quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XLIX - Percy






QUATRO HORAS.
Esse foi o tempo que levou para o cavalo mais rápido do mundo ir do Alasca até a baía de São Francisco, indo direto pela água na Costa Noroeste.
Esse também foi o tempo que levou para Percy recuperar toda a sua memória. O processo havia começado em Portland, quando ele havia bebido o sangue da górgona, mas naquele momento o seu passado ainda estava irritantemente confuso. Agora enquanto eles entravam no território dos deuses Olimpianos, Percy se lembrou de tudo: a guerra contra Cronos, seu décimo sexto aniversário no Acampamento Meio-Sangue, seu treinador Quiron, o centauro, seu melhor amigo Grover, seu irmão Tyson, e mais que tudo, Annabeth – dois meses perfeitos namorando, e então BOOM. Ele foi abduzido pela alienígena conhecida como Hera. Ou Juno... Seja lá o que for.
Oito meses de sua vida foram roubados. A próxima vez que Percy visse a Rainha do Olimpo, iria definitivamente dar um tapa na cabeça da deusa.
Seus amigos e família deveriam estar ficando loucos. Se o Acampamento Júpiter estava com tantos problemas, ele só podia imaginar o que o Acampamento Meio-Sangue estaria enfrentando sem ele.
Ainda pior: Salvar ambos os acampamentos seria só o começo. De acordo com Alcioneu, a guerra real aconteceria muito longe, na terra natal dos deuses. Os gigantes pretendiam atacar o Monte Olimpo original e destruir os deuses para sempre.
Percy sabia que os gigantes não poderiam morrer a não ser que semideuses e deuses os enfrentassem juntos. Nico havia lhe dito aquilo. Annabeth também o havia mencionado, em agosto, quando havia especulado que os gigantes poderiam ser parte da nova Grande Profecia – que os romanos chamavam de a Profecia dos Sete. (Esse era o lado ruim de namorar a garota mais inteligente do acampamento: Você aprendia coisas.)
Ele entendia o plano de Juno: Unir os semideuses gregos e romanos para criar um time de heróis de elite, e então de alguma forma convencer os deuses a lutarem ao seu lado. Mas primeiro, tinham que salvar o Acampamento Júpiter.
A costa começou a ficar familiar. Eles passaram correndo pelo farol de Mendocino. Pouco depois, o Monte Tam, os promontórios de Marín se assomavam pela névoa. Arion passou direto sob a Ponte Golden Gate na baía de São Francisco.
Eles rasgaram através de Berkeley e dentro do Okland Hills. Quando alcançaram o topo sobre o Túnel Caldecott, Arion estremeceu como um carro quebrado e parou, respirando pesadamente.
Hazel deu um tapinha em seus flancos amorosamente.
— Você foi perfeito, Arion.
O cavalo estava tão cansado até para maldizer: É claro que fui perfeito. O que você esperava?
Percy e Frank pularam da biga. Percy desejou que houvesse assentos confortáveis ou refeições de voo. Suas pernas estavam trêmulas. Suas juntas estavam tão tensas que ele mal podia andar. Se fosse para a batalha daquele jeito, os inimigos o chamariam de O Homem Velho Jackson.
Frank não estava muito melhor. Ele mancou até o topo da colina e espiou o acampamento lá embaixo.
— Pessoal... vocês precisam ver isso.
Quando Percy e Hazel se juntaram a ele, o coração de Percy afundou. A batalha havia começado e não estava indo bem. A Duodécima Legião estava disposta no Campo de Marte, tentando proteger a cidade. Escorpiões atiravam entre as linhas dos Nascidos da Terra. Hannibal, o elefante, arava monstros à direita e a esquerda, mas os defensores estavam em grande desvantagem numérica.
No seu pégaso Scipio, Reyna voava ao redor do gigante Polybotes, tentando mantê-lo ocupado. Os lares formavam brilhantes filas roxas contra uma multidão negra e vaporosa de sombras em armaduras antigas. Semideuses veteranos da cidade se juntaram à batalha, e estavam empurrando sua parede de escudos contra uma investida de centauros selvagens. Águias gigantes circulavam pelo campo de batalha, em combate aéreo contra duas mulheres com cabelo-de-serpente em vestes verdes do Mercado Bargain – Stheno e Euryale.
A legião estava suportando a violência do ataque, mas a sua formação estava se rompendo. Cada Coorte era uma ilha em um mar de inimigos. A torre de assalto dos ciclopes estava atirando balas de canhão de um verde brilhante na cidade, abrindo crateras no fórum, reduzindo casas à ruína. Enquanto Percy assistia, uma bala de canhão atingiu a Casa do Senado e o domo caiu parcialmente.
— Chegamos muito tarde — disse Hazel.
— Não — Percy falou — eles ainda estão lutando. Podemos fazer isso.
— Onde está Lupa? — perguntou Frank, o desespero tomando a sua voz. — Ela e os lobos... eles deveriam estar aqui.
Percy pensou no seu tempo com a deusa loba. Ele havia começado a respeitar os seus ensinamentos, mas também aprendeu que os lobos tinham limites. Eles não eram lutadores de linha de frente. Só atacavam quando tinham uma vasta superioridade numérica, e usualmente sob a cobertura da escuridão. Além do mais, a primeira regra de Lupa era a autossuficiência. Ela iria ajudar as suas crias o máximo que pudesse, treiná-las para lutar – mas no fim, elas seriam presa ou predador. Romanos tinham que lutar por si mesmos. Eles tinham que provar o seu valor ou morrer. Esse era o caminho de Lupa.
— Ela fez o que pôde — disse Percy. — Atrasou os inimigos no seu caminho ao sul. Agora é por nossa conta. Temos que levar a águia dourada e essas armas para a legião.
— Mas Arion está sem combustível! — disse Hazel. — Não podemos arrastar estas coisas nós mesmos.
— Talvez não precisemos.
Percy verificou os cumes das colinas. Se Tyson havia recebido a sua mensagem de sonho em Vancouver, a ajuda talvez estivesse próxima. Ele assobiou o mais forte que pôde – um bom assobio de táxi nova iorquino que poderia ser ouvido desde a Times Square até o Central Park.
Sombras ondularam entre as árvores. Uma grande sombra negra se formou do nada – um mastim do tamanho de um utilitário esportivo, com um ciclope e uma harpia nas costas.
— Cão infernal! — Frank cambaleou para trás.
— Está tudo bem! — Percy sorriu. — Eles são amigos.
— Irmão! — Tyson desmontou e correu em direção a Percy.
Percy tentou se preparar, mas não foi muito bem. Tyson trombou nele e suavizou com um abraço. Por alguns segundos, Percy só podia ver pontos pretos e montes de flanela. Então Tyson o deixou e riu com deleite, olhando Percy de cima com seu enorme olho castanho de bebê.
— Você não está morto! Eu gosto quando você não está morto!
Ella voou para o chão e começou a arrumar suas penas.
— Ella encontrou um cachorro — anunciou. — Um cachorro grande. E um ciclope.
Ela estava corando? Antes que Percy pudesse decidir, sua grande cadela pulou nele, derrubando Percy no chão e latindo tão alto que até Arion recuou.
— Ei, Sra. O’Leary — disse Percy. — Sim, eu também te amo, garota. Boa cadela.
Hazel deu um chiado.
— Você tem um cão infernal chamado Sra. O’Leary?
— Longa história — Percy conseguiu ficar de pé e limpar a baba de cachorro. — Você pode perguntar ao seu irmão...
Sua voz tremeu quando viu a expressão de Hazel. Ele quase esqueceu que Nico di Angelo estava desaparecido.
Hazel havia lhe dito o que Tânatos havia falado sobre buscar as Portas da Morte em Roma, e Percy estava ansioso por encontrar Nico pelas suas próprias razões – para apertar o pescoço do garoto por fingir que não conhecia Percy na primeira vez que chegou ao acampamento. Ainda assim, ele era irmão de Hazel, e encontrá-lo era conversa para outra hora.
— Desculpe. Mas sim, esta é minha cadela, Sra. O’Leary. Tyson... estes são meus amigos, Frank e Hazel.
Percy se virou para Ella, que estava alisando suas penas.
— Você está bem? — perguntou. — Nós estávamos preocupados com você.
— Ella não é forte — ela disse. — Ciclopes são fortes. Tyson encontrou Ella. Tyson cuidou de Ella.
Percy arqueou as sobrancelhas. Ella estava corando.
— Tyson — disse ele. — Você é um grande encantador, você...
Tyson se tornou da mesma cor que a plumagem de Ella.
— Hum... Não — ele se inclinou para baixo e sussurrou nervosamente, alto o suficiente para que todos os outros pudessem ouvir. — Ela é bonita.
Frank deu um tapa em sua própria testa, como se estivesse com medo que sua cabeça tivesse dado um curto-circuito.
— De qualquer forma, tem essa batalha acontecendo.
— Certo — Percy concordou. — Tyson, onde está Annabeth? Tem alguma outra ajuda vindo?
Tyson fez beicinho. Seu grande olho castanho ficou nublado.
— O grande barco ainda não está pronto. Leo diz amanhã, talvez dois dias. Então eles virão.
— Nós não temos nem dois minutos — disse Percy. — Bem, este é o plano.
Tão rápido como ele pôde, apontou quem eram os caras bons e maus no campo de batalha. Tyson ficou alarmado ao saber que haviam ciclopes maus e centauros maus no exército inimigo.
— Eu tenho que bater em homens-pônei?
— Só os faça fugir de medo — disse Percy.
— Hum, Percy? — Frank olhou para Tyson com agitação. — Eu só... não quero que o nosso amigo aqui fique ferido. Tyson é um lutador?
Percy sorriu.
— Se ele é um lutador? Frank, você está olhado para o General Tyson do Exército Ciclope. E por falar nisso, Tyson, Frank é um descendente de Poseidon.
— Irmão! — Tyson amassou Frank em um abraço.
Percy abafou o riso.
— Na verdade, ele é mais como um tatara-tatara... Oh, esqueça. Sim, ele é o seu irmão.
— Obrigado — murmurou Frank através de um bocado de flanela. — Mas se a legião confundir Tyson com um inimigo...
— Eu cuido disso! — Hazel correu para a biga e cavou o maior elmo romano que  pôde encontrar, e mais uma velha bandeira romana bordada com SPQR. Ela os entregou para Tyson. — Coloque esses, garotão. Então os nossos amigos vão saber que você é do nosso time.
— Sim! — disse Tyson. — Estou no seu time!
O elmo era ridiculamente pequeno, e ele colocou a capa ao contrário, como um babador SPQR.
— Isso vai dar conta — Percy falou. — Ella, apenas fique aqui. Fique segura.
— Segura — repetiu Ella. — Ella gosta de estar segura. Segurança em números. Depósitos de segurança. Ella vai com Tyson.
— Quê? — disse Percy. — Oh... bem. Só não se machuque. E Sra. O’Leary...
— ROOOF!
— Como você se sente puxando uma biga?






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