quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capitulo XXXIX - Percy






PERCY SE SENTIU LEVE.
Sua visão ficou turva. Patas agarraram seus braços e o puxaram no ar. Embaixo, as rodas do trem guincharam e o metal colidiu. Copos destruídos. Passageiros gritando.
Quando sua visão clareou, viu o monstro que o estava carregando. Tinha o corpo de uma pantera – suave, negra e felina – com asas e cabeça de uma águia. Seus olhos brilhavam em um tom vermelho sangue.
Percy se contorceu. As garras da frente do monstro estavam envolvendo seus braços como tiras de aço. Ele não conseguia se libertar ou alcançar sua espada. Subiu mais alto e mais alto no vento gelado. Percy não tinha ideia de onde o monstro o estava levando, mas tinha certeza absoluta que não gostaria quando chegasse lá.
Ele gritou – mais por frustração. Então algo assobiou perto de seu ouvido. Uma flecha brotou no pescoço do monstro. A criatura gritou e o largou. Percy caiu, quebrando três galhos até pousar em um monte de neve. Ele grunhiu, olhando para cima, para o pinheiro enorme com que tinha trombado.
Tentou se levantar. Nada parecia quebrado. Frank estava à sua esquerda, derrubando as criaturas o mais rápido que podia. Hazel estava atrás dele, girando sua espada para qualquer monstro que chegasse perto, mas havia muitos fervilhando ao redor deles – pelo menos uma dúzia.
Percy pegou Contracorrente. Ele fatiou a asa de um monstro e o mandou espiralando para uma árvore, então fatiou outro, que virou pó. Mas os derrotados começaram a se reformar imediatamente.
— O que são essas coisas?
— Grifos! — Hazel respondeu. — Temos que afastá-los do trem!
Percy viu o que ela queria dizer. Os vagões do trem tinham caído e seus tetos tinham sido esmagados. Os turistas estavam tropeçando em choque. Percy não viu ninguém seriamente ferido, mas os grifos estavam mergulhando na direção de qualquer coisa que se mexia. A única coisa que os mantinha longe dos mortais era um guerreiro brilhante de cinza camuflado – o spartus de estimação de Frank.
Percy olhou e notou que a lança de Frank se fora.
— Usou sua última carga?
— É — Frank acertou outro grifo no céu. — Tive que ajudar os mortais. A lança simplesmente se dissolveu.
Percy assentiu. Parte dele ficou aliviada. Ele não gostava do guerreiro esqueleto. Parte dele ficou desapontada. Porque era uma arma a menos que eles tinham à disposição. Mas não era culpa de Frank. Frank tinha feito a coisa certa.
— Vamos mudar a luta de lugar! — Percy disse. — Longe dos trilhos!
Eles tropeçaram pela neve, esmagando e dilacerando grifos que se reformavam do pó toda vez que eram mortos.
Percy não havia tido experiência alguma com grifos. Sempre os imaginou como enormes animais nobres, como leões com asas, mas essas coisas o lembravam mais um bloco de caçadores – hienas voadoras.
A cerca de cinco metros dos trilhos, as árvores davam para um pântano aberto. O chão estava tão esponjoso e gelado que Percy sentiu que estava correndo dentro de um plástico bolha. Frank estava sem flechas. Hazel estava respirando pesado. A própria espada de Percy oscilava, deixando-o lento. Ele percebeu que só estavam vivos porque os grifos não estavam tentando matá-los. Os grifos queriam pegá-los e carregá-los para algum lugar.
Talvez para seus ninhos, Percy pensou.
Então ele tropeçou em alguma coisa na grama alta – um círculo de sucata de metal do tamanho de um pneu de trator. Era um ninho de pássaros enorme – o ninho de um grifo – o centro cheio de peças antigas de joias, uma adaga de ouro imperial, um distintivo de centurião amassado e dois ovos do tamanho de abóboras que pareciam ser feitos de ouro de verdade.
Percy pulou no ninho. Ele pressionou a ponta da espada contra um dos ovos.
— Para trás, ou eu quebro isso!
Os grifos grasnaram furiosos. Eles rodaram pelo ninho e estalaram os bicos, mas não atacaram. Hazel e Frank ficaram costa a costa com Percy, as armas prontas.
— Os grifos colecionam ouro — Hazel disse. — São loucos por isso. Olha... mais ninhos ali.
Frank colocou sua última flecha no arco.
— Então se esses são os ninhos, para onde eles estavam tentando levar Percy? Essa coisa estava fugindo com ele.
Os braços de Percy latejavam onde o grifo tinha agarrado ele.
— Alcioneu — ele adivinhou. — Talvez estejam trabalhando para ele. Essas coisas são espertas o bastante para obedecer a ordens?
— Não sei — Hazel disse. — Nunca lutei com eles quando morei aqui. Só li sobre eles no acampamento.
— Fraquezas? — Frank perguntou. — Por favor me diga que eles têm fraquezas.
Hazel fez uma careta.
— Cavalos. Eles odeiam cavalos – inimigos naturais, ou algo assim. Queria que Arion estivesse aqui!
Os grifos grasnaram. Eles rodearam o ninho com seus olhos vermelhos brilhando.
— Pessoal — Frank chamou, nervoso — estou vendo relíquias da legião nesse ninho.
— Eu sei — Percy disse.
— O que quer dizer que outros semideuses morreram aqui, ou...
— Frank, vai ficar tudo bem — Percy prometeu.
Um dos grifos mergulhou. Percy ergueu a espada, pronto para destruir o ovo. O monstro recuou, mas os outros grifos estavam perdendo a paciência. Percy não podia mantê-los longe por muito tempo.
Ele olhou para os campos, desesperadamente tentando formular um plano. A cerca de 400 metros de distância, um gigante hiperbóreo estava sentado no pântano, pacificamente tirando lama de entre os dedos com um tronco quebrado de árvore.
— Tive uma ideia — Percy comunicou. — Hazel... todo o ouro naqueles ninhos. Acha que pode usá-los para causar uma distração?
— Eu... acho que sim.
— Só nos dê tempo o suficiente de vantagem. Quando eu disser vão, corram para o hiperbóreo.
Frank ficou boquiaberto.
— Você quer que a gente corra na direção do hiperbóreo?
— Acredite em mim — Percy disse. — Prontos? Vão!
Hazel ergueu a mão. De uma dúzia de ninhos no pântano, objetos dourados foram lançados no ar – joias, armas, moedas, pepitas de ouro e os mais importantes: ovos de grifo. Os monstros grasnaram e voaram para os ovos, frenéticos para salvá-los.
Percy e seus amigos correram. Seus pés espirravam e trituraram o pântano congelado. O semideus correu mais rápido, mas podia ouvir os grifos chegando perto deles, e agora os monstros estavam realmente furiosos.
O gigante do norte ainda não tinha notado a comoção. Estava inspecionando os dedos procurando por lama, seu rosto sonolento e pacífico, o bigode cintilando com cristais de gelo. Em seu pescoço estava um colar de objetos encontrados – latas de lixo, portas de carro, chifres de alce, até uma privada. Aparentemente ele não tinha se limpado muito bem.
Percy odiou perturbá-lo, especialmente porque significava que teriam que se abrigar debaixo das coxas do gigante, mas eles não tinham muita escolha.
— Debaixo! — ele disse a seus amigos. — Engatinhem para baixo dele!
Eles se envolveram entre as pernas azuis gigantes e se achataram na lama, engatinhando o mais perto que puderam da tanga do gigante. Percy tentou respirar pela boca, mas aquele não era o esconderijo mais agradável.
— Qual é o plano? — Frank sussurrou. — Ser achatado por um traseiro azul?
— Fale baixo — Percy disse. — Só se mexa se precisar.
Os grifos chegaram em uma onda de bicadas, garras e asas furiosas rodeando o gigante, tentando entrar debaixo de suas pernas. O gigante retumbou de surpresa. Ele mudou de lugar. Percy teve que rolar para evitar ser esmagado pelo enorme traseiro peludo. O hiperbóreo grunhiu um pouco mais irritado. Golpeou os grifos, mas eles grasnaram de ultraje e começaram a bicas suas pernas e mãos.
— Hã? — o gigante berrou. — Há!
Ele inspirou profundamente e lançou uma onda de ar gelado. Até debaixo da proteção das pernas do gigante, Percy sentiu a temperatura cair. Os guinchos dos grifos pararam abruptamente, substituído pelo tof, tof, tof de objetos pesados caindo na lama.
— Vamos — Percy disse a seus amigos. — Com cuidado.
Eles se contorceram saindo debaixo do gigante. Tudo ao redor do pântano, até as árvores, estavam envidraçadas de gelo. Uma faixa enorme do pântano estava coberta de neve fresca. Grifos congelados estavam estendidos no chão como picolés de penas, as asas ainda extensas, bicos abertos e olhos largos de surpresa.
Percy e seus amigos se afastaram cambaleando, tentando se manter fora da visão do gigante, mas o garotão estava muito ocupado para notá-los. Estava tentando descobrir como amarrar um grifo congelado no colar.
— Percy... — Hazel limpou o gelo e lama do rosto. — Como você sabia que o gigante podia fazer isso?
— Eu quase fui acertado pelo sopro de um hiperbóreo uma vez — ele disse. — É melhor irmos. Os grifos não vão ficar congelados para sempre.

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