sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jogos vorazes - capitulo 23




Cada célula do meu corpo quer que eu mergulhe no cozido e coma até me satisfazer, jogando punhado atrás de punhado em minha boca. Mas a voz de Peeta me para.— É melhor irmos com calma nesse cozido. Lembra-se da primeira noite no trem? A comida farta me deixou doente e eu não estava nem mesmo morrendo de fome, então.— Você está certo. E eu poderia simplesmente comer o negócio todo!  digo arrependida.Mas não o faço. Estamos muito sensíveis. Cada um de nós pega um rolinho, metade de uma maçã e uma porção do tamanho de um ovo de cozido de arroz. Eu me forço a comer o cozido em pequeninas colheradas – eles nós mandaram até mesmo talheres e pratos – saboreando cada mordida. Quando terminamos, eu encaro ansiosamente o prato.— Eu quero mais.— Eu também. Te digo uma coisa. Esperamos uma hora, se continuar desse jeito, então nós nos servimos de novo  diz Peeta.— Acertado  respondo. — Vai ser uma longa hora.— Talvez não tanto. O que foi que você estava dizendo logo antes da comida chegar? Algo sobre mim... nenhuma competição... melhor coisa que já aconteceu com você...— Eu não me lembro dessa última parte — eu digo, esperando que esteja muito turvo aqui para as câmeras captarem meu rubor.— Ah, está certo. Isso era o que eu estava pensando  diz ele. — Chega mais, eu estou congelando.Eu abro espaço para ele no saco de dormir. Nós nos encostamos contra a parede da caverna, a minha cabeça em seu ombro, seus braços em volta de mim. Eu posso sentir Haymitch me cutucando para continuar com o ato.— Então, desde que tínhamos cinco, você nunca nem notou outras garotas?  eu lhe pergunto.— Não, eu notei quase todas as garotas, mas nenhuma delas deixou uma impressão duradoura, só você.— Tenho certeza de que seus pais ficariam animados, você gostando de uma garota da Costura.— Dificilmente. Mas eu não poderia me importar menos. De qualquer forma, se voltarmos, você não será uma garota da Costura, você será uma garota da Vila dos Vitoriosos.Ele está certo. Se vencermos, cada um irá ganhar uma casa na parte da cidade reservada para os vitoriosos dos Jogos Vorazes. Há muito tempo, quando os Jogos começaram, a Capital construíra uma dúzia de casas chiques em cada distrito. É claro, no nosso, apenas uma está ocupada. A maioria das outras nunca teve moradores.Um pensamento perturbador me atinge.— Mas então o nosso único vizinho será Haymitch!— Ah, isso vai ser bom  diz Peeta, apertando seus braços ao meu redor. — Você e eu e Haymitch. Muito acolhedor. Piqueniques, aniversários, longas noites de inverno ao redor da fogueira recontando velhos contos dos Jogos Vorazes.— Eu te disse, ele me odeia!  eu digo, mas não posso deixar de rir com a imagem de Haymitch se tornando meu novo amigo.— Só às vezes. Quando ele está sóbrio, nunca o ouvi dizer uma coisa negativa sobre você.— Ele nunca está sóbrio!  protesto.— Está certo. Em quem estou pensando? Ah, sei. É Cinna quem gosta de você. Mas isso é principalmente porque você não tentou fugir quando ele botou fogo em você. Por outro lado, Haymitch... bem, se eu fosse você, eu evitaria Haymitch completamente. Ele te odeia.— Eu pensei que você tinha dito que eu era a sua favorita.— Ele me odeia mais  diz Peeta. — Eu não acho que as pessoas, de um modo geral, sejam suas coisas favoritas.Eu sei que o público apreciará nós nos divertindo às custas de Haymitch. Ele tem estado por perto há tanto tempo, ele é praticamente um velho amigo de alguns deles. E depois de seu mergulho de cabeça para fora do palco na colheita, todo mundo o conhece. A esta altura, eles terão arrastado-o para fora da sala de controle para entrevistas sobre nós.Não há como prever que tipo de mentiras ele inventou. Ele tem uma espécie de desvantagem porque a maioria dos mentores tem um parceiro, outro vencedor para ajudá-lo, enquanto Haymitch tem que estar pronto para entrar em ação a qualquer momento. Meio que quando eu estava sozinha na arena.Eu me pergunto como ele está aguentando, com a bebida, a atenção e o estresse de tentar nos manter vivos. É engraçado. Haymitch e eu não nos damos bem em pessoa, mas talvez Peeta esteja certo sobre nós sermos parecidos, porque ele parece ser capaz de se comunicar comigo pelo sincronismo dos seus presentes.Como eu ter sabido que tinha que estar perto de água quando ele a negou e como eu sabia que o xarope do sono não era apenas algo para aliviar a dor de Peeta, e como agora eu sei que tenho que bancar o romance. Ele não fez muito esforço para se comunicar com Peeta, na verdade. Talvez ele ache que uma tigela de caldo de carne seria apenas uma tigela de caldo de carne para Peeta, enquanto eu veria as restrições que viriam com ela.Um pensamento me atinge, e eu estou espantada que a pergunta tenha levado tanto tempo para aparecer. Talvez seja porque só recentemente comecei a ver Haymitch com um grau de curiosidade.— Como você acha que ele fez isso?— Quem? Fez o quê?  Peeta pergunta.— Haymitch. Como você acha que ele ganhou os Jogos?Peeta considera isto por um bom tempo antes de responder. Haymitch é muito robusto, mas não tem um físico de se admirar como Cato ou Thresh. Ele não é particularmente bonito. Não da maneira que faz com que patrocinadores façam chover presentes para você. E ele é tão grosseiro, é difícil imaginar alguém unindo-se a ele. Há apenas uma maneira de Haymitch poder ter vencido, e Peeta diz bem quando eu mesma estou chegando a essa conclusão.— Ele foi mais esperto que os outros  Peeta fala.Aceno, então deixo a conversa acabar. Mas secretamente estou me perguntando se Haymitch ficou sóbrio o suficiente para ajudar Peeta e eu porque achou que poderíamos ter a inteligência para sobreviver.Talvez ele nem sempre tenha sido um bêbado. Talvez, no começo, ele tentou ajudar os tributos. Mas depois ficou insuportável. Deve ser um inferno ser mentor de duas crianças e depois vê-las morrer. Ano após ano após ano. Percebo que se eu sair daqui, isso se tornará o meu trabalho. Ser a mentora da menina do Distrito 12. A ideia é tão repelente, eu a empurro da minha mente.Cerca de meia hora se passa antes de decidir que tenho que comer de novo. O próprio Peeta está com muita fome para discutir.Enquanto eu estou servindo mais duas pequenas porções de cozido de carneiro e arroz, nós ouvimos o hino começar a tocar. Peeta pressiona seus olhos contra uma fenda na rocha para ver o céu.— Não haverá nada para ver hoje à noite  eu digo, muito mais interessada no cozido do que o céu. — Nada aconteceu, ou nós teríamos ouvido um canhão.— Katniss  Peeta diz calmamente.— O quê? Devemos dividir outro rolinho, também?  pergunto.— Katniss  ele repete, mas eu me encontro querendo ignorá-lo.— Eu vou dividir um. Mas vou poupar o queijo para amanhã.Vejo Peeta olhando para mim.— O quê?— Thresh está morto  diz Peeta.— Ele não pode estar — replico.— Eles devem ter disparado o canhão durante o trovão e nós perdemos  diz Peeta.— Você tem certeza? Quer dizer, está chovendo canivetes lá fora. Eu não sei como você consegue ver alguma coisa.Eu o afasto das rochas e espremo meus olhos para o céu escuro e chuvoso. Por cerca de dez segundos, vislumbro uma imagem distorcida de Thresh e então ele se vai. Bem assim.Eu desmorono pelas rochas, esquecendo momentaneamente da tarefa às mãos. Thresh está morto. Eu deveria estar feliz, certo?Menos um tributo a encarar. E um poderoso também. Mas eu não estou feliz. Tudo em que posso pensar é em Thresh me deixando ir, deixando-me correr por causa da Rue, que morreu com aquela lança em seu estômago...— Você está bem? — Peeta pergunta.Eu dou de ombros evasivamente e seguro meus cotovelos com as minhas mãos, abraçando-os perto do meu corpo. Eu tenho que enterrar a dor verdadeira, porque quem vai apostar em um tributo que fica choramingando a morte de seus adversários? Rue era uma coisa. Éramos aliadas. Ela era tão jovem. Mas ninguém vai entender a minha tristeza pelo assassinato de Thresh. A palavra me para bruscamente. Assassinato! Felizmente, eu não disse em voz alta. Isso não vai me fazer ganhar nenhum ponto na arena. O que eu digo é:— É só que... se não ganhássemos... Eu queria que Thresh ganhasse. Porque ele me deixou ir. E por causa da Rue.— Sim, eu sei  Peeta responde. — Mas isso significa que estamos um passo mais perto do Distrito Doze.  Ele empurra um prato de comida nas minhas mãos. — Coma. Ainda está quente.Eu dou uma mordida no cozido para mostrar que eu realmente não me importo, mas é como cola na minha boca e é um grande esforço engolir.— Significa também que Cato vai voltar a nos caçar.— E ele tem suprimentos de novo  diz Peeta.— Ele estará ferido, eu aposto.— O que te faz pensar isso?  Peeta pergunta.— Porque Thresh nunca teria sucumbido sem uma luta. Ele é tão forte... quero dizer, ele era. E eles estavam em seu território.— Que bom. Quanto mais Cato estiver ferido, melhor. Eu me pergunto como a Foxface está se virando.— Oh, ela está bem  eu digo irritada. Eu ainda estou com raiva que ela pensou em se esconder na Cornucópia e eu não. — Provavelmente será mais fácil pegar Cato do que ela.— Talvez eles irão se pegar e nós poderemos simplesmente ir para casa  diz Peeta. Mas é melhor termos cuidado extra com as vigilâncias. Eu cochilei algumas vezes.— Eu também  admito. — Mas não hoje.Nós terminamos nossa comida em silêncio e depois Peeta se oferece para ficar com a primeira vigilância. Eu me enterro profundamente no saco de dormir ao lado dele, puxando meu capuz sobre o meu rosto para escondê-lo das câmeras. Eu só preciso de alguns momentos de privacidade onde posso deixar qualquer emoção cruzar o meu rosto sem ser vista.Sob o capuz, eu silenciosamente digo adeus ao Thresh e agradeço-lhe pela minha vida. Prometo me lembrar dele e, se eu puder, fazer algo para ajudar sua família e a de Rue, se eu ganhar. Então eu escapo para o sono, confortável por uma barriga cheia e o calor constante de Peeta ao meu lado.Quando Peeta me acorda mais tarde, a primeira coisa que eu registro é o cheiro de queijo de cabra. Ele está segurando metade de um rolinho aberto com o negócio branco cremoso e coberto com fatias de maçã.— Não fique brava  diz ele. — Eu tive que comer de novo. Aqui está a sua metade.— Oh, bom  eu disse, imediatamente dando uma mordida enorme. O queijo gordo e forte tem gosto daqueles que a Prim faz, as maçãs são doces e crocantes. — Hmm.— Fazemos uma torta de queijo de cabra e maçã na padaria  diz ele.— Aposto que é caro.— Caro demais para a minha família comer. A não ser que tenha ficado muito estragado. É claro, praticamente tudo o que comemos é estragado  Peeta conta, puxando o saco de dormir em torno dele.Em menos de um minuto, ele está roncando.Hum. Eu sempre assumi que os lojistas tinham uma vida mole.E é verdade, Peeta sempre teve o suficiente para comer. Mas é meio deprimente ter que viver sua vida de pão dormido, das fornadas duras e secas que ninguém mais queria. Uma coisa sobre nós, já que trago a nossa comida para casa diariamente, é que a maioria está tão fresca que você tem que se certificar de que ela não vai fugir.Em algum momento durante o meu turno, a chuva para, não gradualmente, mas de uma vez só. O aguaceiro acaba e há apenas os gotejamentos residuais de água dos galhos, a pressa do córrego agora transbordando abaixo de nós. Uma linda lua cheia emerge, e mesmo sem os óculos eu posso ver o lado de fora. Não consigo decidir se a lua é real ou apenas uma projeção dos Gamemakers. Sei que estava cheia pouco antes de sair de casa. Gale e eu assistimo-a subir à medida que caçávamos nas horas tardias.Quanto tempo eu estive fora? Suponho que se passaram cerca de duas semanas na arena, e houve aquela semana de preparação na Capital. Talvez a lua tenha completado seu ciclo.Por alguma razão, eu quero muito que seja a minha lua, a mesma que eu vejo da floresta em torno do Distrito 12. Isso me daria algo para me agarrar no mundo surreal da arena onde a autenticidade de tudo deve ser duvidada.Quatro de nós restantes.Pela primeira vez, permito-me realmente pensar na possibilidade de que poderia voltar para casa. Para a fama. Para a riqueza. Para minha própria casa na Vila dos Vitoriosos. Minha mãe e Prim viveriam lá comigo. Nada mais de medo da fome. Um novo tipo de liberdade.Mas então... o quê? Como seria a minha vida diária? A maior parte dela foi consumida com a aquisição de comida. Tire isso e eu não tenho muita certeza sobre quem eu realmente sou, qual é a minha identidade. A ideia me assusta um pouco. Penso em Haymitch com todo o seu dinheiro. O que sua vida se tornou? Ele vive sozinho, sem esposa ou filhos, a maior parte de suas horas despertas ele está bêbado. Eu não quero acabar assim.— Mas você não estará sozinha  sussurro para mim mesma.Eu tenho minha mãe e Prim. Bem, por enquanto. E depois... eu não quero pensar no depois, quando Prim tiver crescido, minha mãe falecido. Eu sei que nunca vou me casar, nunca arriscarei trazer uma criança ao mundo. Porque se há uma coisa que ser um vitorioso não garante, é a segurança de seus filhos. Os nomes dos meus filhos iriam direto para as bolas de colheita como os de todo mundo. E eu juro que nunca vou deixar que isso aconteça.O sol eventualmente nasce, sua luz deslizando pelas fendas e iluminando o rosto de Peeta. Em quem ele vai se transformar se voltarmos para casa? O garoto desconcertante e de bom caráter que pode prolongas mentiras tão convincentes que toda a Panem acredita que ele é perdidamente apaixonado por mim, e, admito, há momentos em que ele me faz acreditar nisso? Pelo menos, seremos amigos, eu penso. Nada mudará o fato de que salvamos as vidas um do outro aqui. E além disso, ele será sempre o menino com o pão. Bons amigos. Qualquer coisa além disso, contudo... e sinto os olhos cinzentos de Gale observando eu observar Peeta, lá no Distrito 12.Desconforto me faz mover. Eu me aproximo mais e chacoalho o ombro de Peeta. Seus olhos se abrem sonolentamente e quando se concentram em mim, ele me puxa para um longo beijo.— Estamos desperdiçando tempo de caça  eu digo quando finalmente rompo o beijo.— Eu não chamaria isso de desperdício  diz ele se esticando bastante enquanto se senta. — Então caçamos de estômago vazio para nos dar uma vantagem?— Nós não. Nós nos entupimos para nos dar poder de resistência.— Conte comigo  diz Peeta.Mas posso ver que ele fica surpreso quando divido o resto do cozido e do arroz e dou-lhe um prato completo.— Tudo isso?— Nós ganharemos isso de volta hoje — respondo, e ambos avançamos em nossos pratos.Mesmo frio, é uma das melhores coisas que eu já provei. Abandono o meu garfo e raspo os últimos punhados de molho com o meu dedo.— Eu posso sentir Effie Trinket estremecendo com a minha educação.— Ei, Effie, veja isso!  diz Peeta.Ele joga seu garfo por cima do ombro e literalmente lambe o prato até ficar limpo com a língua, fazendo sons altos de satisfação. Então ele sopra um beijo pra ela e grita:— Nós sentimos sua falta, Effie!Eu cubro a boca com a mão, mas estou rindo.— Pare! Cato pode estar logo do lado de fora de nossa caverna.Ele pega a minha mão.— O que me importa? Eu tenho você para me proteger agora  Peeta fala, puxando-me para ele.— Vamos  eu digo exasperada, desembaraçando-me do seu aperto, mas não antes que ele receba outro beijo.Uma vez que embalamos tudo e estamos do lado de fora de nossa caverna, o nosso humor muda para um sério. É como se, pelos últimos dias, protegidos pelas rochas e da chuva e da preocupação de Cato com Thresh, nos foi dado uma pausa, uma espécie de férias. Agora, embora o dia esteja ensolarado e quente, ambos sentimos que estamos realmente de volta nos Jogos. Eu entrego minha faca para Peeta, já que quaisquer armas que ele já possuíra se foram há muito, e ele desliza-as para seu cinto.Minhas últimas sete flechas – das doze eu sacrifiquei três na explosão e duas no banquete – chocalham um pouco perdidas na aljava. Eu não posso me dar ao luxo de perder mais.— Ele estará nos caçando agora  diz Peeta. — Cato não é de esperar sua presa passar por perto.— Se ele estiver ferido...  começo.— Não importará  Peeta interrompe. — Se ele puder se mover, ele está vindo.Com toda a chuva, o córrego invadiu suas margens em vários metros de cada lado. Paramos lá para repor a nossa água. Eu verifico as armadilhas que montei dias atrás e fico sem nada. Não é de se estranhar com esse tempo. Além do mais, não vi muitos animais ou sinais deles nesta área.— Se queremos comida, é melhor voltarmos ao meu antigo território de caça.— Você que manda. Apenas me diga o que você precisa que eu faça  diz Peeta.— Fique de olho. Fique nas pedras o tanto quanto possível, não há sentido em deixar-lhe pistas para seguir. E ouça por nós dois.Está claro, a este ponto, que a explosão destruiu a audição na minha orelha esquerda de vez.Eu andaria na água para cobrir as nossas pistas completamente, mas não tenho certeza se a perna do Peeta poderia aguentar a corrente. Embora os remédios tenham apagado a infecção, ele ainda está muito fraco. Minha testa dói ao longo do corte da faca, mas depois de três dias o sangramento parou. Eu uso uma bandagem em volta da minha cabeça, contudo, apenas no caso do esforço físico fazer ela voltar.Enquanto nos dirigimos ao lado do córrego, passamos pelo lugar onde eu encontrei Peeta camuflado nas ervas daninhas e lama. Uma coisa boa, entre a chuva e as margens inundadas, é que todos os sinais de seu esconderijo foram eliminados. Isso significa que, se for necessário, podemos voltar à nossa caverna. Caso contrário, eu não arriscaria com Cato atrás de nós.Os pedregulhos diminuem para rochas que eventualmente viram pedrinhas, e então, para meu alívio, estamos de volta para folhas de pinheiro e a inclinação gentil do chão da floresta. Pela primeira vez, percebo que temos um problema. Navegando pelo terreno rochoso co uma perna ruim – bem, você naturalmente irá fazer algum ruído. Mas mesmo na cama lisa de folhas, Peeta é barulhento. E eu quero dizer barulhento barulhento, como se ele estivesse pisando forte ou algo assim. Eu me viro e olho para ele.— O quê?  ele pergunta.— Você tem que mover-se mais silenciosamente  eu digo. — Esqueça o Cato, você está espantando cada coelho em um raio de dezesseis quilômetros.— Sério? Desculpe, eu não sabia.Então, começamos de novo e ele está um pouquinho melhor, mas mesmo com apenas uma orelha funcionando, ele está me fazendo pular.— Você pode tirar as suas botas?  sugiro.— Aqui?  ele pergunta ele incrédulo, como se eu tivesse lhe pedido para andar descalço sobre brasas ou algo assim.Eu tenho que me lembrar que ele ainda não está acostumado com a floresta que é o lugar assustador e proibido para além das cercas do Distrito 12. Eu penso em Gale, com seu piso de veludo. É assombroso quão pouco som ele produz, mesmo quando as folhas caíram e é um desafio mover-se sem espantar a caça. Tenho certeza de que ele está rindo lá em casa.— Sim — respondo pacientemente. — Eu também tirarei. Dessa forma, nós dois vamos ficar mais silenciosos.Como se eu estivesse fazendo barulho. Assim ambos nos livramos de nossas botas e meias e, enquanto há alguma melhora, eu poderia jurar que ele está fazendo um esforço para quebrar cada ramo que encontramos.Não é preciso dizer que, embora tenham se passado várias horas para chegar ao meu antigo acampamento com a Rue, eu não atirei em nada. Se a corrente se acalmasse, peixes poderiam ser uma opção, mas a correnteza ainda é muito forte. Enquanto paramos para descansar e beber água, tento encontrar uma solução.Idealmente, eu despejaria Peeta agora com alguma tarefa simples de coletar raízes e iria caçar, mas então ele ficaria com apenas uma faca para se defender contra as lanças e a força superior de Cato. Então o que eu realmente gostaria é tentar escondê-lo num lugar seguro, então ir caçar, voltar e recolhê-lo.Mas tenho a sensação de que seu ego não vai aceitar essa sugestão.— Katniss — ele chama. — Nós precisamos nos dividir. Eu sei que estou espantando a caça.— Só porque sua perna está machucada  eu digo com generosidade, porque, realmente, dá pra dizer que isso é apenas uma pequena parte do problema.— Eu sei. Então, por que você não segue em frente? Mostre-me algumas plantas para coletar e dessa maneira ambos seremos úteis.— Não se o Cato vier e te matar  tentei dizer isso de uma maneira agradável, mas ainda soa como se eu achasse que ele é fraco.Surpreendentemente, ele apenas ri.— Olha, eu posso lidar com o Cato. Lutei com ele antes, não lutei?É, e isso deu muito certo. Você acabou morrendo em uma orla de lama. É o que eu quero dizer, mas não posso. Ele realmente salvou minha vida ao lutar contra o Cato, afinal. Eu tento outra tática.— E se você subir em uma árvore e agisse como vigia enquanto eu caço?  digo, tentando fazer isso soar como um trabalho muito importante.— E se você me mostrar o que é comestível por aqui e ir nos buscar um pouco de carne?  diz ele, imitando meu tom. — Só não vá longe, no caso de precisar de ajuda.Eu suspiro e mostro-lhe algumas raízes para cavar. Nós precisamos mesmo de alimentos, sem dúvida. Uma maçã, dois rolinhos e um pedaço de queijo do tamanho de uma ameixa não vão durar muito. Vou simplesmente caminhar por uma curta distância e esperar que Cato esteja longe.Ensino-lhe um assobio de pássaro – não uma melodia como o da Rue, mas um assobio simples de duas notas – que podemos usar para nos comunicarmos que estamos bem. Felizmente, ele é bom nisso. Deixando-o com a mochila, eu saio.Sinto que tenho onze anos novamente, presa não à segurança da cerca, mas a Peeta, permitindo-me dezoito, talvez vinte e sete metros de espaço para caçar. Longe dele, porém, a floresta fica viva com sons de animais. Tranquilizada por seus assobios periódicos, permito-me derivar para mais longe, e logo tenho dois coelhos e um esquilo gordo para exibir. Decido que é o suficiente. Eu posso colocar armadilhas e talvez conseguir alguns peixes. Com as raízes de Peeta, isto será o suficiente por hora.Enquanto eu volto a curta distância, percebo que trocamos sinais faz um tempo. Quando o meu assobio não recebe nenhuma resposta, eu corro. Rapidamente, encontro a mochila e um arrumado monte de raízes ao lado. A folha de plástico foi colocada no terreno onde o sol pode atingir a única camada de bagas que ela cobre. Mas onde está ele?— Peeta!  chamo em pânico. — Peeta!Eu me viro para o farfalhar de folhas e quase mando uma flecha por ele. Felizmente, puxo meu arco no último segundo e fica preso em um tronco de carvalho a sua esquerda. Ele salta para trás, atirando um punhado de bagas na folhagem.Meu medo sai como raiva.— O que você está fazendo? Você deveria estar aqui, não correndo pela floresta!— Eu encontrei algumas amoras correnteza abaixo  diz ele, claramente confuso com a minha explosão.— Eu assobiei. Por que você não assobiou de volta?  repreendo-o.— Eu não ouvi. A água está muito alta, acho.Ele anda até mim e coloca suas mãos sobre meus ombros. É quando sinto que estou tremendo.— Eu pensei que Cato tinha te matado!  quase grito.— Não, eu estou bem  Peeta envolve seus braços em volta de mim, mas eu não respondo. — Katniss?Eu empurro, tentando entender meus sentimentos.— Se duas pessoas concordam em um sinal, elas ficam por perto. Porque se um deles não responde, eles estão em apuros, está certo?— Está certo!— Está certo. Porque foi isso que aconteceu com a Rue, e eu assisti ela morrer!  eu digo.Viro-me para longe dele, vou até a mochila e abro uma garrafa de água fresca, apesar de ainda ter um pouco na minha. Mas não estou pronto para perdoá-lo. Eu observo a comida. Os rolinhos e as maçãs estão intocados, mas alguém pegou definitivamente parte do queijo.— E você comeu sem mim!Eu realmente não me importo, só quero algo pelo o que ficar brava.— O quê? Não, eu não comi  Peeta responde.— Ah, e suponho que as maçãs comeram o queijo.— Eu não sei o que comeu o queijo  Peeta diz devagar e claramente, como se estivesse tentando não perder a paciência — mas não foi eu. Eu estive correnteza abaixo coletando amoras. Você gostaria de algumas?Eu quero, na verdade, mas não quero ceder tão cedo. Mas ando até lá e olho para elas. Eu nunca vi esse tipo antes.Não, já vi. Mas não na arena. Estas não são as bagas da Rue, embora elas se pareçam. Também não são iguais as que eu aprendi sobre no treinamento. Eu me inclino e apanho algumas, rolando-as entre meus dedos.A voz de meu pai volta para mim.— Estas não, Katniss. Nunca estas. Elas são amoras cadeado. Você estará morta antes que atinjam o seu estômago.Bem então, o canhão dispara. Eu me viro bruscamente, esperando que Peeta colapse no chão, mas ele apenas levanta suas sobrancelhas. O aerobarco aparece a noventa metros, mais ou menos, de distância. O que sobrou do corpo emagrecido de Foxface é levantado no ar. Eu posso ver o brilho vermelho dos seus cabelos ao sol.Eu deveria ter sabido no momento em que vi o queijo desaparecido...Peeta pegou-me pelo braço, empurrando-me na direção de uma árvore.— Escale. Ele estará aqui em um segundo. Teremos uma melhor chance lutando contra ele de cima.Eu o paro, de repente calma.— Não, Peeta, ela foi obra sua, não do Cato.— O quê? Eu nem sequer a vi desde o primeiro dia  diz ele. — Como eu poderia tê-la matado?Em resposta, seguro as bagas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário