho ao lado da mesa, pega a mão de Gale, e prende-a contra os lábios.Minha mãe nem mesmo tomou conhecimento de sua presença. Ela foi numa zona especial que inclui apenas ela mesma e seu paciente, às vezes Prim. O resto de nós só pode esperar.Mesmo em suas mãos peritas, é necessário muito tempo para limpar as feridas, juntar o que pode ser salvo da pele devastada, aplicar pomada e a atadura leve. Quando há menos sangue, eu posso ver onde cada chicoteada atingiu e sinto ressonar meu único corte na bochecha. Eu multiplico minha dor por um, dois, três, quatro vezes e só posso desejar que Gale continue inconsciente.É claro, isso é pedir muito. Quando os curativos finais foram colocados, um gemido lhe escapa pelos lábios. Hazelle passa a mão no seu cabelo e sussurra algo enquanto minha mãe e Prim revisam sua escassa loja de analgésicos, o tipo que é geralmente apenas acessado por médicos. Eles eram difíceis de chegar, caros e sempre em procura. Minha mãe teve que guardar os mais fortes para as piores dores, mas qual é a pior dor? Para mim, é sempre a dor que está presente. Se estivéssemos no comando, esses analgésicos sumiriam em um dia porque eu tenho muita pouca habilidade em assistir sofrimento. Minha mãe tenta guardá-los para as pessoas que estão realmente no processo de morrer, para que eles saiam do mundo tranquilamente.Desde que Gale está reganhando sua consciência, elas decidiram usar uma mistura de ervas que ele pode tomar oralmente.— Isso não será o suficiente — eu digo. Eles me encaram. — Isso não será o suficiente, eu conheço a sensação. Isso nem mesmo curará a dor de cabeça.
— Iremos combinar com pílulas para dormir, Katniss, e ele aguentará. As ervas são mais para a inflamação... — minha mãe começa calmamente.
— Só lhe dê o remédio! — grito para ela. — Lhe dê! Quem é você para decidir o quanto de dor ele pode aguentar?
Gale começa a ficar agitado com minha voz, tentando me alcançar. O movimento faz com que sangue fresco manche suas ataduras e que o som agonizante saia de sua boca.— Tirem ela daqui — minha mãe ordena.
Haymitch e Peeta literalmente me carregam para fora da sala enquanto eu grito obscenidades para ela. Eles me colocam numa cama em um dos quartos extras até que eu pare de lutar.Enquanto eu deito lá, soluçando, com lágrimas tentando se espremer para fora da fenda do meu olho, ouço Peeta sussurrar para Haymitch sobre o Presidente Snow, sobre a revolta no Distrito 8.— Ela quer que todos nós fujamos — diz ele, mas se Haymitch tem uma opinião sobre isso, ele não a revela.
Após um tempo, minha mãe vem e trata do meu rosto. Então ela segura minhas mãos, passando a mão no meu braço, enquanto Haymitch conta a ela o que aconteceu com Gale.— Então está começando novamente? — diz ela. — Como antes?
— É o que parece — ele responde. — Quem imaginaria que um dia lamentaríamos a ida do velho Cray?
Cray seria um sinal de antipatia, de qualquer forma, por causa do uniforme que ele vestia, mas era o seu hábito de atrair mulheres famintas até sua cama em troca de dinheiro que o fez um objeto de repugnância no distrito. Em tempos realmente ruins, as mais famintas se reuniam em sua porta a noite, visando a chance de ganhar algumas moedas para alimentar suas famílias vendendo seus corpos. Se eu fosse mais velha quando meu pai morreu, eu talvez estivesse entre elas. Em vez disso eu aprendi a caçar.Eu não sei exatamente o que minha mãe quer dizer com coisas começando novamente, mas estou muito nervosa e magoada para perguntar. Mas está registrada a ideia de tempos piores retornando, porque quando a campainha toca, eu me jogo da cama imediatamente. Quem poderia ser a essa hora da noite? Só há uma resposta. Pacificadores.— Eles não podem pega-lo — eu digo.
— Eles podem estar atrás de você — Haymitch me lembra.
— Ou de você — rebato.
— Não é minha casa — Haymitch aponta para fora. — Mas eu atenderei a porta.
— Não, eu atendo — minha mãe fala quietamente.
Mas todos nós vamos, seguindo-a pelo corredor até o toque insistente da campainha. Quando ela abre a porta, não há um esquadrão de Pacificadores, mas apenas uma figura cheia de neve. Madge. Ela segura uma caixa úmida de papelão para mim.— Use isso no seu amigo — ela fala.
Eu tiro a tampa da caixa, revelando meia dúzia de frascos cheios de um líquido claro.— Eles são da minha mãe. Ela disse que eu podia pegá-los. Use-os, por favor.
Ela corre de volta para tempestade antes que possamos impedi-la.— Garota louca — Haymitch murmura enquanto seguimos minha mãe até a cozinha.
Seja lá o que minha mãe deu a Gale, eu estava certa, não é o suficiente. Seus dentes estão cerrados e sua carne brilhando de suor. Minha mãe enche uma seringa com o líquido claro de um dos frascos e injeta no braço de Gale. Quase imediatamente, sua face começa a relaxar.— O que é isso? — Peeta pergunta.
— É da Capital. Chama-se morfina — minha mãe responde.
— Eu nem sabia que Madge conhecia Gale — diz Peeta.
— Nós costumávamos vender morangos a ela — respondo quase furiosamente. Mas estou furiosa por quê? Não porque ela nos trouxe o remédio, com certeza.
— Ela deve gostar muito dele — diz Haymitch.
É isso que me incomoda. É a implicação de que há algo entre Gale e Madge. E eu não gosto disso.— Ela é minha amiga — é tudo o que digo.
Agora que Gale está relaxado com os analgésicos, todos parecem estar sumindo. Prim nos faz comer um ensopado e pão. Um quarto é oferecido a Hazelle, mas ela tem que ir para casa para as outras crianças. Haymitch e Peeta estão dispostos a ficar, mas minha mãe os manda para casa também. Ela sabe que é inútil tentar fazer o mesmo comigo e me deixa aqui para cuidar de Gale enquanto ela e Prim descansam.Sozinha na cozinha com Gale, eu sento no banco de Hazelle, segurando sua mão. Após um tempo, meus dedos encontraram seu rosto. Toquei partes do corpo dele que nunca precisei tocar antes. Suas sobrancelhas espessas e escuras, a curvatura de sua bochecha, a forma de seu nariz, o vazio na base de seu pescoço. Eu traço o contorno de sua barba e, finalmente, chego a seus lábios. Macio e cheio, ligeiramente rachado. Sua respiração aquece minha pele resfriada.Todos parecem mais jovens enquanto dormem? Porque agora ele poderia ser o menino que eu encontrei na mata anos atrás, aquele que me acusou de roubar suas armadilhas. Que belo par nós formávamos – sem pai, assustados, mas ferozmente comprometidos, determinados também a manter nossas famílias vivas. Desesperados, porém não mais após aquele dia, porque havíamos nos encontrado. Eu penso em centenas de momentos na mata, preguiçosas tardes pescando, o dia em que eu o ensinei a nadar, aquela vez em que torci meu tornozelo e ele me carregou até em casa. Tínhamos uma confiança mútua, cuidávamos um do outro, forçando cada um a ser corajoso.Pela primeira vez, eu inverti nossas posições em minha mente. Eu imaginei Gale se voluntariando a salvar Rory na colheita, ter ele rasgado da minha vida, se tornando amante de uma garota estranha para permanecer vivo, e então voltar para casa com ela. Viver do lado dela. Prometendo se casar com ela.O ódio que eu sinto por ele, pela garota fantasma, por tudo, é tão real e imediato que me sufoca. Gale é meu. Eu sou dele. Qualquer outra situação é impensável. Por que foi necessário que ele fosse chicoteado para que eu percebesse isso?Porque eu sou egoísta, covarde. Sou o tipo de garota que, quando poderia ser útil, corre para sobreviver e deixa aqueles que não podiam segui-la para sofrer e morrer. Essa é a garota que Gale conheceu na mata hoje.É por isso que eu venci os jogos. Nenhuma pessoa decente os vence.Você salvou Peeta, penso fracamente.
Mas agora eu questiono até isso. Eu sabia muito bem que minha vida no Distrito 12 seria impossível se eu deixasse o garoto morrer. Eu descanso minha cabeça na mesa, cheia de repudia de mim mesma. Desejando que eu tivesse morrido na arena. Desejando que Seneca Crane tivesse me explodido aos pedaços de forma que o presidente Snow dissesse que ele deveria ter feito isso quando eu tinha os frutos.Os frutos. Eu percebo que a resposta para quem eu sou está naquele punhado de frutos envenenados. Se eu os segurei porque sabia que seria arriscado voltar sem ele, eu sou desprezível. Se eu os segurei porque eu o amo, eu ainda sou egoísta, apesar de que seria perdoável. Mas se eu os segurei para desafiar a Capital, então eu sou alguém de valor. O problema é que eu não sei exatamente o que eu estava pensando naquele momento.Será que as pessoas do Distrito estão certas? Será que foi um ato de rebeldia, mesmo que inconsciente? Porque, lá no fundo, eu sei que não é o suficiente manter eu mesma e minha família viva fugindo. Mesmo se eu pudesse, eu não consertaria nada. Não impediria que pessoas fossem caçadas como Gale foi hoje.A vida no Distrito 12 não é tão diferente da vida na arena. Em algum momento, você deve se virar e encarar quem quer você morto. O difícil é encontrar coragem para fazê-lo. Bem, não é difícil para Gale. Ele nasceu como um rebelde. Sou eu que estou fugindo.— Eu sinto muito — sussurro.
Eu me inclino e o beijo.Seus cílios se levantam e ele me encara através de uma névoa de drogas.— Hey, Catnip.
— Hey, Gale.
— Pensei que você já teria ido embora a esta hora — diz ele.
Minhas opções são simples. Eu posso morrer como uma fracote na mata ou posso morrer aqui ao lado de Gale.— Eu não vou a lugar algum. Vou ficar bem aqui e causar todo tipo de confusão.
— Eu também — diz Gale.
Ele sorri antes de dormir novamente por causa dos remédios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário