sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jogos vorazes - capitulo 21




Nas horas restantes antes do anoitecer, reúno pedras e faço o meu melhor para camuflar a abertura da caverna. É um processo demorado e árduo, mas após suar muito e deslocar as coisas do lugar, estou bastante satisfeita com o meu trabalho. A caverna parece ser agora parte de uma pilha maior de pedras, como muitas na vizinhança. Ainda posso rastejar até Peeta por uma pequena abertura, mas é indetectável do lado de fora. Isso é bom, porque precisarei dividir aquele saco de dormir novamente hoje à noite. E, também, se eu não voltar do banquete, Peeta ficará escondido, mas não inteiramente aprisionado. Apesar de eu duvidar que ele possa aguentar muito mais sem remédio. Se eu morrer no banquete, o Distrito 12 provavelmente não terá um vencedor.Faço uma refeição com o peixe menor e mais espinhento que habita o riacho aqui abaixo, encho cada recipiente com água e a purifico, e limpo minhas armas. Eu tenho nove flechas restantes. Debato se devo deixar a faca com Peeta para que ele tenha alguma proteção enquanto eu estiver longe, mas realmente não há razão. Ele estava certo sobre camuflagem ser sua última defesa final. Mas eu talvez ainda tenha uso para a faca. Quem sabe o que poderei encontrar?Essas são algumas das coisas de que estou bastante certa. Que pelo menos Cato, Clove e Thresh estarão por perto quando o banquete começar. Não tenho muita certeza sobre Foxface, já que confrontação direta não é seu estilo ou ponto forte. Ela é ainda menor do que eu e está desarmada, a não ser que tenha pego algumas armas recentemente.Ela provavelmente ficará em algum lugar por perto, vendo o que pode catar. Mas os outros três... ficarei ocupada. Minha habilidade de matar a distância é minha melhor vantagem, mas sei que terei que ir até o fim para conseguir aquela mochila, a com o número 12 que Claudius Templesmith mencionou.Eu observo o céu, esperando por um oponente a menos ao amanhecer, mas ninguém aparece hoje à noite. Amanhã haverá rostos lá no alto. Banquetes sempre resultam em fatalidades.Eu engatinho até a caverna, guardo meus óculos e me aconchego próxima a Peeta. Felizmente, eu tive aquele bom e longo sono hoje. Tenho que permanecer acordada. Eu não acho realmente que alguém atacará nossa caverna hoje à noite, mas não posso arriscar perder o amanhecer.Tão fria, hoje a noite está tão amargamente fria. Como se os Gamemakers tivessem mandado uma infusão de ar congelado na arena, o que pode ser exatamente o que tenham feito.Me deito próxima a Peeta no saco, tentando absorver cada pedacinho do calor da febre dele. É estranho estar tão fisicamente próxima a alguém que está tão distante. Peeta podia muito bem estar de volta À Capital, ou no Distrito 12, ou na lua agora, e ele não estaria mais difícil de se alcançar. Eu nunca me senti mais sozinha desde que os Jogos começaram.Simplesmente aceite que será uma noite ruim, eu digo a mim mesma.Tento não fazê-lo, mas não consigo evitar pensar na minha mãe e em Prim, me perguntando se elas pregarão o olho esta noite. Nesse estágio tão avançados dos Jogos, com um evento importante como o banquete, as aulas provavelmente serão canceladas. Minha família pode assistir naquela televisão de ferro-velho cheia de estática em casa ou se juntar à multidão na praça e assistir nas telas grandes e claras. Elas terão privacidade em casa, mas apoio na praça. As pessoas lhes falarão coisas bondosas, lhes darão um pouco de comida se puderem se dar ao luxo. Me pergunto se o padeiro já as procurou, especialmente agora que Peeta e eu somos um time, e cumpriu sua promessa de manter a barriga da minha irmã cheia.Os ânimos devem estar altos no Distrito 12. Raramente temos alguém por quem torcer nesse estágio dos Jogos. Claro, as pessoas estão animadas por Peeta e por mim, especialmente agora que estamos juntos. Se eu fechar meus olhos, posso imaginar seus gritos para as telas, nos encorajando. Eu vejo seus rostos – Greasy, Sae e Madge e até mesmo os Pacificadores que compram as minhas carnes – torcendo por nós.E Gale. Eu o conheço. Ele não estará gritando e torcendo. Mas estará assistindo, cada momento, cada reviravolta, e desejando que eu volte para casa. Me pergunto se ele está torcendo para que Peeta volte também.Gale não é meu namorado, mas seria, se eu abrisse essa porta? Ele falou sobre nós fugirmos juntos. Isso era apenas um cálculo prático das nossas chances de sobrevivência longe do distrito? Ou algo mais?Me pergunto o que ele acha de todos esses beijos.Através de uma rachadura nas pedras, observo a lua cruzar o céu. Ao que eu julgo serem três horas antes do amanhecer, começo os preparos finais. Tenho cuidado em deixar Peeta com água e o kit médico bem ao seu lado. Nada mais será de muito uso se eu não retornar, e até mesmo isso iria apenas prolongar sua vida por um curto período.Após algum debate, eu tiro sua jaqueta e a fecho sobre a minha própria. Ele não precisa dela. Não agora no saco de dormir com sua febre, e durante o dia, se eu não estiver ali para removê-la, ele assará nela.Minhas mãos já estão duras de frio, então eu pego o par de meias extras de Rue, corto buracos para os meus dedos e coloco-as. De qualquer jeito, ajuda. Encho sua pequena sacola com um pouco de comida, uma garrafa d’água e bandagens, enfio a faca no meu cinto, pego meu arco e flechas.Estou prestes a partir quando me lembro da importância de sustentar a rotina dos amantes desafortunados e me inclino e dou um beijo longo e demorado em Peeta. Imagino os suspiros lacrimejantes emanando de Capital e finjo afastar uma lágrima própria. Então passo espremida pela abertura nas pedras para a noite.Minha respiração forma nuvenzinhas brancas quando atinge o ar. Está tão frio quanto uma noite de novembro lá em casa. Uma quando deslizei para a floresta, lanterna na mão, para me juntar a Gale num local pré-arranjado onde nos sentaríamos agasalhados juntos, tomando chá de ervas de frascos de metal, enrolados em colchas, esperando que alguma caça passasse pelo nosso caminho enquanto a manhã chegava. Ah, Gale, eu penso. Se ao menos você me protegesse agora...Me movo o mais rápido que ouso. Os óculos são ótimos, mas ainda sinto falta solenemente do uso do meu ouvido esquerdo. Eu não sei o que a explosão fez, mas danificou algo profundo e irreparável. Não importa. Se eu chegar em casa, serei tão rica que serei capaz de pagar alguém para ouvir para mim.A floresta sempre parece diferente de noite. Mesmo com os óculos, tudo tem um ângulo estranho. Como se as árvores, flores e pedras diurnas tivessem ido para cama e tivessem mandado versões ligeiramente agourentas de si mesmas para tomarem seu lugar.Não tento nada arriscado, como tomar uma nova rota. Eu caminho pelo riacho e sigo o mesmo trajeto de volta ao esconderijo da Rue perto do lado.Ao longo do caminho, não vejo sinal de outro tributo, nem uma baforada de ar, nem um tremor de galho. Ou sou a primeira a chegar ou os outros se posicionaram na noite passada. Ainda falta mais de uma hora, talvez duas, quando eu me retorço para um arbusto e espero o sangue começar a fluir.Mastigo algumas folhas de menta, meu estômago não aceita muito mais. Graças a Deus, tenho a jaqueta de Peeta, assim como a minha própria. Se não, eu seria forçada a me mover para permanecer aquecida.O céu vira um cinza nebuloso de manhã e ainda não há sinal dos outros tributos. Não é muito surpreendente, na verdade. Todos se distinguiram pela força, letalidade ou perspicácia.Eles supõem, eu me pergunto, que tenho Peeta comigo? Duvido que Foxface e Thresh saibam que ele foi ferido. Melhor ainda se acharem que ele está cobrindo por mim quando eu for pegar a mochila.Mas onde está? A arena se iluminou o bastante para eu remover meus óculos. Consigo ouvir os pássaros matinais cantando. Não está na hora? Por um segundo, entro em pânico achando que estou no local errado. Mas não, estou certa de que me lembro de Claudius Templesmith especificando a Cornucópia. E ali está. E aqui estou eu. Então cadê o meu banquete?Bem quando o primeiro raio de sol brilha na dourada Cornucópia, há um distúrbio na campina. O chão perante a boca da tromba se divide em dois e uma mesa redonda com uma toalha branca-de-neve sobe na arena.Na mesa estão quatro mochilas, duas pretas grandes com os números 2 e 11, uma verde de tamanho médio com o número 5, e uma laranja minúscula – sério, eu podia carregá-la ao redor do meu punho – que deve estar marcada com um 12.A mesa acabou de aparecer no lugar quando uma figura lança-se para fora da Cornucópia, pega a mochila verde, e sai a toda velocidade.Foxface! É bem coisa dela inventar uma ideia tão esperta e arriscada! O resto de nós está ainda se aprumado em torno da campina, avaliando a situação e ela pegou a dela. Ela nos prendeu, também, porque ninguém quer persegui-la, não enquanto sua própria mochila está tão vulnerável na mesa. Foxface deve ter deixado propositadamente as outras mochilas, sabendo que roubando uma sem seu número iria definitivamente encorajar um perseguidor.Essa deveria ter sido a minha estratégia! Na hora que superei minhas emoções de surpresa, admiração, raiva, ciúmes e frustração, observo aquela juba de cabelos avermelhados desaparecer nas árvores bem longe da área de alcance. Hum. Estou sempre temendo os outros, mas talvez Foxface seja a verdadeira oponente aqui.Ela me custou tempo, também, porque agora está claro que eu preciso ir para a mesa a seguir. Quem quer que chegue antes de mim irá facilmente pegar a minha mochila e ir embora. Sem hesitação, corro a toda velocidade para a mesa. Consigo sentir a emergência do perigo antes de o ver. Felizmente, a primeira faca vem voando pelo meu lado direito, então sou capaz de ouvir e consigo desviar com o meu arco. Me viro, retrocedendo a corda do arco e mando uma flecha diretamente no coração da Clove. Ela se vira exatamente o suficiente para evitar um golpe fatal, mas a ponta perfura seu braço esquerdo. Infelizmente, ela joga com o direito, mas é o suficiente para retardá-la por alguns momentos, tendo que puxar a flecha do seu braço, avaliar a gravidade do ferimento. Eu continuo me movimentando, posicionamento a próxima flecha automaticamente, como só alguém que caçou durante anos sabe fazer.Estou na mesa agora, meus dedos fechando sobre a minúscula mochila laranja. Minha mão desliza entre as correias e eu a puxo pelo meu braço. É realmente pequena demais para caber em qualquer outra parte da minha anatomia, e estou me virando novamente para atirar quando a segunda faca me pega na testa. Ela corta em cima da minha sobrancelha direita, abrindo uma ferida que envia um fluxo escorrendo pelo meu rosto, cegando meu olho, enchendo minha boca com o gosto picante e metálico do meu próprio sangue. Cambaleio para trás, mas ainda consigo enviar minha flecha pronta na direção geral do meu agressor. Eu sei enquanto ela deixa as minhas mãos que vai errar. E então Clove bate em mim, me deixando cair de costas, prendendo meus ombros no chão com seus joelhos.É isso, eu penso, e espero, por Prim, que seja rápido. Mas Clove quer saborear o momento. Até mesmo sente que tem tempo. Sem dúvida Cato está em algum lugar próximo, a protegendo, esperando por Thresh e possivelmente por Peeta.— Onde está o seu namorado, Distrito Doze? Ainda persistindo?  ela pergunta.Bem, enquanto estivermos falando eu estou viva.— Ele está lá fora agora. Caçando o Cato  rosno para ela. Então eu grito a plenos pulmões. — Peeta!Clove comprime seu punho na minha traqueia, muito eficazmente cortando a minha voz. Mas a cabeça dela está virando de lado a lado, e eu sei que por um momento ela está pelo menos considerando que eu estou dizendo a verdade. Já que nenhum Peeta aparece para me salvar, ela se volta para mim.— Mentirosa  ela diz com um sorriso. — Ele está quase morto. Cato sabe onde o cortou. Você provavelmente está com ele amarrado em alguma árvore enquanto tenta manter seu coração batendo. O que está na mochilinha bonita? O remédio para o Lover Boy? Que pena que ele nunca vai recebê-lo.Clove abre sua jaqueta. Está forrada com um impressionante conjunto de facas. Ela seleciona cuidadosamente uma de aparência quase delicada com uma lâmina cruel e curvada.— Eu prometi ao Cato que se ele me deixasse ter você, eu daria ao público um bom espetáculo.Luto agora em um esforço para removê-la, mas não adianta. Ela é muito pesada e seu aperto em mim é muito firme.— Esqueça, Distrito Doze. Nós vamos te matar. Bem como nós matamos sua aliadinha patética... qual era o nome dela? Aquela que pulava nas árvores? Rue? Bem, Rue primeiro, depois você, e então eu acho que nós vamos simplesmente deixar a natureza cuidar do Lover Boy. Como isso soa?  Clove pergunta. — Agora, por onde começar?Ela descuidadamente retira o sangue da minha ferida com a manga da sua jaqueta. Por um momento, ela analisa meu rosto, inclinando-o de lado a lado como se fosse um bloco de madeira e ela estivesse decidindo exatamente que padrão esculpir nele. Tento morder sua mão, mas ela pega o cabelo no alto da minha cabeça, me forçando de volta ao chão.— Eu acho...  ela quase ronrona. — Acho que vamos começar com a sua boca.Aperto os meus dentes juntos enquanto ela traça provocativamente o contorno dos meus lábios com a ponta da lâmina.Eu não fecho meus olhos. O comentário sobre Rue me encheu de fúria, fúria o suficiente que eu penso em morrer com alguma dignidade. Como o meu último ato de rebeldia, vou encará-la enquanto conseguir enxergar, o que provavelmente não será um período de tempo prolongado, mas vou encará-la, e não vou gritar. Eu vou morrer do meu próprio jeito, invicta.— Sim, eu não acho que você vai ter muito mais uso para os seus lábios. Quer soprar para o Lover Boy um último beijo?  ela pergunta, e junto um bocado de sangue e saliva e cuspo no rosto dela.Ela fica vermelha de raiva.— Muito bem. Vamos começar.Eu me preparo para a agonia que certamente se seguirá. Mas enquanto sinto a ponta abrir o primeiro corte em meu lábio, alguma forma grande arranca Clove do meu corpo e então ela grita. Fico muito estupefata de primeira, incapaz demais de processar o que aconteceu. Peeta, de alguma forma, veio ao meu resgate? Os Gamemakers soltaram algum animal selvagem para aumentar a diversão? Um aerobarco inexplicavelmente a puxou pelo ar?Mas quando me levanto com meus braços dormentes, vejo que não é nenhuma das alternativas acima. Clove está balançando a trinta centímetros do chão, presa nos braços de Thresh. Solto um suspiro, vendo-o assim, elevando-se sobre mim, segurando Clove como uma boneca de pano. Me lembro dele grande, mas ele parece mais maciço, mais poderoso do que eu me lembrava. Aliás, ele parece ter ganho peso na arena. Ele vira Clove e a arremessa no chão.Quando ele berra, eu pulo, nunca tendo ouvido-o falar acima de um murmúrio.— O que você fez para aquela menininha? Você a matou?Clove está lutando para trás de quatro, como um inseto frenético, chocada demais até mesmo para chamar por Cato.— Não! Não, não fui eu!— Você disse o nome dela. Eu ouvi você. Você a matou?  Outro pensamento traz uma onda fresca de raiva a seus traços. — Você a cortou como ia cortar esta menina aqui?— Não! Não, eu...  Clove vê a pedra, cerca do tamanho de um pequeno pedaço de pão na mão de Thresh e perde a cabeça. — Cato!  ela chia. — Cato!— Clove!  eu ouvi a resposta de Cato, mas ele está muito longe, posso afirmar isso, para ajudá-la.O que ele estava fazendo? Tentando conseguir a Foxface ou o Peeta? Ou ele estivera deitado esperando por Thresh e simplesmente tinha julgado mal a localização dele?Thresh desce a pedra com força contra a têmpora de Clove.Não está sangrando, mas consigo ver o amassado em seu crânio e sei que ela é um caso perdido. Ainda há vida nela agora, contudo, na rápida ascensão e queda de seu peito, no baixo gemido escapando de seus lábios.Quando Thresh gira para mim, a pedra levantada, sei que não há propósito em correr. E meu arco está vazio, a última flecha armada tinha ido parar na direção de Clove. Estou presa no brilho dos seus estranhos olhos castanhos dourados.— O que ela quis dizer? Sobre Rue ser sua aliada?— Eu... eu... nós nos unimos. Explodimos os suprimentos. Eu tentei salvá-la, eu tentei. Mas ele chegou lá primeiro. Distrito 1  digo.Talvez se ele souber que ajudei Rue, ele não escolherá algum fim lento e sádico para mim.— E você o matou?  ele exige.— Sim. Eu matei ele. E a cobri de flores  respondo. — E eu cantei para ela até dormir.Lágrimas brotam dos meus olhos. A tensão e a luta saem de mim com a lembrança. E fico oprimida pela Rue, pela dor na minha cabeça, pelo meu medo de Thresh e pelo gemido da menina morrendo a alguns metros de distância.— Até dormir?  Thresh diz rispidamente.— Até morrer. Eu cantei até que ela morresse  explico digo. — O seu distrito... eles me mandaram um pão. — Minha mão levanta-se, mas não para pegar uma flecha que eu sei que nunca vou alcançar. Só para enxugar meu nariz. — Faça isso rápido, está bem, Thresh?Emoções conflitantes cruzam o rosto de Thresh. Ele abaixa a pedra e aponta para mim, quase acusadoramente.— Só dessa vez, eu te deixarei ir. Pela garotinha. Você e eu estamos quites. Não se deve mais nada. Entendeu?Aceno porque entendo mesmo. Sobre se dever. Sobre odiar isso. Entendo que se Thresh ganhar, ele terá que voltar e enfrentar um distrito que já quebrou todas as regras para me agradecer, e ele está quebrando as regras por me agradecer também. E eu entendo que, no momento, Thresh não vai esmagar o meu crânio.— Clove!  a voz de Cato está muito mais perto agora.Eu posso afirmar pela dor nela que ele a vê no chão.— É melhor você correr agora, Garota do Fogo  diz Thresh.Não precisa me dizer duas vezes. Eu me viro e meus pés mergulham na terra batida enquanto fujo de Thresh e Clove e do som da voz de Cato.Só quando alcanço a floresta me viro por um instante. Thresh e ambas as mochilas grandes estão desaparecendo pela beirada da campina até a área que eu nunca vi. Cato se ajoelha ao lado da Clove, lança na mão, implorando para ela ficar com ele. Em um instante, ele perceberá que é inútil, ela não pode ser salva.Bato contra as árvores, repetidamente afastando o sangue que está vertendo em meus olhos, fugindo como a criatura selvagem e ferida que sou. Após alguns minutos, ouço o canhão e sei que Clove morreu, que Cato ficará atrás dos rastros de um de nós. Ou do Thresh ou do meu. Estou dominada com terror, fraca por causa do meu ferimento na cabeça, tremendo. Eu carrego uma flecha, mas Cato consegue jogar a lança quase tão longe quanto eu consigo atirar.Só uma coisa me acalma. Thresh está com a mochila de Cato contendo o negócio que ele precisa desesperadamente. Se eu tivesse que apostar, Cato se dirigiu atrás de Thresh, não de mim. Ainda assim, não retardo quando chego à água. Mergulho diretamente, as botas ainda calçadas, e me debato correnteza abaixo. Tiro as meias de Rue que estive usando como luvas e as pressiono na minha testa, tentando estancar o fluxo de sangue, mas elas ficam encharcadas em minutos.De alguma forma eu volto para a caverna. Me aperto para passar pelas pedras. À luz baça, puxo a pequena mochila laranja do meu braço, abro o fecho e despejo o conteúdo no chão. Uma caixa estreita contendo uma agulha hipodérmica.Sem hesitar, aperto a agulha no braço do Peeta e pressiono lentamente o êmbolo.Minhas mãos vão até a minha cabeça e então caem no meu colo, escorregadias de sangue.A última coisa que me lembro é de uma mariposa verde-e-prata primorosamente bela pousando na curva do meu pulso.

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