quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XLIV - Hazel






OS FANTASMAS FORMARAM FILEIRAS e cercaram a encruzilhada.
Havia ao menos cem ao todo – não era uma legião inteira, mas mais que uma Coorte. Alguns carregavam o estandarte esfarrapado com o raio da Duodécima Legião, Quinta Coorte – Michael. A expedição condenada de Varus nos anos oitenta. Outros carregavam estandartes e insígnias que Hazel não reconhecia, como se tivessem morrido em tempos diferentes, em diferentes missões – talvez nem fossem do Acampamento Júpiter.
A maioria estava armada com armas de Ouro Imperial – mais Ouro Imperial que a Duodécima Legião possuía. Hazel podia sentir o poder de todo aquele ouro combinado sussurrando ao seu redor, ainda mais assustador que o estalar da geleira. Ela pensou se poderia usar seu poder para controlar as armas, talvez desarmar os fantasmas, mas estava assustada para tentar. Ouro Imperial não era só um metal precioso. Era letal contra monstros e semideuses. Controlar aquela quantidade de uma vez seria como controlar plutônio em um reator. Se falhasse, poderia varrer a Geleira Hubbard e matar seus amigos.
— Tânatos! — Hazel se virou para a figura encapuzada. — Nós estamos aqui para te resgatar, se você controla essas criaturas, diga para elas...
Sua voz vacilou. O capuz do deus e a capa que o cobria caíram enquanto ele abria suas asas, deixando-o com somente uma túnica negra sem mangas com um cinto. Ele era o homem mais bonito que Hazel já havia visto.
Sua pele era da cor da madeira de teca, escura e brilhante como a antiga mesa das sessões da Rainha Marie. Os seus olhos eram tão mel dourado como os de Hazel. Ele era magro e musculoso, com uma face régia e o seu cabelo negro caído pelos seus ombros. Suas asas brilhavam em preto, azul e roxo.
Hazel lembrou a si mesma de respirar.
Lindo era a palavra certa para Tânatos – não bonito, ou intenso, ou alguma outra coisa do tipo. Ele era lindo como um anjo é lindo – atemporal, perfeito, remoto.
— Oh — ela disse em uma voz fraca.
Os pulsos do deus estavam algemados em algemas de gelo, com correntes que iam direto ao chão da geleira. Seus pés estavam descalços, algemados nos tornozelos e também acorrentados.
— É o Cupido — disse Frank.
— Um Cupido bem lustroso — concordou Percy.
— Vocês me elogiam — disse Tânatos. Sua voz era tão deslumbrante quanto ele – grave e melodiosa. — Eu sou frequentemente confundido com o deus do amor. Morte tem mais em comum com o amor que vocês podem imaginar. Mas eu sou a Morte. Posso lhes assegurar.
Hazel não duvidou. Ela sentiu como se fosse feita de cinzas. A qualquer segundo poderia se desfazer e ser sugada pelo vácuo. Duvidava que Tânatos precisasse tocá-la para matá-la. Ele poderia simplesmente lhe dizer para morrer. Ela se ajoelharia no instante, sua alma obedecendo àquela linda voz e aqueles olhos amáveis.
— Nós estamos... Nós estamos aqui para te salvar — ela conseguiu dizer. — Onde está Alcioneu?
— Me salvar...? — Tânatos estreitou seus olhos. — Você entende o que está dizendo, Hazel Levesque? Você entende o que isso significa?
Percy deu um passo a frente.
— Nós estamos desperdiçando tempo.
Ele balançou sua espada em direção às correntes do deus. O Bronze Celestial retiniu contra o gelo, mas Contracorrente ficou presa na corrente como cola. O gelo começou a subir pela espada. Percy puxou freneticamente. Frank correu para ajudar. Juntos, eles conseguiram liberar Contracorrente antes do gelo alcançar suas mãos.
— Isso não vai ajudar — disse Tânatos simplesmente. — Quanto ao gigante, ele está perto. Essas sombras não são minhas. São dele.
Os olhos de Tânatos exploraram os soldados fantasmas. Eles tremeluziram desconfortavelmente, como se um vento ártico passasse pelas suas fileiras.
— Então como te libertamos? — demandou Hazel.
Tânatos mudou sua atenção de volta a ela.
— Filha de Plutão, filha do meu mestre, você de todas as pessoas não deveria me querer livre.
— Você não acha que eu sei disso?
Os olhos de Hazel picavam, mas ela já estava farta de estar assustada. Ela havia sido uma garotinha assustada setenta anos atrás. Perdera a sua mãe porque agira muito tarde. Agora ela era um soldado de Roma. Não ia falhar de novo. Não ia desapontar seus amigos.
— Escute, Morte — ela desembainhou sua espada de cavalaria, e Arion relinchou desafiante. — Eu não voltei do Mundo Inferior e viajei milhares de quilômetros para que me digam que sou estúpida por te libertar. Se eu morro, eu morro. Vou lutar com todo esse exército se for necessário. Só nos diga como quebrar suas correntes.
Tânatos a estudou durante um batimento.
— Interessante. Você entende que estas sombras uma vez foram semideuses como vocês. Eles lutaram por Roma. Eles morreram sem completar a sua missão heroica. Como você, foram mandados para os Asfódelos. Agora Gaia prometeu uma segunda vida a eles se lutarem por ela hoje. É claro, se você me libertar e derrotá-los, eles terão que voltar ao Mundo Inferior onde pertencem. Por traição aos deuses, enfrentarão punição eterna. Eles não são tão diferentes de você, Hazel Levesque. Você tem certeza que quer me libertar e condenar todas estas almas para sempre?
Frank fechou seus punhos.
— Isso não é justo! Você quer ser libertado ou não?
— Justo... — ponderou Morte. — Você ficaria fascinado com a frequência que eu ouço essa palavra, Frank Zhang, e o quão sem sentido ela é. É justo que a sua vida vá queimar tão brilhante e curta? Foi justo quando eu guiei a sua mãe para o Mundo Inferior?
Frank cambaleou como se tivesse sido golpeado.
— Não — disse Morte tristemente. — Não foi justo. Mesmo assim, era a hora. Não há justiça na Morte. Se vocês me libertarem, vou cumprir com meu dever. Mas é claro que essas sombras vão tentar pará-los.
— Então se te deixamos ir — acrescentou Percy. — Seremos atacados por um monte de caras feitos de vapor negro com espadas de ouro. Tudo bem. Como quebramos essas correntes?
Tânatos sorriu.
— Somente o fogo da vida pode quebrar as correntes da morte.
— Sem enigmas, por favor? — pediu Percy.
Frank respirou trêmulo.
— Não é um enigma.
— Não, Frank — Hazel falou fracamente. — Tem que ter outro meio.
Risos explodiram do outro lado da geleira. Uma voz rouca disse:
— Meus amigos. Eu esperei tanto!
Parado nos portões do acampamento estava Alcioneu. Ele era ainda maior que o gigante Polybotes que tinham visto na Califórnia. Tinha uma pele de metal dourado, armadura feita de ligas de platina e um cajado de ferro do tamanho de um totem. Suas pernas de tom vermelho-ferrugem de dragão martelaram o gelo enquanto entravam no acampamento. Pedras preciosas brilhavam no seu cabelo vermelho trançado.
Hazel nunca o tinha visto completamente formado, mas ela o conhecia melhor do que conhecia os seus próprios pais. Ela o havia feito. Por meses, elevou ouro e gemas da terra para criar aquele monstro. Conhecia os diamantes que havia usado para o coração. Conhecia o óleo que corria em suas veias ao invés de sangue. Mais do que tudo, queria destruí-lo.
O gigante se aproximou, sorrindo para ela com seus dentes de prata sólida.
— Ah, Hazel Levesque — disse ele. — Você me custou muito caro! Se não fosse por você, eu teria me erguido décadas atrás, e esse mundo já seria de Gaia. Mas não importa!
Ele esticou suas mãos, mostrando as linhas de soldados fantasmas.
— Bem-vindo Percy Jackson! Bem-vindo Frank Zhang! Eu sou Alcioneu, a desgraça de Plutão, o novo mestre da Morte. E essa é sua nova legião.

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