quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XXXII - Hazel






A CADEIA DAS AMAZONAS ERA NO TOPO DE um corredor de armazenamento, à dezoito metros no ar.
Kinzie subiu três escadas diferentes até uma passarela de metal, então amarrou as mãos de Hazel folgadamente atrás das costas e a empurrou ao longo das caixas de joias.
Trinta metros na frente, sob o duro brilho das luzes fluorescentes, havia uma fileira de gaiolas penduradas por cabos. Percy e Frank estavam em duas das gaiolas, conversando um com o outro em tons silenciosos. Perto deles, na passarela, três guardas Amazonas que pareciam chateadas inclinavam-se contra as suas lanças e olhavam uns retângulos pretos como se estivessem lendo.
Hazel pensou que os retângulos pareciam finos demais para livros. Então lhe ocorreu que eles podiam ser um certo tipo de... como mesmo que as pessoas modernas os chamam? Tablet. Tecnologia Amazona Secreta, talvez. Hazel achou a ideia quase tão inquietante quanto a batalha de empilhadeiras lá embaixo.
— Mexa-se, garota — Kinzie ordenou, alto o bastante para as guardas ouvirem.
Ela cutucou Hazel nas costas com a sua espada. Hazel andou tão devagar quanto podia, mas a mente dela estava a mil. Ela precisava surgir com um plano brilhante de resgate. Até ali ela não tinha nada. Kinzie tinha certeza que Hazel poderia desamarrar o nó facilmente, mas ela ainda estaria de mãos vazias contra três guerreiras bem treinadas, e tinha que agir antes que elas a pusessem na jaula.
Ela passou por uma pilha de caixas marcadas ANÉIS DE TOPÁZIO AZUIS 24-QUILATES, e outra etiquetada com BRACELETES DE PRATA DA AMIZADE. Lia-se em um display eletrônico próximo dos braceletes: Pessoas que compram esse item também compram GNOMOS DE JARDIM PARA PÁTIOS e LANÇAS ARDENTES DA MORTE. Compre todos os três itens e economize 12%!
Hazel congelou. Deuses do Olimpo, como ela era estúpida.
Prata. Topázio. Ela estendeu os seus sentidos, procurando por metais preciosos, e o cérebro dela quase explodiu com a resposta. Ela estava parada perto de uma montanha de seis metros de joias. Mas na frente dela, dali até as guardas, não havia nada a não ser jaulas de prisioneiros.
— O que é isso? — Kinzie sibilou. — Continue se mexendo! Elas vão ficar desconfiadas.
— Faça-as virem aqui — Hazel murmurou por cima do seu ombro.
— Por que...
— Por favor.
As guardas franziram a testa na direção delas.
— O que vocês estão olhando? — Kinzie gritou para elas. — Aqui está a terceira prisioneira. Venham pegá-la.
A guarda mais próxima parou a leitura do seu tablet.
— Por que você não pode andar trinta passos, Kinzie?
— Hum, porque...
— Ooof! — Hazel caiu de joelhos e tentou fazer a sua melhor cara de mareada. — Eu estou me sentindo nauseada! Não consigo... andar. Amazonas... muito... assustadoras.
— Aí está — Kinzie disse para as guardas. — Agora, vocês vão vir pegar a prisioneira, ou eu deveria contar a rainha Hylla que vocês não estão fazendo o seu trabalho?
A guarda mais próxima rolou os olhos e marchou até lá. Hazel tinha esperanças que as outras duas guardas iriam vir também, mas teria que se preocupar com isso mais tarde.
A primeira guarda agarrou o braço de Hazel.
— Ótimo. Eu pegarei a custódia da prisioneira. Mas se eu fosse você, Kinzie, não me preocuparia com Hylla. Ela não será rainha por muito tempo.
— Veremos, Dóris — Kinzie virou-se para sair.
Hazel esperou até seus passos desaparecerem passarela abaixo.
A guarda Dóris puxou o braço de Hazel.
— Bem? Vamos.
Hazel concentrou-se na parede de joias perto dela: quarenta caixas longas de braceletes de prata.
— Não estou... me sentindo muito bem.
— Você não vai vomitar em mim — Dóris grunhiu.
Ela tentou arrancar Hazel do chão, mas Hazel ficou mole, como uma criança fazendo pirraça em uma loja. Perto dela, as caixas começaram a tremer.
— Lulu! — Dóris gritou para uma de suas companheiras. — Me ajude com essa menininha aleijada.
Amazonas chamadas Dóris e Lulu? Hazel pensou. Ok...
A segunda guarda caminhou até lá. Hazel deduziu que esta era a sua melhor chance. Antes que elas pudessem rebocá-la para os seus pés, ela gritou:
 — Ooooh! — e se jogou contra a passarela.
Dóris começou a dizer:
— Oh, me dê uma...
A pilha inteira de joias explodiu com um som que parecia de mil de máquinas caça-níqueis acertando a bolada. Uma onda de braceletes prateados da amizade foram derramados pela passarela, levando Dóris e Lulu para os trilhos. Elas teriam caído até a morte, mas Hazel não era má a esse ponto. Ela convocou algumas centenas de braceletes, os quais saltaram até as guardas e amarraram-se em volta dos seus tornozelos, deixando-as suspensas de cabeça para baixo na margem da passarela, gritando como menininhas.
Hazel virou em direção da terceira guarda. Ela desamarrou o nó, que estava bem frouxo. Pegou uma lança das guardas que tinham caído. Ela era terrível com lanças, mas esperava que a terceira Amazona não soubesse disso.
— Eu deveria matar você daqui? — Hazel rosnou. — Ou você vai me fazer ir até aí?
A guarda virou-se e correu.
Hazel gritou para o lado de Dóris e Lulu.
— Os cartões das Amazonas! Passe-os, a menos que vocês queiram que eu desfaça esses braceletes da amizade e deixe vocês caírem!
Quatro segundos e meio depois, Hazel tinha dois cartões das Amazonas. Ela correu até as jaulas e passou o cartão. As portas abriram.
Frank a olhava com admiração.
— Hazel, aquilo foi... incrível.
Percy concordou.
— Eu nunca mais vou usar joias.
— Exceto essa — Hazel mostrou o colar dele. — Nossas armas e suprimentos estão no final da passarela. Nós deveríamos nos apressar. Daqui a pouco...
Alarmes começaram a soar pela caverna.
— Sim — ela disse — isso iria acontecer. Vamos!

A primeira parte da saída fora fácil. Eles recuperaram suas coisas sem problemas, então começaram a descer escada a baixo. Sempre que um enxame de Amazonas aparecia abaixo deles, demandando a sua rendição, Hazel fazia com que joias encaixotadas explodissem, enterrando os seus inimigos em Cataratas do Niágara de ouro e prata. Quando já estavam no final da escada, acharam uma cena que parecia como um Mardi Gras do Armageddon – Amazonas amarradas até o pescoço em colares de conta, várias outras de cabeça para baixo em uma montanha de brincos de ametistas e uma pilha de charmosos braceletes de prata.
— Você, Hazel Levesque — Frank disse — é completamente inacreditável.
Ela queria beijá-lo ali mesmo, mas eles não tinham tempo. Correram de volta até a sala de tronos. Eles tropeçaram em uma Amazona que devia ser leal a Hylla. Assim que viu os fugitivos, virou-se como se eles fossem invisíveis.
Percy começou a perguntar:
— Que diab...
— Algumas delas querem que nós escapemos — Hazel disse. — Eu explicarei depois.
A segunda Amazona que eles encontraram não fora tão amigável. Estava vestida com a armadura completa, bloqueando a entrada da sala do trono. Ela girou a sua lança na velocidade da luz, mas desta vez Percy estava preparado. Ele puxou Contracorrente e entrou na batalha. Assim que a Amazona o golpeou, ele foi para o lado, cortou a haste da lança ao meio e bateu o punho da sua espada contra o seu capacete.
A guarda ficou amarrotada.
— Santo Marte — Frank disse. — Como você... aquilo não foi nenhuma técnica romana!
Percy sorriu.
— Os gregos tem alguns movimentos, meu amigo. Depois de você.
Eles correram para dentro da sala do trono. Como prometido, Hylla e suas guardas tinham esvaziado o local. Hazel correu até a jaula de Arion e passou o cartão das Amazonas na fechadura. Instantaneamente o garanhão irrompeu para fora, relinchando em triunfo.
Percy e Frank cambalearam para trás.
— Hum... essa coisa é mansa ? — Frank disse.
O cavalo relinchou com raiva.
— Acho que não — Percy presumiu. — Ele acabou de dizer, “Eu vou pisar em você até a morte, bebezinho chinês canadense.”
— Você fala cavalês? — Hazel perguntou.
— Bebezinho? — Frank balbuciou.
— Falar com cavalos é uma coisa de Poseidon — Percy respondeu. — Hum, quero dizer uma coisa de Netuno.
— Então você e Arion vão se dar bem — Hazel disse. — Ele é um filho de Netuno também.
Percy ficou pálido.
— Como é?
Se eles não estivessem em uma situação má, a expressão de Percy poderia tê-la feito rir.
— A questão é, ele é rápido. Pode nos tirar daqui.
Frank não parecia assustado.
— Três de nós não podem caber em um cavalo, podemos? Nós iremos cair dele, ou atrasá-lo, ou...
Arion relinchou de novo.
— Ai — Percy disse. — Frank, o cavalo disse que você é um... você sabe, na verdade, eu não vou traduzir aquilo. De qualquer forma, disse que há uma biga no depósito, e está disposto a puxar aquilo.
— Ali! — alguém gritou dos fundos da sala do trono. Uma dúzia de Amazonas entrou, seguidas por homens em macacões laranja. Quando viram Arion, eles recuaram rapidamente e foram para a pilha de braceletes.
Hazel pulou nas costas de Arion. Ela sorriu para os seus amigos.
— Eu lembro de ter visto essa biga. Me sigam, garotos!
Ela galopou para dentro da longa caverna e espalhou uma multidão de homens. Percy bateu em uma Amazona. Frank varreu mais duas com a sua lança, fazendo-as ficarem aos seus pés. Hazel podia sentir o esforço de Arion para correr. Eles tinham que conseguir sair.
Hazel foi até a patrulha das Amazonas, que dispersaram em terror ao sinal de um cavalo. Por um segundo, a spatha de Hazel parecia ser do comprimento certo. Ela balançou-a na direção de todos que estavam em seu alcance. Nenhuma Amazona ousou desafiá-la.
Percy e Frank correram atrás dela. Finalmente eles alcançaram a biga. Arion parou para colocar o laço e Percy começou a trabalhar com as rédeas e arreios.
— Você já fez isso antes? — Frank perguntou.
Percy não precisou responder. As suas mãos voaram. Em pouco tempo a biga estava pronta. Ele pulou a bordo e gritou:
— Frank, vamos! Hazel, vá!
Um barulho de batalha ficou para trás deles. Uma armada inteira de Amazonas entrou no depósito. Otrera levantou-se montando em empilhadeira, o seu cabelo prateado flutuava enquanto ela balançava a sua besta montada até a biga.
— Parem eles! — gritou.
Hazel esporeou Arion. Eles correram através da caverna, ziguezagueando em volta de montes e montes de coisas. Uma flecha passou zunindo pela cabeça de Hazel. Alguma coisa explodiu atrás dela, mas ela não olhou para trás.
— As escadas! — Frank gritou. — Sem chance que esse cavalo possa puxar uma biga... AI MEUS DEUSES!
Felizmente as escadas eram largas o bastante para a biga, por que Arion nem sequer diminuiu. Ele subiu os degraus com a biga batendo e gemendo. Hazel olhou para trás algumas vezes para ter certeza que Frank e Percy não tinham caído. Os nós dos dedos deles estavam brancos ao segurar a biga, seus dentes rangendo como crânios de Halloween. Finalmente alcançaram a portaria. Arion atravessou as portas principais para dentro do centro comercial e botou para correr um monte de caras de ternos.
Hazel sentiu a tensão na caixa torácica de Arion. O ar fresco estava deixando-o louco para correr, mas Hazel puxou as suas rédeas.
— Ella! — Hazel gritou para o céu. — Onde está você? Nós precisamos partir!
Por um segundo horrível, ficou aterrorizada que a harpia pudesse ter ido muito longe para ouvi-la. Ela podia ter se perdido ou ter sido capturada pelas Amazonas.
Atrás deles uma empilhadeira moveu-se pelas escadas e rugiu pela portaria, uma multidão de Amazonas atrás dela.
— Rendam-se! — Otrera gritou.
A empilhadeira ergueu seus dentes afiados.
— Ella! — Hazel chorou desesperadamente.
Em um flash de asas vermelhas, Ella pousou na biga.
— Ella está aqui. Amazonas são significativas. Vão agora.
— Segurem-se! — Hazel avisou. Ela inclinou-se para frente e disse: — Arion, corra!
O mundo parecia se arrastar. A luz do sol se curvava em volta deles. Arion disparou para longe das Amazonas e correu pelo centro de Seattle. Hazel olhou para trás e viu uma linha de fumaça na calçada onde os cascos de Arion tinham tocado o chão. Ele trovejou em direção o cais, saltando sobre carros, passando através de cruzamentos.
Hazel gritou à plenos pulmões, mas não foi um grito de prazer. Pela primeira vez na sua vida – nas suas duas vidas – ela se sentiu absolutamente incontrolável. Arion alcançou a água e saltou direto do cais.
Os ouvidos de Hazel estouraram. Ouviu um rugido que ela depois percebeu que era um ruído sônico, e Arion arrancou, as águas do mar transformaram-se em vapor no seu caminho enquanto a linha do céu de Seattle recuava atrás deles.

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