quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XIV - Percy






PERCY TINHA VISTO FRANK CERCADO por ogros canibais, derrotar um gigante invencível e até libertar Tânatos, o deus da morte. Mas ele nunca tinha visto o olhar de Frank tão aterrorizado como estava agora ao encontrar os dois deitados nos estábulos.
— O que...? — Percy esfregou os olhos. — Oh, nós só adormecemos.
Frank estava irreconhecível. Ele estava vestido com tênis, calças escuras e uma camisa das olimpíadas de inverno de Vancouver com o distintivo romano de centurião preso ao pescoço (o que parecia triste ou esperançoso para Percy, agora que eles eram renegados). Frank desviou os olhos como se vê-los juntos pudesse queimá-lo.
— Todos acham que vocês foram sequestrados — disse ele. — Estamos vasculhando o navio. Quando o Treinador Hedge descobrir que... Oh, deuses, vocês estiveram aqui à noite toda?
— Frank! — As orelhas de Annabeth estavam vermelhas como morangos. — Nós só viemos aqui para conversar. Nós adormecemos. Acidentalmente. É isso.
— Nos beijamos algumas vezes — Percy acrescentou.
Annabeth olhou para ele.
— Não está ajudando!
— É melhor... — Frank apontou para as portas do estábulo. — Uh, nós devemos ir tomar café da manhã. Poderia explicar o que você fez, quero dizer, não fez? Quer dizer... eu... eu realmente não quero que o fauno, quero dizer, sátiro, me mate — Frank correu.
Quando todos finalmente se reuniram no refeitório, não foi tão ruim quanto Frank temia. Jason e Piper estavam na maior parte aliviados. Leo não podia parar de sorrir e murmurar:
― Clássico. Clássico.
Só Hazel parecia escandalizada, talvez porque ela fosse da década de 1940. Manteve seu rosto baixo e não encontrou os olhos de Percy. Naturalmente, o treinador Hedge foi ríspido, mas Percy achava difícil levar o sátiro a sério já que ele tinha apenas um metro e trinta centímetros de altura.
— Nunca na minha vida! — berrou o treinador, agitando seu bastão e derrubando um prato de maçãs. — Contra as regras! Irresponsável!
— Treinador — Annabeth disse — foi um acidente. Nós estávamos conversando e caímos no sono.
— Além disso — Percy acrescentou — você está começando a soar como Términus.
Hedge estreitou seus olhos.
— Isso é um insulto, Jackson? Porque eu vou, eu vou terminar com você, amigo!
Percy tentou não rir.
— Isso não vai acontecer de novo, treinador. Eu prometo. Agora, não temos outras coisas para discutir?
Hedge desabafou.
— Tudo bem! Mas eu estou de olho em você, Jackson. E você, Annabeth Chase, pensei que tinha mais bom senso.
Jason limpou a garganta.
— Então peguem um pouco de comida, todos. Vamos começar.
O encontro foi como um conselho de guerra com rosquinha. Percy lembrou-se do Acampamento Meio-Sangue, que costumava ter as discussões mais sérias em torno da mesa de pingue-pongue na sala de recreação com bolachas e creme de amendoim. Então se sentiu em casa.
Ele lhes disse sobre seu sonho: os gigantes gêmeos planejando uma recepção para eles em um estacionamento subterrâneo com lança-foguetes; Nico di Angelo preso em um pote de bronze, lentamente morrendo de asfixia com sementes de romã em seus pés.
Hazel sufocou um soluço.
— Nico... Oh, deuses. As sementes.
— Você sabe o que são? — Annabeth perguntou.
Hazel assentiu.
— Ele mostrou para mim uma vez. Elas são do jardim da nossa madrasta.
— Sua madras... Oh — Percy disse. — Você quer dizer Perséfone.
Percy tinha encontrado a mulher de Hades uma vez. Ela não tinha sido exatamente quente e ensolarada. Ele esteve também em seu jardim no Mundo Inferior, um lugar assustador cheio de árvores e flores de cristal que florescem em vermelho sangue e branco fantasma.
— As sementes são um alimento de último recurso — Hazel explicou.
Percy poderia dizer que ela estava nervosa, porque todos os talheres sobre a mesa começaram a se mover em direção a ela.
— Apenas as crianças de Hades podem comê-las. Nico sempre as guardou para algum caso em que ficasse preso em algum lugar. Mas só se estiver realmente preso.
— Os gigantes estão tentando nos atrair — Annabeth disse. — Eles estão supondo que vamos tentar resgatá-lo.
— Bem, eles estão certos! — Hazel olhou ao redor da mesa, sua confiança, aparentemente, desmoronando. — Não vamos?
— Sim! — Treinador Hedge gritou com um bocado de guardanapos. — Isso vai envolver luta, certo?
— Hazel, é claro que vamos ajudá-lo — Frank falou. — Mas quanto tempo temos antes... Uh, quero dizer, quanto tempo Nico pode aguentar?
— Uma semente por dia — disse Hazel miseravelmente. — Isto é, se ele se colocar em um transe da morte.
— Um transe da morte? — Annabeth fez uma careta. — Isso não soa divertido.
— O impede de consumir todo o ar. Como hibernação, ou coma. Uma semente pode sustentar um dia apenas.
— E ele tem cinco sementes de reserva — Percy observou. — O que significa cinco dias, incluindo hoje. Os gigantes devem ter planejado dessa forma, então nós teríamos que chegar em primeiro de julho. Assumindo que Nico está escondido em algum lugar em Roma...
— Isso não é muito tempo — Piper resumiu. Ela colocou a mão no ombro de Hazel. — Nós vamos encontrá-lo. Pelo menos sabemos o que as linhas da profecia dizem agora. Gêmeos ceifaram do anjo a vida, que detém a chave para a morte infinita. O sobrenome de seu irmão é di Angelo. Angelo é o italiano para "anjo".
— Oh, deuses — Hazel murmurou. — Nico...
Percy olhou para sua rosquinha com geleia. Tinha experiências ruins com Nico di Angelo. O cara o tinha enganado uma vez para visitar o palácio de Hades e Percy terminou em uma cela. Mas a maior parte do tempo, Nico estava do lado dos mocinhos. Certamente não merecia morrer lentamente de asfixia em uma jarra de bronze e Percy não podia ficar vendo Hazel sofrer.
— Nós vamos resgatá-lo — prometeu a ela. — Nós temos que resgatá-lo. A profecia diz que ele possui a chave para morte infinita.
— Isso é certo — Piper concordou, encorajando. — Hazel, seu irmão foi procurar as Portas da Morte no Mundo Inferior, certo? Ele deve ter encontrado.
— Ele pode nos dizer onde as portas estão — Percy disse — e como fechá-las.
Hazel tomou uma respiração profunda.
— Sim. Tudo bem.
— Uh... — Leo se mexeu na cadeira. — Uma coisa. Os gigantes estão esperando que façamos algo, certo? Então estamos caminhando para uma armadilha?
Hazel olhou para Leo como se ele tivesse feito um gesto rude.
— Nós não temos escolha!
— Não me leve a mal, Hazel. É que o seu irmão, Nico... ele sabia sobre os dois Acampamentos, certo?
— Bem, sim.
— Ele está indo e voltando — Leo disse — e ele não disse nada a ambos os lados.
Jason se inclinou para frente, sua expressão sombria.
— Você está se perguntando se podemos confiar no cara. Eu também estou.
Hazel ficou de pé.
— Eu não acredito nisso. Ele é meu irmão. Me trouxe de volta do Mundo Inferior e vocês não querem ajudá-lo?
Frank colocou a mão em seu ombro.
— Ninguém está dizendo isso — ele olhou para Leo — ninguém tinha que estar, melhor dizendo.
Leo piscou.
— Olha, pessoal. Tudo o que eu quero dizer é...
— Hazel — disse Jason. — Leo está levantando um ponto justo. Lembro-me de Nico no Acampamento Júpiter. Agora eu descobri que ele também visitou o Acampamento Meio-Sangue. Isso me parece... Bem, um pouco sombrio. Será que realmente sabemos onde está sua lealdade? Só temos que ter cuidado.
Hazel balançou os braços. Uma bandeja de prata passou zumbido em sua direção e bateu na parede a sua esquerda, espalhando os ovos mexidos.
— Você... O grande Jason Grace... O pretor deveria ser justo, um líder bom. E agora você ... — Hazel bateu o pé e saiu do refeitório.
— Hazel! — Leo chamou depois dela sair. — Ah, caramba. Eu deveria...
— Você já fez o suficiente — Frank resmungou.
Ele levantou-se para segui-la, mas Piper apontou para ele esperar.
— Dê-lhe tempo — Piper aconselhou. Então, ela franziu a testa para Leo e Jason. — Vocês dois, isso foi muita frieza.
Jason parecia chocado.
— Frio? Estou apenas sendo cauteloso!
— O irmão dela está morrendo — Piper objetou.
— Eu vou falar com ela — Frank insistiu.
— Não — disse Piper. — Deixe-a se acalmar primeiro. Confie em mim. Vou ver como ela está em alguns minutos.
— Mas... — Frank bufou como um urso irritado. — Tudo bem. Eu vou esperar.
Lá de cima veio um zumbido como uma broca gigante.
— É Festus — Leo falou. — Eu o coloquei no piloto automático, mas nós devemos estar nos aproximando de Atlanta. Eu irei subir... uh, assumindo que nós sabemos onde pousar.
Todos se voltaram para Percy.
Jason levantou uma sobrancelha.
— É com você, Capitão Água Salgada. Ideias do expert?
Era o ressentimento em sua voz? Percy se perguntou se Jason estava secretamente irritado sobre o duelo no Kansas. Jason tinha brincado sobre isso, mas Percy percebeu que ambos nutriam um pouco de rancor. Você não pode colocar dois semideuses em uma luta e não tê-los se perguntando quem era mais forte.
— Eu não tenho certeza — ele admitiu. — Em algum lugar central, no alto, para que possamos ter uma boa visão da cidade. Talvez um parque com algumas árvores? Nós não queremos desembarcar um navio de guerra no meio do centro da cidade. Duvido que mesmo a Névoa possa encobrir algo que é enorme.
Leo assentiu.
— É para já — ele correu para as escadas.
Frank recostou-se na cadeira, inquieto. Percy se sentia mal por ele. Na viagem para o Alasca, ele tinha visto Hazel e Frank ficarem mais próximos. Ele sabia o quão protetor Frank se sentia em relação a ela. Também notou o olhar sinistro que Frank estava dando a Leo. Decidiu que seria uma boa ideia para Frank ficar fora do navio por um tempo.
— Quando chegar a terra, vou explorar em torno de Atlanta — Percy disse. — Frank, eu poderia usar a sua ajuda.
— Você quer dizer me transformar em um dragão de novo? Honestamente, Percy, eu não quero passar toda a busca sendo táxi voador de todos.
— Não — disse Percy. — Eu quero você comigo, porque você tem o sangue de Poseidon. Talvez possa me ajudar a descobrir onde encontrar água salgada. Além disso, você é bom em uma luta.
Isto pareceu fazer Frank se sentir um pouco melhor.
— Claro. Eu acho.
— Ótimo — disse Percy. — Devemos ter mais um. Annabeth...
— Oh, não! — O treinador Hedge ladrou. — Jovem, você está de castigo.
Annabeth olhou para ele como se ele estivesse falando uma língua estrangeira.
— Desculpe-me?
— Você e Jackson não vão a lugar nenhum juntos! — Hedge insistiu. Ele olhou para Percy, desafiando-o . — Eu vou com Frank e o Sr. Sorrateiro Jackson. O resto de vocês proteja o navio e verifique se Annabeth não vai violar mais as regras!
Maravilhoso, Percy pensou. Um dia de garotos com Frank e um sátiro sanguinário, para encontrar água salgada em uma cidade do interior.
— Isto — ele disse — vai ser muito divertido.

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