quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XVIII - Hazel






— HAZEL! — FRANK AGITOU SEUS BRAÇOS, parecendo em pânico. — Vamos lá, por favor! Acorde!Ela abriu os olhos. O céu noturno brilhou com as estrelas. O balanço do barco tinha ido embora. Ela encontrava-se deitada em terra firme, sua espada e bolsa colocadas ao seu lado.Ela sentou-se, tonta, a cabeça girando. Estavam em um penhasco com vista para uma praia. Cerca de cem metros de distância, o oceano brilhava ao luar. A rebentação banhava suavemente a popa do barco encalhado. À sua direita, abraçando a beira do precipício, havia uma igreja com uma luz de busca no campanário. Um farol, Hazel supôs. Atrás deles, campos de grama alta farfalhavam ao vento.— Onde estamos?Frank expirou.— Graças aos deuses você está acordada! Nós estamos em Mendocino, cerca de duzentos e oitenta quilômetros ao norte da Golden Gate.— Duzentos e oitenta quilômetros? — Hazel gemeu. — Fiquei fora por quanto tempo?Percy ajoelhou-se ao lado dela, o vento do mar varrendo seu cabelo. Ele colocou a mão em sua testa, como se conferindo se havia uma febre.— Não pudemos acordá-la. Decidimos então trazê-la em terra firme. Nós pensamos que talvez o enjoo...— Não foi nenhum enjoo.Ela respirou fundo. Não podia mais esconder a verdade deles. Ela se lembrou do que Nico tinha dito: Se um flashback assim acontecer enquanto você estiver em combate...— Eu... Eu não fui honesta com vocês — disse ela. — O que aconteceu foi um desmaio. Eu os tenho de vez em quando.— Um desmaio? — Frank pegou a mão de Hazel, ela se assustou... embora tenha sido agradável. — É um problema médico? Por que eu não notei isso antes?— Eu tento escondê-lo — ela admitiu. — Tive sorte até agora, mas está ficando pior. Não é problema médico... não realmente. Nico disse que é um efeito colateral do meu passado. De onde ele me encontrou.Os olhos verdes intensos de Percy eram difíceis de ler. Ela não saberia dizer se ele estava preocupado ou cauteloso.— Onde exatamente Nico te encontrou? — perguntou.A língua de Hazel parecia uma lixa. Estava com medo de que se começasse a falar, mergulharia de novo no passado, mas eles mereciam saber. Se ela falhasse nessa missão, perdesse a consciência quando mais precisassem dela... ela não poderia suportar essa ideia.— Eu explicarei — prometeu. Ela tateou através de sua bolsa. Tinha estupidamente esquecido de trazer uma garrafa de água. — Hã... há qualquer coisa para eu beber?— Sim — Percy murmurou uma maldição em grego. — Isso foi idiota. Deixei meus suprimentos lá em baixo no barco.Hazel se sentiu mal ao pedir para que eles cuidassem dela, mas tinha acordado com muita sede e exausta, como se tivesse vivido as últimas horas tanto no passado como no presente.Ela colocou nos ombros sua mochila e espada.— Não se preocupem. Eu posso andar...— Nem pense nisso — disse Frank. — Não até que você tenha um pouco de comida e água. Eu pegarei os suprimentos.— Não, eu irei — Percy olhou de relance para mãos de Frank nas de Hazel. Então examinou o horizonte, como se sentisse que havia algum problema, mas não havia nada para ver – apenas o farol e o campo de grama que se estendia para o interior. — Vocês dois podem ficar aqui. Volto daqui a pouco.— Você tem certeza? — disse Hazel debilmente. — Eu não quero que você...— Está tudo bem — disse Percy. — Frank, apenas mantenha seus olhos bem abertos. Há algo sobre esse lugar... eu não sei.— Vou mantê-la em segurança — prometeu Frank.Percy saiu apressado.Uma vez que estavam sozinhos, Frank pareceu perceber que ainda estava segurando a mão de Hazel. Ele limpou a garganta e soltou-a.— Eu, hum... Acho que entendo seus desmaios — ele disse. — E de onde você vem.O coração dela acelerou.— Você entende?— Você parece tão diferente das outras meninas que conheci. — Ele piscou e então se apressou em dizer. — Não como... diferente para ruim. Apenas a maneira que você fala. As coisas que me surpreendem em você – como as músicas, ou programas de TV ou seu modo de falar. Você fala de sua vida como se ela tivesse acontecido há muito tempo atrás. Você nasceu em um tempo diferente, não é? Você veio do Mundo Inferior.Hazel queria chorar. Não por que ela estava triste. Mas por que era um alívio para ela ouvir alguém dizer a verdade. Frank não agiu transtornado ou com medo. Ele não olhou para ela como se fosse um fantasma ou um zumbi morto-vivo terrível.— Frank, eu...— Nós entenderemos isso — ele prometeu. — O que importa é que você está viva agora. E nós a manteremos dessa maneira.A grama atrás deles farfalhava. Os olhos de Hazel piscaram no vento frio.— Eu não mereço um amigo como você — ela disse. — Você não sabe o que sou... o que eu fiz.— Pare com isso! — disse Frank carrancudo. — Você é formidável! Além disso, você não é a única que possui segredos.Hazel olhou fixamente para ele.— Eu não sou?Frank começou a dizer algo. Então enrijeceu.— Que foi? — Perguntou Hazel.— O vento parou.Ela olhou ao seu redor e notou que ele estava certo. O ar tornou-se perfeitamente imóvel.— E...? — ela perguntou.Frank engoliu em seco.— Então por que a grama ainda continua em movimento?Pelo canto do olho, Hazel viu formas escuras ondularem através do campo.— Hazel! — Frank tentou agarrar os braços dela, mas já era tarde demais.Algo bateu nele por trás. Então uma força como um furacão de grama a envolveu, arrastando-a para dentro dos campos.

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